Aves sem destino


Vejo, sobre a água tranquila e enfeitada de alegria, algumas aves a voar sem destino, sem saber de onde partiram e sem conhecer o que significa a palavra amanhã. São livres, não têm nomes, não sofrem inquietações, não precisam de saborear esperanças, não sabem o que são tristezas, apenas ondulam no ar olhando para as suas sombras que escorrem voluptuosamente sobre as águas vindas do mar. Uma forma de ser diferente da minha; invejo-as no que toca à alegria, ao esquecimento do seu passado e ao desconhecimento do seu destino onde não existe a palavra futuro. Andam. Vivem. Ondulam ao sabor do vento. Não rezam, não choram, apenas sabem desfrutar a liberdade e o encanto de viver sem ter nome, sem ter nada, a não ser a sua nudez. Livres. Livres de tudo e de todos, até de Deus. Que inveja. Gostava de ter tamanhas prerrogativas. Ser-se humano serve para pouca coisa, ou mesmo para nada, a não ser para compreender e invejar os que aves não sabem que têm. São livres, verdadeiramente livres, porque nem nome têm, e não tendo nome pertencem ao desejado e maravilhoso paraíso perdido.

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