Mensagens

Mentiras, verdades e publicidade.

Em 1999 foi desencadeado um inquérito sobre uma eventual conspiração entre as tabaqueiras para esconderem do público os efeitos nocivos do tabaco. Durante mais de cinquenta anos as tabaqueiras fizeram um cambalacho notável de modo a promover os seus produtos utilizando inclusive aditivos com o objetivo de provocar maior dependência. Agora, finalmente, foram condenadas a admitir publicamente o que fizeram nesse sentido. O Supremo Tribunal norte-americano foi contundente obrigando à retratação pública focando cinco pontos, efeitos adversos para a saúde, as consequências para os fumadores passivos, o poder aditivo da nicotina, a mentira sobre os produtos light e os erros publicitários sobre estas mentiras. Durante dois anos terão de comunicar as suas atividades através da comunicação social e dos próprios maços de cigarro. Vai ser muito interessante ler as novas frases. A reação das tabaqueiras foi curiosa, pediram escusa às medidas de correção, porque consideram que estas decisões têm

Mulher de vermelho

Imagem
Vou a correr, não posso atrasar-me. Uma figura de vermelho saltou do lado esquerdo. Parei. Tratava-se de um cartão recortado em forma de mulher preso a um poste. Fiquei curioso. Tinha uns dizeres. Li-os. Tratava-se de uma iniciativa relativamente ao “Dia internacional para a eliminação da violência contra as mulheres”. Passei a ter tempo, deixei de ter pressa. O cartaz dizia o seguinte: “Foi espancada durante 12 anos... Entre as sequelas com que ficou, conta-se a parcial deficiência de uma das mãos. A sua relação com o marido, quando começaram a viver juntos era normal: “Ele era atencioso, moderado, não imaginava o que se iria passar mais tarde...” Considerei a denúncia forte e impressionante. Por isso pus-me a refletir sobre o assunto enquanto via passar as pessoas. Duas senhoras, que iam a atravessar a estrada, embicaram diretamente para a figura de vermelho. Começaram a ler mas puseram-se logo a andar. Que raio! Porque é que não leram a pequena história? Continuei parado jun

Afinal "estão ali", ou estavam!

Em miúdo comecei a ouvir que havia ovnis. Pedi algumas explicações sobre o tema; disseram-me que eram seres de outros planetas que vinham até nós em discos voadoras. Que aspeto é que têm, como falam e onde é que vivem foram algumas perguntas que não deixei de formular. Apontavam para a Lua e diziam-me que viviam lá seres muito estranhos. Eu acreditei, e comecei a passar horas, sobretudo durante a lua cheia, para ver se via algum. Depois foi Marte e até Vénus como sendo os locais de onde eles provinham. Eu lia banda desenhada e muitas das aventuras tinham a ver com seres muito esquisitos daqueles planetas. Eu acreditei. Um pouco mais tarde, não muito, ficava de ouvido atento ao rádio à espera de comunicados de outros mundos. Como tinha ouvido falar nisso, aproveitei as ondas curtas para ver se seria o primeiro humano a entrar em contacto com outros seres. Nada, só aqueles estranhos ruídos próprios das ondas curtas. Desisti. No entanto, continuei a alimentar esperança de que um dia s

Saúde, negócio e turismo

Há uma tendência global para nivelar os comportamentos dos seres humanos, não em função de princípios éticos ou regras morais, mas sob a alçada de interesses pessoais e económicos. Mesmo que as leis de alguns países sejam elaboradas com base em princípios éticos ou ditadas pelas regras morais, outros conseguem não ter legislação ou, então, quando a produzem, vão de encontro a desejos óbvios. Quando surge esta discrepância é fácil de prever o que irá acontecer, os que vivem em países com legislação "superior" vão a esses paraísos e conseguem realizar os seus sonhos. No fundo, os paraísos não são só fiscais, há também paraísos na área da saúde.  A saúde tornou-se um dos maiores negócios da humanidade. O turismo da saúde constitui uma realidade em alguns países e, agora, face à tal discrepância legal, muitos deles sabem como abrir as portas para esse negócio. O turismo da saúde atrai, sempre atraiu e vai continuar a atrair.  Temos consciência da deslocalização de muitas in

Paz

É um sítio mágico, só pode. Sempre que vou à localidade entro naquele espaço. A alvura das paredes e o silêncio entrecortado por agradável música de fundo faz sentir a alegria e o renascer da paz. Há qualquer coisa de misterioso que convida à reflexão, ao abandono dos sentidos e ao adormecimento dos problemas. Mesmo o frio é diferente, enquanto lá for agride o pescoço, aqui não, um calor natural que arrefece a inquietação e alumia a mente. Há qualquer coisa de misterioso que me impele, mesmo que seja por breves minutos, a entrar neste espaço. Faço-o com prazer e até por necessidade, porque há algo de misterioso que não consigo explicar. Entrei, estava vazio, exceto na capela lateral. Uma senhora vestida de casaco vermelho rezava com empenho à Senhora. Uma pessoa de fé, naturalmente. Não sei o que lhe disse ou o que pediu, mas fosse o que fosse decerto terá sentido tranquilidade, porque o ambiente está repleto de partículas de paz que se respira e que se sente. Olhei para aquele qua

Meninos roubados

Certos acontecimentos causam-me estranheza e incompreensão. Dou voltas e mais voltas, mas não consigo encontrar justificação para os ditos. É certo que os seres humanos são todos diferentes uns dos outros, física e intelectualmente, isso é bom, mesmo desejável, desde que não implique a adoção de atitudes que possam provocar dano nos seus semelhantes. Em Espanha o fenómeno dos meninos roubados à nascença é uma das maiores obscenidades que pode atingir uma sociedade, e que merece algumas reflexões. Cerca de 300.000 pessoas terão sido atingidas por um processo de falsas adoções e compra de bebés. Tudo começou com a guerra civil em que eram retiradas às combatentes republicanas presas os seus filhos para serem entregues às famílias franquistas. Uma estratégia maligna, castigar as republicanas e “nacionalizar e cristianizar” os pequenos. Lentamente o sistema “aperfeiçoou-se” com a retirada das crianças aos pais sempre que estes necessitassem de socorrer das instituiç

"Pois, pois!"

Há dias numa consulta de rotina de medicina do trabalho tive a oportunidade de observar um trabalhador, obeso, de 45 anos de idade, que referenciou um historial de quatro enfartes. - Quatro enfartes? É obra! Exclamei. A sua resposta, acompanhada de um sorriso tipo “pois, pois”, foi a seguinte: - Os médicos dizem que eu tenho um coração muito forte para aguentar quatro enfartes! O exame continuou e perguntei-lhe se tinha sido fumador. Olhou-me, relançando novamente o sorriso “pois, pois”, e, abanando a cabeça, disse que continuava a fumar. Fiquei perplexo e sem palavras. - Mas assim corre riscos muito graves! – Oh senhor doutor já tentei tudo, fui a consultas de desabituação mas não consigo. Da última vez que tive um enfarte foi a própria médica que disse que não valia a pena deixar de fumar, porque senão entrava em stress e era pior. - !?!. Calei-me. No entanto, a reação do trabalhador à minha conduta foi interessante. - O senhor doutor parece que ficou preocupado! – Oh homem estou me