Praxe, crime, estado.


Eu acompanhei o caso na altura. Fiquei chocado porque não consigo imaginar o mau uso da praxe, uma forma de iniciação que deve respeitar sempre os direitos dos envolvidos de modo a facilitar a integração num meio novo e criar bases para longas e inesquecíveis amizades. O jovem universitário em causa foi objeto de práticas que lhe provocaram a morte. Nestas circunstâncias mandam as regras que se investigue o caso e que sejam punidos os autores. 
Praticamente tudo o que acontece em nosso redor é rapidamente esquecido e, em certa medida, substituído por outros com prazo de validade muito curto, foi o que aconteceu com este caso.
Hoje li uma notícia sobre este assunto. Fiquei um pouco perplexo, não porque o tribunal de relação do Porto tenha confirmado a decisão do tribunal de primeira instância, obrigando a universidade a indemnizar os pais pela morte do filho, mas por causa do crime em si mesmo. Curioso. O jovem morreu em consequência de práticas violentas cometidas pelos praxistas. O processo-crime foi arquivado. Não houve crime? Não conseguiram encontrar os autores? É assim tão difícil investigar um caso destes? Mau, muito mau. Em contrapartida a universidade tem de pagar a indemnização, porque não acautelou as medidas necessárias para impedir uma coisa destas. Aqui a justiça encontrou os responsáveis. Interessante. Então o que é que deverá ser feito quando alguém morre ou é agredido violentamente e não se encontram os autores? O Estado tem de ser condenado a pagar as respetivas indemnizações porque não tomou as medidas adequadas para impedir as agressões. Não é justo este paralelismo? Eu penso que sim, mas é muito mais fácil saber o que anda na cabeça de um louco, no corpo de um doente ou na alma de qualquer pessoa do que na cabeça dos agentes e administradores da justiça, pelo menos para mim, médico que sofre de dislexia em matéria de justiça...

Comentários

  1. Não venho comentar o assunto das praxes, para o qual não encontro outros adjectivo e forma verbal que melhor o caracterizem, sem ser ridículo e ridicularizante.
    Não conheci as antigas praxes académicas, mas assisti mais recentemente a diversas, em Lisboa, Santarém, etc. e não consigo encontrar no acto, uma ponta de sentido lógico quer do lado dos praxistas, como do lado dos praxados.
    Bom; mas como disse no início, não vim comentar este assunto, mas sim, indagar sobre um outro. O "outro", refere-se ao mistério dos posts desaparecidos. Refiro-me concretamente ao post intitulado «As três irmãs» encabeçado por uma bela ilustração, que mal apareceu, assim desapareceu, sem me dar tempo a lê-lo. Tenho mantida acesa a esperança de o ver surgir neste blog, mas nem isso.
    Será que o caro Professor, desistiu de o partilhar com os seus leitores, ou questões técnicas intrepõem-se ao seu aparecimento?

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