"Repouso"...


Procuro o repouso, procuro e não o encontro. Procuro o repouso, o repouso de uma noite calma, sem frio, sem angústia e sem medo. Procuro o repouso para um corpo macerado pelo tempo e para uma alma desiludida que se sente meio perdida no dia-a-dia. Mais um dia, um dia que parte e uma noite que rejuvenesce. Procuro o repouso nas entranhas da noite e na escuridão do silêncio. O corpo agradece e a alma enobrece. Procuro repouso em todos os cantos, mesmo que não ouça cantos de esperança. Procuro o repouso no espelho de água da noite, espelho que sabe melhor do que eu o que é o repouso. Invejo o seu repouso. Procuro o repouso nas palavras que penso e nas frases que escrevo. Procuro mas não encontro. Fogem-me as palavras e escondem-se as frases. Apenas a lua se mostra, imponente, vaidosa, brincando com a sua imagem no espelho de água da noite. A lua escreve, vejo bem que escreve, desenha letras, inventa palavras e pinta belas frases no espelho de água da noite. Eu olho para o espelho de água da noite e não consigo ver a minha imagem. Imagino que escrevo palavras novas e frases de prata no espelho de água da noite. O espelho de água da noite não me deixa escrever. A lua encontra o repouso no espelho de água da noite, e o silêncio da noite também. Procuro o repouso, procuro, vejo tão bem onde está, aqui, mesmo a meu lado. Olho para o espelho de água da noite e o espelho não me quer. O espelho de água da noite finge que não me vê. Finge, pois. Finge, porque sinto que roubou o meu repouso. Eu invejo o repouso do espelho da água da noite. É o meu repouso. Procuro o repouso, sei onde está, aqui, mesmo a meu lado, mas o espelho de água da noite não me deixa escrever palavras novas e frases de prata.
Não tenho repouso.

Comentários

Mensagens populares deste blogue

Fugir

Nossa Senhora da Tosse

Coletânea II