"Frescura"...


Pedi ao tempo um pouco do seu respirar, e ele atendeu-me, acabando por me dar um belo sopro de frescura. Estou a saboreá-la como só eu sei. Há momentos que competem com a eternidade, este é um deles. Não importa o tempo que passa lá fora, ele prometeu-me esquecer-se de mim durante algum tempo, tempo que para ele não é nada, mas para mim é mais saboroso do que parar o tempo, é poder viver sem o sentir e sem ter necessidade de o compreender. Ele deve rir-se de mim. Não me importa, o que importa é não sentir o tempo, não entender o tempo, não desejar o tempo, mas apenas ficar naquele ponto solitário, feliz, sem saber para onde ir, nem querer saber de onde venho. Um ponto sem tempo e sem espaço, apenas algo que vai vagueando na imaginação pelo universo que ainda está para nascer, universo que não sei se algum dia irá ter vida ou dar vida à vida. Não importa. Não me importo que o tempo possa rir-se de mim. Eu não me rio dele, apenas lhe peço que durma, que durma, nem que seja por breves segundos meus. Não sei se ele dorme ou se finge que está a dormir. O que eu sei é que me deixou livre para sentir uma agradável frescura. Que bela frescura. Tão bela que consegue acalmar qualquer ardor, o ardor de um sol desvairado e o ardor de uma alma atormentada pelo calor do inferno. Só se consegue alcançar a verdadeira frescura da existência quando o tempo para por alguns instantes. Para ele, tempo, não é nada, é insignificante, para mim é compreender o sentido da eternidade.

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