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O quadro que ainda não vi...

Gosto de arte, adoro pintura e não desdenho a boa literatura. O que é que procuro na arte? Não sei! Não deve ser só o sentido estético, mas se for deve provocar algo dentro do meu encéfalo, talvez produza substâncias que estão ligadas aos alimentos do espírito. A arte deve incluir-se nesse grupo, uma verdadeira feijoada que alimenta a mais gulosa das almas! Alimenta e dá prazer. É por isso que gosto de a ver, de a tocar e de escrever sobre ela. Desperta emoções e sensações especiais, lembranças que exalam alegria, momentos de prazer únicos ou repetitivos que me tranquilizam, que me inspiram, que me fazem sentir bem e diferente. Talvez seja isso tudo ou, então, é algo que não consigo entender e nem explicar. Gosto de a possuir.  Recebi a notícia de que vou ser dono de mais uma obra. Aprecio o autor, um notável pintor. Não vi ainda a obra, só sei que é sobre o forte de Santa Catarina. Vinda de onde vem aceito-a com muito prazer. O que é que uma obra que ainda não vi me faz recordar? 

Meio-dia e meia

Acabou de dar a meia hora da tarde de sábado. Preparo-me para me levantar e ir almoçar. Escrevo algumas linhas dentro de um curto período de tempo, o tempo necessário para exprimir o que sinto. Viver em certas localidades, pequenas, tem muitas vantagens, permite conhecer demasiado bem o percurso das pessoas, os seus interesses, as suas misérias, as suas personalidades, do que são e não são capazes de fazer. São livros abertos apesar de quererem guardá-los a sete chaves em gavetas vazias e transparentes. Quem quiser lê-los pode fazer mesmo sem os abrir. É fácil. Demasiado fácil. Metem medo. Escondem-se, julgam que estão libertos da intromissão de outrem, mas não. É demasiado fácil ouvir e cheirar os seus pensamentos. Alguns são humanos, onde a dor, a preocupação e o sofrimento vagueiam. É natural, dá-lhes o mínimo de estatuto da condição humana. O pior são as outras atitudes e comportamentos filhos de arquétipos ancestrais, em que a raiva, o ódio, o preconceito, o desejo de derrotar e

Cansaço de viver

Há momentos em que sinto o despertar de um velho impulso que há muito me persegue, embora se esconda durante longos períodos de tempo nas profundezas de um cérebro cansado e desejoso de paz. Atormenta-me esse impulso que me convida a não despertar, a não sentir, a não ver, a não amar, a não ser nada, apenas esquecer e ser esquecido. Desperta de tempos a tempos e causa-me estranhas sensações e emoções. É uma sensação acutilante, fria, dolorosa e silenciosa que quer beber o sumo da minha alma. Não a entendo. Não a desejo. Só sei que me invade de uma forma que não consigo compreender. Abandono-me nas mãos do tempo e na ternura da solidão. Dói, mas não sinto a dor. Atormenta, mas não vejo como escapar-lhe. Só sei que me convida ao vazio. Não sei o que dizer. O meu desejo é não sentir nada, mas mesmo nada, nem dor, nem paz, nem sombra, nem calor, nada, apenas queria esvaziar os meus sentidos e apagar de vez a escuridão deste estranho mundo. Não quero falar, não quero escrever, não quero

Lição

Não sei se certas lições têm o efeito esperado, evitar que certos comportamentos menos honestos se perpetuem, contribuindo deste modo para um melhor equilíbrio e ordem social. Não sei se têm, quero confiar que sim, mas no fundo não sei se deva acreditar, talvez seja mais uma forma de projetar a minha identidade e caráter nos outros, esperançado em poder mudar o mundo. Faço-o sempre que posso mas não acredito. E se fosse verdade? Como saberei?  Tenho tido episódios atrás de episódios de má conduta estudantil. Alguns estudantes comportam-se de forma pouco digna testemunhando a sua forma de ser que no futuro irá continuar com todos os efeitos negativos na saúde e no bem-estar das pessoas. Incomoda-me imenso este tipo de conduta. Faz-me sofrer. O episódio que vou relatar prende-se com falsificação de assinaturas. Foram detetadas, hoje é muito fácil detetar o que quer que seja, mas mesmo assim teimam nestas condutas. Acontece que a assiduidade contribuía com uma percentagem significati

Coletânea III

História de um dia poderia ser o título de uma história desconhecida que quis escrever ao fim de uma manhã. Senti necessidade de ver as palavras a nascer e dar corpo, forma e perfume a algo que desconhecia. Fiquei pelo título. Descobri-o agora, à noite, no meu recanto, onde sinto calor e alguma paz. O título que nasceu da necessidade de um vazio exige-me agora que preencha algumas linhas, linhas da minha vida, do meu pensamento e do meu sofrimento. Não lhe devia fazer essa vontade. Escrevo a pensar no ardor que senti quando vi algo que não esperava. Um tremor de angústia abalou-me por momentos. Aguentei o embate, o medo, a suspeita, a inquietação e um mar turbulento de emoções explodiu na minha mente. É difícil aguentar certos embates mesmo que não correspondam à verdade. A simples suspeita inquieta o mais bravo dos bravos. Sofre-se antecipadamente como a querer mitigar um eventual sofrimento do futuro. Ser humano é a capacidade de prever a dor e o sofrimento, como se fossem as únicas

Coletânea II

Há muito que não vinha aqui. Hoje lembrei-me. É bom andar por um local sossegado, discreto e longe de olhares indiscretos. Talvez aqui me sinta bem. Não sei. Barbeiro Um dia meio estranho. O sol desapareceu e deu lugar a nuvens de maio carregadas de tristeza que depois do almoço se puseram a chorar aos gritos. Um dia estranho para ir à baixa onde me enfiei no barbeiro. Esperei um pouco mais do que é costume, mas deu para ver a arte de usar a navalha nos pelos compridos, encaracolados e despenteados que emergiam de uma face magra, esquálida e castanha escura revelando que a maioria dos dentes já foram à vida, uma vida "dura" sob o sol da vida. Os gestos bem estudados do artista da tesoura e da navalha eram bem visíveis. A forma de colocar a mão, a cabeça descaída-, a língua a querer a sair, revelavam cuidados e gosto no que fazia. O operado, deitado com os olhos fechados, gozava com o calor da espuma do sabão e o frio cortante da lâmina a percorrer a sua cara. Tratava-