"Pathos, Logos, Ethos"

Todos os que comunicam e queiram que os seus argumentos, análises, comentários e observações sejam aceites ou respeitados pelos outros deverão cumprir com um conjunto de regras, regras essas mais acentuadas e mais exigentes nas atividades em que, por força das circunstâncias, assim as exigem, nomeadamente no ensino, na arte criativa e no discurso argumentativo.Devemos centrá-las em três grupos, as que dizem respeito ao orador, ao assunto a abordar e às pessoas a quem nos dirigimos.Comecemos pelo orador. Este tem de se apresentar como uma pessoa credível e honesta. Para isso, o seu passado, no que respeita à intervenção cívica, social, política, académica ou profissional, deverá ser minimamente rico e idóneo. Demora a construir. Adquirir competências e conhecimentos leva o seu tempo e exige muito esforço. No fundo constitui o seu Ethos. É bom saber que à partida se goza de algum respeito e admiração. Mas não chega, é necessário avaliar a qualidade do texto ou da exposição, apresentando-o com clareza e simplicidade, o que nem sempre é fácil, porque transformar conceitos mais ou menos complexos em algo que seja percetível exige trabalho. Constitui este capítulo o Logos, a arte de comunicar, que nem sempre é entendível a quem ouve ou lê. Por último, temos as pessoas que nos leem ou ouvem. Aqui as coisas são mais complicadas, pelo simples facto de nem sempre nos apercebermos quem são e ao que vêm. Perante um auditório é possível avaliar o comportamento e as características dos que nos ouvem, facto que nos permite quebrar algum gelo, eliminar alguma desconfiança, tentando, ao mesmo tempo, despertar a atenção de várias maneiras, quer usando um discurso mais apropriado, ou, então, provocando a audiência, incutindo-lhe uma ou outra ideia menos ortodoxa. Enfim, há várias maneiras de mudar e intensificar o discurso. Mas sem uma "visualização" torna-se difícil utilizar com propriedade o Pathos.Tenho uma larga experiência no ensino e na comunicação oral. Agrada-me, embora ainda me assuste tamanha responsabilidade, mas julgo ter conseguido, umas vezes com mais sucesso, outras com menos, atingir os meus objetivos. Atrai-me particularmente a parte da discussão, onde o Ethos, o Logos e o Pathos alcançam os seus verdadeiros significados. Reconheço que, por vezes, não consiga transmitir com propriedade as minhas ideias, facto que me permite no período da discussão realizar uma análise mais interessante e completa. É então que tenho oportunidade de esclarecer o que pretendi transmitir, e dizer o que não pensava dizer e que acaba por vir mesmo a propósito. Este tipo de discurso, ou de abordagem a um tema, só é passível ao vivo face aos interlocutores, já que entram em jogo muitos fatores os quais permitem enriquecer qualquer intervenção.Ethos, Logos e Pathos, três pilares fundamentais para qualquer intervenção argumentativa ou explicativa, que, na minha opinião, tento utilizar com alguma propriedade perante um auditório, ao vivo, mas nem sempre consigo no mundo virtual...

Comentários

  1. Tanto este post como o anterior, por razões diferentes, nunca deveriam ter sido retirados do blog "Quarta República".
    Esta é a minha opinião pessoal e não mais que isso.
    Até porque, estava apreparar um comentário para ambos, que iria ser diferente daqueles que habitualmente coloco.
    ;)
    Caro Professor; eu tenho por princípio, que não são as pessoas que nos desiludem com as suas diferenças, mas sim, somos nós que, ou porque não temos como escreveu anteriormente, a capacidade para os compreender (o que não é evidentemente o seu caso, o Senhor tem um treino exaustivo nessa "arte"), ou porque nos achamos no direito de não deixar que as "parvoices" que nos são dirigidas, nos incomodem, ou porque, a falta de razoabilidade do que nos estão a dizer, é tão evidente... etc.
    Na verdade, caro Professor, nada e ninguém tem o poder capaz de nos obrigar a dialogar com quem diverge dos nossos pontos de vista e das nossas opiniões, sobretudo se não as puder sustentar com argumentos válidos e comprovados.
    Por isso, e aqui me confesso pecador (mea culpa, mea culpa) demasiadas vezes opto pelo escarnio, ou pelo empulamento do absurdo, como forma de chamar atenção do meu interlocutor para a barbaridade daquilo que está a querer fazer valer como certo. É um pecado, volto a confessar, mas um pecado que reflecte a minha incapacidade para argumentar como a veemência necessária, sobre a incoerÊncia ou a invalidez do que está a ser contraposto.
    Mas é claro... nem todos podemos ser Padres António Vieira...
    ;)))
    Quanto àquele rapaz o Caboclo, que tanto o irrita e que à tempos atrás, também me conseguiu irritar, penso que a forma como tenta relacionar-se com os autores e os comentadores, reflecte a necessidade de ser notado e de lhe ser reconhecido o mérito que os seus pontos de vista e opiniões, julga possuirem.
    No entanto, suspeito que por trás daquela aparência deseducada e atrevida, poderá estar alguém que, tal como o caro Professor identificou, tenha passado por momentos amargos na vida, mas que contudo, possua um fundo simpático. Um pouco como aquelas crianças irrequietas e desajustadas que temos de ter muita paciência para conquistar e fazer vir ao de cima o melhor que elas têm escondido lá no fundo.
    Quanto ao "Pathos, Logos, Ethos"... Lembra-se, caro Professor, daquele rapaz da Galileia, que percorria os caminhos, conversando com as pessoas, curando os doentes, ressuscitando os mortos, alimentando os famintos, ensinando o mais puro de todos os sentimentos, o Amor entre os seres Huamnos?
    ;(
    Mataram-no!
    É verdade; apesar de todos conhecerem bem o seu "Ethos"...mataram-no!
    Mas o mais intrigante, ou... o menos esperado, porém o mais coerente com tudo o que esse Homem falou "Logos" é que no momento em que o matavam, rogando à Divindade Suprema, perdão para os seus assassinos "Pathos".
    Este é um mundo estranhíssimo, povoado por seres não menos estranhos, que num determinado momento, são tocados por uma centelha de luz e tornam-se deuses...
    ;)
    Obrigado, sempre obrigado pelos seus fabulosos textos, Caríssimo Amigo!

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  2. Muito obrigado, querido amigo Bartolomeu.
    Garanto-lhe que enviarei tudo o que vier a escrever como pleito de amizade e de muito respeito. É bom ter amigos como o senhor, por vezes basta um para mudar a nossa forma de ver e de estar no mundo. De facto, o Bartolomeu tem esse condão.
    Um forte abraço.
    Salvador

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  3. Um forte abraço também para o Senhor, acompanhado de uma séria evocação do espírito, para que o ajude a ultrapassar com serenidade, a difícil fase de vida que atravessa.
    M.D.

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