"Dia de sol"...


Falar de um dia de sol no verão é como falar de uma papoila num extenso mar vermelho que todos os anos pintam muitos campos. Mas há sempre algo de diferente, mesmo quando tudo parece igual. Basta olhar, basta tocar, basta cheirar, basta lembrar, basta oferecer, basta pensar. O sol de hoje foi diferente, acordou tarde, envergonhado, dando a entender que o dia seria mais fresco do que é habitual. Mas não. De repente, talvez por se lembrar das suas obrigações, acordou meio estremunhado e saltou da cama nervoso querendo talvez desculpar-se pela sua falta de pontualidade. Ele sabia para onde ia e ao que ia. Não lhe liguei. Fiquei calado e fui à vida, embora tivesse sentido alguma apreensão, que se dissipou a meio do caminho. Vá lá, não me vai estragar o dia, pensei. Depois, foi a pequena surpresa, um local muito agradável com a companhia dos filhos e netos, que foram genuinamente cúmplices da oferta de um dia de sol à avó no seu aniversário. O sol também participou, com alegria e com cumplicidade. Empenhado em aquecer as almas, divertiu-se e obrigou-me a descansar. Senti que bebia as gotículas de água espalhadas pelo corpo e não deixou de penetrar nos músculos derretendo-os com um calor muito suave. Toda esta gentileza deve ter sido reflexo do encanto e beleza dos netos. O sol é sensível a estes pequenos nadas, sobretudo quando vêm dos pequenos.
- Então, gostaste? - Se gostei! Foi uma bela surpresa. Nunca tinha passado um aniversário como este. Foi preciso chegar a esta idade!

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