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A mostrar mensagens de novembro, 2015

Um dia

O dia foi longo. Trabalhei como é meu dever e obrigação. O tempo faz sentir que a ilusão da vida é uma realidade, pesada e fatigante. Fiz de conta que não me apercebi de tal coisa. Fingi. Começa a ser costume. Fingir não faz mal, sobretudo quando consigo trabalhar e respirar com denodo e amor. Afasto tudo, as más ideias, as frustrações, as raivas, os pesares e as misérias da vida. Ouvi histórias, desbravei rostos, penetrei, com delicadeza, em almas desejosas de serem compreendidas e amadas, fiz o que mais me agrada, dançar e respeitar seres desesperados e ávidos de franqueza. Apreciam imenso o cantar desconhecido de um ser que os respeita, que sabe ouvir, que gosta de dar, nem que seja por uns breves segundos, um sorriso simples e natural, porque o melhor da vida é abarcar o seu semelhante, desconhecido, alvoraçado num mundo perdido. Um breve momento que consegue dar sentido ao que mais nos perturba e inquieta, a razão de ser da vida. Amo particularmente estes momentos, distantes de to

Montanha

Fui atrás do sol, convicto de que encontraria paz, beleza e silêncio. Penetrei no ventre da serra despovoada, estranha, calada, indiferente à minha passagem, cheia de segredos, sem lágrimas, sem gritos, sossegada e, por que não dizer, desconfiada. Viajei com a angústia dos meus pensamentos. Vivem comigo, massacram-me a qualquer momento e obrigam-me a pensar no futuro com os seus tenebrosos acenos. Tentei libertar-me, mas não foi fácil. O belo sol não conseguiu apagar o mal-estar que sentia. Revivi velhas paisagens, passei por localidades cada vez mais vazias, cruzei-me com algumas pessoas, idosas, sem futuro, esquecidas do passado, com almas geladas à procura do calor de uma tarde de outono, talvez com esperança de não sentir o sofrer prometido pelo advir. Vi o que já vi, senti o que já senti e ouvi o que queria ouvir, o mais belo silêncio da montanha adormecida sob um sol quente e indiferente à vida da pobre gente. Foi o que quis sentir. À medida que me ia afastando comecei a desfruta

"Via Crucis"

Ao final da tarde, após horas de aulas, recebi um telefonema de uma senhora. Com uma voz muito delicada, própria da sua formação, perguntou se ainda se lembrava dela. - Claro que me recordo. Depois, explicou as razões por nunca mais ter aparecido, um acidente incapacitou-a durante longo período. Perguntei o que tinha acontecido. Ouvi atentamente e fiquei a saber alguns pormenores. Congratulei-me com a evolução favorável. Em seguida, explicou-me que queria ter uma pequena conversa comigo, e se poderia ser no dia seguinte. - Claro que pode. - Então, amanhã, irei falar com o senhor doutor. Mas já agora quero adiantar que vou levar o tal quadro. Aqui fiquei um pouco perplexo. São tantas as conversas, que começo a não conseguir recordar com detalhe parte delas. Deixei sair dois ou três sons de perplexidade e de admiração, querendo dizer que ainda me recordava da conversa tida há muito mais de um ano. Não foi apenas um gesto de cortesia, porque tive a sensação de termos falado sobre quadros

País sem sentido

A sensação de viver neste país é muito dolorosa. Recordo que em criança, tempos complicados e muito duros, se transmitia a ideia de nobreza e de esperança na felicidade que iria ocorrer mais cedo ou mais tarde. Perfeita ilusão. O país não consegue, por mais que tente, desbravar as matas do descalabro, da corrupção e da falsidade sem limites, em que o cidadão não passa de um peão que pode ser eliminado a qualquer momento a bem da nação. Dói viver neste país. Abrem-se profundas chagas na alma do vulgar cidadão. Não há nada que as cure. A sociedade fere qualquer um com a impunidade típica de um deus violento, autocrático e miserável que precisa deste tipo de ação para se alimentar. A sociedade apresenta-se como se fosse um leproso, disforme, triste, vazio e perdido sem a possibilidade de renascer com alegria, amor, justiça e respeito por si própria. Dói viver neste país. Nem a história, nem a fantasia, nem a nostalgia ou a esperança de um novo dia, conseguem insuflar qualquer sentido

Libertem Deus!

Há dias, chocou-me a notícia segundo a qual um poeta palestiniano, preso há cerca de dois anos, foi condenado à morte por "insulto a Deus". Arrepiei-me com esta atitude. Não entendo que se mate em nome de Deus. Um poeta encerra em si a poesia do verdadeiro Deus. Sua graça? Ashraf Fayadh. Hoje, li que um físico iraniano foi suspenso por ter "voz demasiado aguda", como se isso fosse sinónimo de feminilidade e, consequentemente, motivo para o retirar do ensino. Ao ler a história verifico que a comissão cultural o questionou sobre que "lugar ocupa Deus nas suas aulas"? A resposta, científica, deve ter-lhe saído de chofre, "a universidade paga-me para dar aulas e, como profissional da matéria, só falo de Física". E faz muito bem, pensei eu. Sua graça? Qasem Exirifard. Não foi condenado à morte, mas não pode ensinar e está revoltado. No primeiro caso temos um poeta, no segundo um físico. Vítimas da "presença de um Deus". Mas que raio de Deu

Liberdade

Olhar para a face de uma pessoa permite indagar em silêncio o que corre numa alma atormentada, e quando os olhos nos fixam podemos entrar dentro dela e sentir a dor e o desespero. Baixo os olhos perante este despir, por respeito e por medo. Inquieta-me conhecer o sofrimento dos outros, sabendo que muito pouco ou nada possa fazer ou oferecer. Tudo decorreu dentro das normas, embora sentisse o peso de uma enorme dor. O silêncio começou a perturbar. Perguntei-lhe pela saúde dos familiares. Confessou que tinha perdido a mãe há poucos dias. Bate certo, pensei. Sofre. Perguntei-lhe que idade tinha a mãe. Sessenta anos. - Qual foi a causa? Explicou-me em breves palavras. Não comentei. Passei para as perguntas subsequentes e continuei na minha tarefa. Ao terminar, começou a descrever as suas vivências e emoções. Larguei tudo e deixei que se expressasse livremente. Fiquei muito ansioso e, ao mesmo tempo, perturbado. De uma forma transparente, limpa, quase que diria literária, expôs tantas coi

Escultura

Dias pequenos, sol escondido, nuvens tristes e povoações despidas causam-me estranheza. Obrigam-me a procurar algo de grande, colorido, quente e alegre. Onde encontrar tamanho bálsamo num domingo à tarde? Andei sem destino, percorrendo velhos caminhos. Conheço bem demais aqueles locais. Posso estar longo tempo sem passar por eles, mas reconheço à distância pedras, árvores, curvas, ruínas, casas, alminhas, pelourinhos, cruzeiros, antas, fontes, lajes, muros, praças, montras, tascas, ruas, travessas, pontes, rios, ribeiras, serranias, igrejas, capelas, e, até, gentes que, na sua tristeza e silêncio, se sentam debaixo de velhas árvores nuas ou chorosas com a vida que se escapa através da queda de folhas amorosas. Passo por todos esses lugares conhecidos e revisitados vezes sem conta à procura de algo de grande, colorido, quente e alegre. Nada. Andei, comentei, recordei, dissertei e desejei que me fosse propiciado num domingo triste um motivo qualquer que me ajudasse a esquecer a melancol

Livro

Aprecio a arte de escrever quando as emoções se transformam em belos quadros impressionistas e as paisagens em naturezas vivas, cheias de sol, de escuridão ou de vidas perdidas. O tempo escasseia e limita o prazer de ler os meus autores favoritos. Sonho em ler e angustia-me não poder escrever. Corri sem perceber até mergulhar na luz suave e brilhante de uma livraria. Percorri com o olhar os títulos a uma velocidade alucinante. Tocava num, acariciava outro, recordei muitos, enfim, fiz o que deveria fazer no espaço da vida e do mundo em que o silêncio grita de dor, de esperança, de raiva e de amor. Sentimentos e emoções, aprisionados em delicadas páginas, aguardam o toque gentil de quem os sabe apreciar. Querem libertar os seus odores e aprisionar nas suas maravilhosas teias o fervor de quem pretende saborear o amor e curar a dor. Procurei no setor infantil o livrinho para a neta mais nova. Algo que fosse o equivalente à Bíblia. A mãe tinha-me contado pouco tempo antes que apanhou a m

Deus e poesia

Tremo de medo e exaspero-me de indignação quando leio certas notícias em que a palavra Deus constitui o denominador de atitudes, comportamentos e decisões inexplicáveis e humanamente inaceitáveis. Não consigo compreender, e penso que nem vale a pena fazer qualquer esforço nesse sentido. Não o conhecia. É um palestiniano que vive na Arábia Saudita. É poeta. Eu gosto de poesia, quase que poderia dizer que se Deus existisse tinha que ser forçosamente poeta, porque a poesia é a expressão mais pura de qualquer alma que pensa, sente e ama. Tem nome, chama-se Ashraf Fayadh. Está preso há 22 meses e acaba de ser condenado à morte por "insulto a Deus". Não consigo compreender porque se matou e se continua a matar em nome de Deus. Não entendo por que razão alguém se imola em nome de Deus. Não compreendo quaisquer sacrifícios dolorosos por amor ao divino. Não compreendo e nem aceito. Não aceito que matem os que não acreditam em Deus, mas acreditam no amor, na tolerância, na paz, na b

Sorriso dourado

Entrou no gabinete a esvoaçar como se fosse um anjo distraído que, por engano, quis meter-se comigo. Ofereceu-me um sorriso dourado. Desde muito cedo que comecei a pensar que os anjos deveriam ser brincalhões. Ainda bem que os há. Educadamente, perguntou se podia sentar-se. Gosto de ver uma pessoa com maneiras. O interrogatório iniciou-se com as formalidades habituais. À pergunta se andava bem de saúde, respondeu que sim, embora andasse em consultas para ver se engravidava. Ia fazer fertilização "in vitro". O sorriso esperançoso inundava o espaço, dando um colorido pouco habitual à conversa. Antes que dissesse mais alguma coisa, antecipou-se explicando a razão de ser da sua situação. Há onze anos, tinha na altura vinte, foi-lhe diagnosticado um tumor inoperável. Por causa disso teve de se submeter a tratamentos apropriados, os quais deverão ter originado a sua infertilidade. Enquanto ia ouvindo a descrição dos factos, alegre e de braço dado com uma enorme vontade de viver, l

Nélson

Na semana passada gozei alguns minutos de descanso no jardim. Sentei-me num banco e deixei escorrer o meu pensamento ao longo das margens ornadas de canteiros de flores sob um sol delicioso de outono. Volta e não volta uma folha dourada caía a meus pés ou sentava-se a meu lado, enquanto duas delas se lembraram de me acariciar com o beijo do descanso da vida que o inverno oferece com deleite a muitas árvores. Deixei-me ir em silêncio e sem pensar na onda lenta mas absoluta do outono. Subitamente, um casal de idade chamou-me a atenção. Ela não, mas o senhor tinha um andar típico que eu conheço desde há muito. Com um ar desengonçado, livre de preconceitos e, até, provocador, apesar de andar agarrado a uma bengala - às tantas mero fingimento -, chamou-me a atenção o boné às riscas, com muito vermelho e preto, o casaco amarelo forte, demasiado grande para o seu corpo mediano, as calças de ganga, não daquelas que as meninas de hoje usam, artificialmente rotas, mas com duas bandas largas de a

O menino e as rosas

Final de sexta-feira. Muito cansaço. O trabalho não perdoa e a ignomínia humana também não. Desejoso de chegar ao meu local de repouso e de reflexão acabei por ver e ouvir mais uma tragédia. O terrorismo, a maldade humana e a dor atingiram muitas pessoas e a alma das restantes que ficaram surpreendidas e angustiadas com a vida e o futuro. O mundo está ferido de morte. É visível e provoca muito sofrimento. Agarrado à televisão, comunguei da aflição coletiva. Gente de bem sofre com tudo em seu redor. Foi então que me contou um episódio. - Queres ouvir o que me aconteceu hoje? A forma lacónica como fez a pergunta assustou-me. Despertei para outra realidade e perguntei: - O que é que aconteceu?! - Após o almoço tocaram a campainha da porta. Fui ver quem era. Uma criança, que não deveria ter mais do que nove anos ou dez anos, pediu-me, numa voz suave e envergonhada, se podia tirar uma rosa do jardim. Fiquei um pouco surpreendida. O menino era bonito, simpático, tinha uma fácies rechonchud

Montanha

Subi à montanha. Fui ver o ar perdido A voar ao fim do dia. Subi à montanha. Onde vi o sol a sonhar com a noite fria. Subi à montanha. Onde o silêncio conforta a vida. Subi à montanha. E vi a névoa a correr ao longe, Suave, doce e triste. Subi à montanha, Onde o ouro caía em folhas Vindas das suas entranhas. Na montanha sonhei. Na montanha esqueci. Na montanha vivi. Na montanha senti. Olho para ela, de longe, No meio da noite escura. Sinto o seu cheiro, Vislumbro as suas formas, E recordo a sensação de paz. Paz pura e alegria fugaz. Subi à montanha. Subi, toquei e amei a rocha dura.

Toca a sacar!

Não tenho medo do poder, ou não deveria! Não me inquieta, pelo contrário, chega a ser tranquilizante. O meu problema são as pessoas que o tem nas mãos. O poder é indispensável e vital para manter a ordem e garantir os direitos dos cidadãos. No entanto, em termos práticos, há quem o use de forma arbitrária, cega, distorcida, despropositada e, até, ofensiva, sem deixar de manifestar a faceta mais ordinária, baixa e mesquinha do seu esqueleto, a humilhação. Uma contradição absoluta, se o poder é a base do equilíbrio e da harmonia da sociedade, também pode, em determinadas circunstâncias, e sem razão aparente, causar prejuízos na alma de cidadãos inocentes, confiantes de que quem detém o poder os está a proteger. Uma ironia, o cidadão ser vítima do poder que é considerado como a base da harmonia e da paz social. O dia-a-dia de um cidadão pode ser ferido a qualquer momento com as facas afiadas da ignomínia e da injustiça. O sentimento de revolta explode no momento. A tristeza fibrilha

Dionísio

Por causa de um Dionísio lembrei-me de um outro, mais simpático e mais humano. Lembrei-me de um texto que escrevi em  23 de abril de 2014 Dionísio Gosto de revisitar o passado apenas para saborear sentimentos, paixões, devoções e emoções. Não preciso de muito e nem é muito complicado. É tão simples. Uma pequena ideia, uma imagem, um som, um aroma, uma lembrança e tudo se transforma, e eu embebedo-me como se fosse o Dionísio da Quinta do Rio. O Dionísio existiu, foi um barbeiro, cortou-me muitas vezes o cabelo, e brincava com os piolhos que dormiam no meio dos cabelos que sabia cortar à maneira. Nunca se preocupou com eles e as lêndeas deveriam ser fonte de inspiração. Piolhos para o Dionísio eram a coisa mais natural do mundo, tão natural como beber um copo de três a meio da manhã. O Dionísio não conseguia mexer bem o pescoço e com o tempo ficou tão rígido que sempre que queria olhar tinha de virar o corpo. Cortava o cabelo, bebia o seu tinto em tesouradas constantes ao lo

Humilhação

Levantei-me cedo, como é habitual. Descansei graças à química moderna. Não é habitual usar certas substâncias para esse efeito. Entendi que tinha de o fazer para obter algum "descanso" a fim de suportar melhor o tormento ou a paz de um novo dia. Tormento ou paz? Sim, porque viver um dia, seja ele qual for, não passa de um jogo, de uma cautela, algo imprevisível que pode fazer a sua entrada em cena com alegria, o que é raro, talvez não passe de uma miserável terminação, ou, então, com o desprezo ou indiferença própria da natureza, que se entende perfeitamente, para não falar e estremecer ao som da violência humana nas múltiplas roupagens com que gosta de vestir-se. É este último aspeto que me causa sofrimento e perplexidade. Quando menos se espera, aí estão, no seu esplendor patético e humilhante a produção de atividades humanas que abomino e não consigo aceitar. Há leis que os protejem, mas não passam de seres que vivem sem saber a razão do seu viver e a forma de ser e de est

Nicolas

"A medicina é a minha vida, os meus pacientes são a minha vida e sinto a falta deles". Esta frase foi pronunciada por um médico francês no decurso do seu julgamento. Nicolas Bonnemaison, de 54 anos, foi acusado de eutanásia. Foi decidido, pela equipa médica, interromper a terapêutica a uma mulher de 86 anos, em coma irreversível, após um acidente vascular cerebral. Até aqui nada de especial, pelo menos nos dias atuais, em que é possível, felizmente, não continuar com terapêuticas encarniçadas e despropositadas. O direito a morrer com dignidade é uma realidade indiscutível em alguns países. O progresso faz-se, mesmo com alguma lentidão, como é o caso da medicina. Mexer com a vida é o menos, o pior é quando se mexe com a morte. Até parece que esta última se sobrepõe à primeira, pelo menos para certos setores da sociedade. Mas Nicolas foi mais longe, na perspetiva da lei do seu país, “injetou na paciente um sedativo utilizado em fases de agonia”. Para o tribunal esta atitude pre

Entregou-se a Deus!

Não sou ministro. Também não tenho pretensões a tal, e mesmo que por uma causalidade qualquer, ditada por um destino embriagado, nunca aceitaria tal distinção. Há gente muito mais qualificada do que eu, e ainda bem. Não há nada melhor do que reconhecer as suas insuficiências e limitações. Também há quem diga que nunca devemos dizer, “que desta água não beberei”. Pois, mas eu prefiro, apesar de tudo, beber uma boa bebida temperada pelo espírito do álcool fermentado numa boa e sensual pipa de vinho. É muito mais saudável. Esta curta e efémera reflexão, ditada com a sobriedade exigida por um escrito que se preze, nasceu dos comentários de um ministro recém-empossado. Ontem, domingo, ocorreu uma tragédia para as bandas do reino dos Algarves. Algo impensável. Não é altura de traçar comentários sobre os desvarios humanos que brincam com a natureza. Neste caso, a água exige os seus terrenos, os seus caminhos, os seus riachos, o seu leito. Podem passar muitos anos sem haver nada de especial,

Relógio

 Ouço o cantar do velho relógio no corredor. Carunchoso e ronceiro não obedece como deve ser à medição do tempo. Sempre foi assim. Quando fica triste, amua e para. Quando está feliz, dança e sonha. É ele que fabrica o seu próprio tempo, um tempo à espera do fim. Ouviu-me. Badalou numa voz rouca doze badaladas, como que a despachar, mas, primeiro, gemeu um pouco. Agora vou dormir embalado no seu cantar. Lá fora, a noite, num silêncio sem luar, tem inveja do meu sonhar.