"Tic-tac"...


A notícia de um estudo recentemente publicado em que é "revelado" que os homens com testículos mais pequenos aparentam ter mais cuidados e atenção face aos que apresentam os ditos cujos com maiores dimensões levou-me a escrevinhar uma curta opinião.
É recorrente a publicação na comunidade científica de certos trabalhos ditos "sensacionalistas" que são de uma apetência extraordinária para a comunicação social e para o público em geral. É certo que divulgar conceitos científicos é de uma importância inquestionável e que ajuda o progresso, a cultura e o desenvolvimento do ser humano. O pior é que o conhecimento não deve ser feito nesta base, porque pode levar a interiorizar na comunidade conceitos banais, simplistas, enviesados e até, porque não, disparatados, comprometendo a tríade que já foquei, progresso, cultura e desenvolvimento do ser humano. Uma contradição em crescendo, ou seja, cada vez há mais informação que, não sendo devidamente tratada, pode constituir um fator de enviesamento. Certos estudos são apenas formas de prospeção e estão muito longe de poderem explicar o que quer que seja. Mas são simples e as "conclusões" muito fáceis de assimilar e de divulgar. Em seguida são interiorizadas e conseguem a proeza de se transmitirem por tudo quanto é sítio. E se as mesmas vierem a "legitimar" conceitos já existentes ou a justificar certos comportamentos, que sejam fonte de satisfação ou de prazer, por exemplo, então, é certo e sabido, que são abraçadas com muito agrado.
A divulgação do estudo segundo o qual o "volume testicular está relacionado com a atenção e cuidados aos mais pequenos" leva-me a concluir que estamos perante mais um caso de vulgarização científica em que se confunde o essencial com o acessório. De "estudo em estudo" a ciência começa a perder credibilidade. Associação em ciência significa um "ponto de partida" e nunca um ponto de chegada. A atenção que é dada a estes "estudos" pode constituir uma forte machadada para o crédito da ciência. É pena que os responsáveis não entendam e a comunicação social também não. O que interessa é "descobrir" nem que seja a forma mais rápida para a toleima e ronceirice. Assim não vamos a lado nenhum, ou talvez vamos, sobretudo para os que têm "medo" da ciência, que, assim, regozijam, porque estas formas de abordagem poderão pô-la em causa. A melhor forma de descredibilizar a ciência é deixar que o disparate e a falta de sensatez andem à solta de mãos dadas. Os fenómenos e os comportamentos têm na sua génese inúmeros fatores e é do seu estudo e da interação entre eles que podemos compreender o que se passa. Chegar a uma "conclusão" desta maneira é um disparate, que está salvaguardado nas expressões dos autores, mas quem liga importância a este aspeto? O que interessa é o acessório, porque o essencial vai ficar na gaveta. E assim, de disparate em disparate, vamos entretendo as pessoas, conseguimos alimentar o ego dos "cientistas", damos pano para mangas para que os profissionais da comunicação social possam exercer a sua nobre tarefa de informar o público e a ciência vai ficando com algumas cicatrizes, umas vezes fáceis de curar e outras nem por isso.

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