A indústria da política

As sociedades, de tempos a tempos, sofrem grandes alterações, dando verdadeiros saltos, criando novas ordens e formas de estar. São os chamados fins de era. Devemos estar numa dessas fases, mas como duramos poucos anos de vida não vamos conseguir distanciar-nos, suficientemente, para ver a mudança em toda a sua plenitude. Daqui a umas décadas, ou mesmo muito mais, haverá quem estude este período e encontre matéria para definir o fim de uma era e o início de outra, período no qual fomos envolvidos sem nos apercebermos do verdadeiro significado do que irá aparecer no futuro. Somos protagonistas de uma mudança sem saber muito bem o que é que irá nascer. A quase totalidade de nós não passa de meros figurantes, mas mesmo assim participamos nos acontecimentos.
Ouço e não compreendo muito bem o radicalismo e as opiniões de diferentes entidades, que, baseados nos seus partidos, ideologias e/ou doutrinas, manifestam uma discrepância tão forte, tão violenta e tão oposta face à realidade que nos ataca no dia-a-dia, como se tivessem a verdadeira solução para os males. Mas quando têm o poder nas mãos, tomam decisões que são de imediato contra-atacadas, sob todos os pontos de vista, pelos restantes. Ponho-me a pensar se não estamos perante sinais de indícios de uma espécie de loucura ou de verdadeira demência social e política. Será que não haverá pontos de acordo quanto à análise e forma de resolver os assuntos prementes que nos atacam? Da forma como são expressas as opiniões e comentários, não! Então, o que é que se está a passar com a política? Às tantas o grande mal da política foi ter-se industrializado. Verifico que a forma como os dirigentes de um povo são eleitos fazem recordar a estratégia das máquinas industriais. A política industrializou-se. Durante as minhas atividades de militante partidário chamou-me muitas vezes a atenção por que é apareciam tantas pessoas, sobretudo quando o poder se aproximava. Algumas via-se mesmo que tinham gosto em participar, mas não era só quando o poder vinha de novo a caminho, surgiam sempre, por serem crentes do valor e importância da política, quanto a outros não tenho tanta certeza.
Os partidos políticos começaram, há muito, a vender os seus produtos. O meu produto é melhor do que a concorrência, compre-o e vai ver que ficará satisfeito. Não senhor, o meu é melhor, mais barato para si, pagará menos impostos, é mais eficiente, não se esqueça que é "dois em um", não é tóxico, é muito mais saudável, compre-o com o seu voto e não ficará desiludido. Para promover os seus produtos, muitos militantes comportam-se como vendedores tentando-os impingir aos cidadãos. E estes compram como se fossem colchões ortopédicos, panelas de pressão ou chás dietéticos. Todos os argumentos servem para convencer. Claro que muitos dos que acabam por comprar os "produtos políticos" ficam desiludidos e viram-se para a concorrência que, usando os mesmos argumentos e técnicas agressivas, tentam cativá-los, ou, então, deixam de ir na onda do "consumismo político". Quanto aos "vendedores" esses permanecem nos quadros da empresa, desfrutando o máximo tempo possível dos proventos que o patrão lhes dá. Depois, ocorre sempre o que acontece com as empresas que entram em falência, vão para o "desemprego", mas procuram voltar sempre à atividade, fazendo os que os seus opositores fizeram e fazem quando estão na oposição. No entanto, é preciso realçar que alguns comportam-se como empresários de excelência, dão o seu melhor, mas não conseguem alcançar determinados objetivos, que é criar riqueza e bem-estar para os seus concidadãos, sejam ou não do mesmo partido, partilhem ou não da mesma ideologia, comunguem ou não da mesma doutrina.
O fim da política tal como conhecemos deve ser uma realidade, mas só no futuro é que se poderá constatar tal mudança, nessa altura não estaremos cá para analisar este fenómeno, mas, com toda a certeza, outra forma de governar e de dirigir os povos terá nascido e deverá ser muito melhor do que aquela que estamos a viver; e a política deixará de ser uma indústria, lucrativa para alguns, enganadora para a maioria, mas sempre uma mina de ouro para garimpeiros. As minas de ouros também se esgotam.

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