O cachimbo

Conversas de uma manhã de lazer.  Conversas voláteis como o fumo que sai do cachimbo do reformado. Não servem para grande coisa, a não ser para poluir o ambiente. Discute-se o estado do país e as perspetivas do futuro, como se houvesse futuro para a maior parte das pessoas. O futuro depende de vários fatores, trabalho, dedicação e honestidade. Trabalhar dói. Há quem não goste. Olho em redor e vejo muitas pessoas que pouco ou nada fizeram a não ser terem passado parte da vida à espera da tão desejada reforma. Coitados, conseguem iludir-se de que fizeram algo pela sociedade. Alcançaram o seu desiderato. Um deles espraia-se na esplanada, vomitando, indolentemente, fumo aromático e comentando o estado da nação propondo soluções. Não sei se sabe o que é trabalhar; há muito que está inativo, antes da menopausa caso fosse mulher. Até a isso foi poupado; poderia dar-lhe muito trabalho. Olho e ouço as tiradas habituais, tão ou mais poluidoras que o fumo aromático que inunda o espaço em redor. Um português típico, cansado e preocupado com o povo. O trabalho nunca lhe correu nas veias, comenta-o entre duas valentes plumas através de indolentes verborreias.


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