Arte


Os dias são cada vez mais intensos e preocupantes. O cansaço instala-se e a indignação contra o braço armado de qualquer governo, a impiedosa e bandoleira finanças, faz o resto. A iniquidade social em toda a sua força. Começo a não ter paciência para suportar a ditadura dos malandros deste país. Ainda há quem se queixe dos "bandidos da Beira" que, no século dezanove, faziam das suas pela minha região. Nada que que se compare com os mascarados  das finanças de hoje. Chiça! É demais.
O cansaço físico instala-se com a maior naturalidade, aproveita-se da corrida da idade, enquanto se encosta ao cansaço moral despertado por uma sociedade injusta, fria e corrupta.
Decidi não fazer nada neste serão, a não ser ver um pouco do circo político na televisão e descansar para poder resistir a mais um amanhã.
De qualquer modo, ainda consegui passar os olhos pelas notícias do dia. Diverti-me com uma, em que a empregada se encarregou de limpar um espaço que considerou ser lixo. Não era! Vejam lá. Era "arte". A instalação, "composta por diversas garrafas de champagne vazias espalhadas pelo chão, acompanhadas por beatas de cigarros e confetis, pretendia, segundo as artistas, representar o hedonismo e a corrupção política dos anos 80 do século passado". Foi uma chatice! Os responsáveis tiveram de ir buscar o lixo e reproduzir a "obra de arte". E pediram desculpa! Eu, que gosto de arte, fartei-me de rir com este incidente.
Afinal o que é a arte? Não sou nenhum especialista, o que sei é que qualquer tipo de arte deve despertar emoções nas pessoas que a veem, que a toquem, que a ouçam, que a cheirem, ou seja, tem de despertar emoções, mais ou menos intensas, mas tem de ser provocadoras e obrigar a mudar a forma de ser, de estar e de sentir de qualquer um. Neste caso, e face à descrição do sucedido, sou obrigado a concluir que a empregada de limpeza foi despertada, em termos emocionais, pela sujidade que encontrou na sala. O que ela fez foi um verdadeiro ato de arte, limpou. E deve ter feito muito bem. Se tiver de comparar os autores da obra com a empregada de limpeza, sou compelido a concluir que ambos são verdadeiros artistas. Emoções diferentes? Sim. Mas não deixam de ser emoções. Se reduzir o conceito de arte à produção e provocação de sentimentos, então, viva a arte!

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