Mensagens

Espaço...

Não há nada como deixar de ter certas esperanças, mesmo as mais sedutoras, sejam elas institucionais, convencionais ou impostas pela sociedade. É um alívio do caraças. Andar toda a vida a lutar por uma carreira, apaixonado por uma profissão e eternamente iludido por recompensas provoca dor, sofrimento, angústia, tristeza, frustração, chegando mesmo a ser letal. Um alívio quando se descobre que não vale a pena ser-se ambicioso ou querer conquistar honrarias ou distinções. Nada melhor do que encontrar refúgio em doces espaços onde possamos ser nós próprios, onde se consiga beber alguma tranquilidade e saborear o alívio para as dores da alma.  Tenho encontrado alguns espaços, físicos e temporais, milagrosos e sedutores, belos e solitários, ricos em inspiração e pobres em arrogância. Pequenos espaços, doces, tranquilos, suaves e reconfortantes. Uma delícia que me leva a procurar as teclas e martirizá-las dando forma e sentido às palavras emergentes, esperando que do refugado saia alg

Uma palavra...

Ouço o vento zangado a soprar nas minhas costas. Não o entendo, não sei o que pretende, talvez queira assustar-me. Incomoda-me aqueles longos gemidos de dor a adivinhar outras dores. O sol dança, o sol esconde-se, também não deve gostar muito daquela agitação e as árvores rodopiam num bailado sem sentido, como almas possuídas pelo demónio. Invade-me uma sensação de enjoo, deve ser cansaço do corpo e tormenta na alma. Refugio-me em pensamentos mas não os encontro. Leio e não vejo nada. Assusto-me com as pessoas que não temem o vento. Ouço-as a semear ventos. Nunca colhem nada, nem as tempestades. Sopram ventos da desconfiança, ventos da discórdia, ventos de dores, ventos desnorteados. Eu ouço-os e sinto medo. O sono invade-me lentamente como querendo roubar-me à realidade. Alicia-me com uma breve ida ao paraíso, onde não há vento, gritos de dor e ameaças de sofrimento. Sinto um suave peso nas pálpebras. Uma agradável sensação penetra no corpo paralisando os músculos e as ideias. O v

Insultar...

Incomodam-me mas não me surpreendem os insultos que se lançam por aí. Insultar é o equivalente verbal da agressão física. Insultar revela o nível da agressividade humana. Insultar é a forma mais hedionda e miserável de destruir quem quer que seja. Insultar chega por vezes a ser equivalente a um homicídio moral. Insultar é um passatempo para muitos. Insultar diverte os fracos de espírito. Insultar é transformar a palavra num punhal sujo.  Incomodam-me mas não me surpreendem os insultos. Incomodam-me os insultos seletivos provenientes de mentes que se atrevem a pensar e a parir pensamentos, recordando que são, também, seres criativos, surpreendendo-me com as suas máximas moralistas, máximas que escondem alguma inquietude.  Cedo aprendi as palavras e as frases da vida, tradutoras de raiva, de ódio, de mesquinhez e de desprezo, frases e palavras para ofender, para destruir, para apunhalar, para desprezar e para derrotar. Muito cedo as ouvi da varanda da casa da minha avó, quando as m

Cada vez mais "burros"...

Os investigadores procuram conhecer e interpretar os fenómenos, mas não ficam por aqui, por vezes também gostam de criar novos “fenómenos”, talvez para contestar ou para provocar certas ideias ou princípios. Mesmo que não correspondam à verdade, pelo menos são gratificantes em termos de imaginação e de distração, o que já não é mau. Como andamos a fazer tantas asneiras, sobretudo no último século e meio, não me admira que tenham despertado o interesse em saber se estamos ou não mais burros. Não sei se foi esta a ideia base do estudo que pretendo analisar, mas se não foi, podia ter sido! Ler que a inteligência humana está a diminuir desde a época vitoriana chama a atenção. Como? Estamos a ficar mais “burros”? Os autores explicam que através do tempo de reação visual é possível chegar a essa conclusão. Na parte final do século XIX o tempo médio era da ordem dos 194 milissegundos, agora passou para os 275. Sem entrar em profundidade nos aspetos técnicos, os autores afirmam que as ca

Banco vazio...

Imagem
Um dia como qualquer outro, um dia que quer obrigar-me a descansar à força, um dia sem calor, um dia a convidar à tristeza, um dia como qualquer outro ou talvez não. Um passeio curto, outra vez o mesmo passeio. Passo inúmeros vezes pelo mesmo sítio e não vejo o que queria ver. Vi agora. Um impulso de momento. Adoro os impulsos de momento, habitualmente levam-me à descoberta de algo, ou, então, é esse algo que me quer descobrir. Eu sei que é uma estranha forma de entendimento, talvez um diálogo de sentimentos ou o meu perene desejo de encontrar novas emoções, antes que me gaste, antes que me fujam, antes que desapareça. Nesse dia andaram à solta vários santos. Também têm direito a um passeio, mesmo que curto, é a sua forma de descansar e de divertir. A capela estava fechada, mas através das vigias foi possível visualizar alguns santos, pequenos, a ladear um mais alto e aparentemente mais atraente, um São Sebastião. Coitados, andam os "irmãos" a passear aos om

Locais sagrados...

Tudo tem uma explicação, tudo tem um nome. Conhecer a origem das coisas ou o porquê do nome seduz qualquer um. Às vezes é fácil, existe documentação ou elementos que expliquem os factos ou as designações, outras vezes não é possível o que leva a investigar a origem. Mesmo que a investigação não corresponda à realidade pode ser sempre fonte de um novo mito. Os próprios mitos ou lendas são, por vezes, usados para lá chegar. É uma área das mais adoráveis, misturar lendas e investigação, criando e recriando novas verdades e interpretações. Diz o investigador que as aberturas de todos os dólmenes do vale do Mondego estão viradas em direção à serra da Estrela. Quando foram construídos, há seis mil anos, a estrela Adelbaran, grande, tremelicando como só um coração do universo sabe fazer, enviando uma luz avermelhada, nascia por detrás do maciço rochoso convidando os homens e animais a beberem a vida que brotava naquele majestoso altar. O sentido religioso do homem compreendeu que o sagra

Pão...

Por vezes, ao ler certas coisas sou obrigado a associá-las a experiências já vividas e até tentar encontrar justificações para certos comportamentos. Coisas simples, mas a simplicidade é a mãe da descoberta e da inovação. Quem diria que viver na vizinhança de restaurantes de "fast food" constitui um fator de risco para ter um índice de massa corporal elevado. Foi o que os investigadores "descobriram" em negros norte-americanos com baixo poder de compra. É evidente, pensa o leitor. Pois, pode ser evidente, mas é preciso estudar o fenómeno que, neste caso, está em relação com o raio da distância onde ficam estes restaurantes. Então, os que estão num raio de meia milha estão "tramados". Só os que vivem para lá de um raio de cinco milhas estão a salvo! As explicações são interessantes. Maior acessibilidade, alimentos mais baratos, menos tempo no intervalo do almoço e dificuldade em usar transportes são as mais importantes. Aqui está mais um "fator de