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Viva a justiça portuguesa!

Acabo de saber que o sem-abrigo que roubou um champô e uma embalagem de polvo foi obrigado a pagar 250 euros ou, em alternativa, prestar serviço à comunidade. O processo corre há dois anos e, de acordo com o advogado oficioso, que fez as contas, os gastos deverão ser da ordem dos milhares de euros. O sem-abrigo não compareceu nem sabem onde para. Aqui está um cidadão que sabe tratar a justiça como merece: borrifou-se! E se for apanhado deverá fazer um manguito. O quê, trabalhar para a comunidade? Sou um sem-abrigo, mas não sou parvo. Então vai de cana. Ótimo. Ótimo. E durante quanto tempo? Apenas durante algumas semanas. Ora porra! É pouco, muito pouco! Tenho que pensar em roubar algo mais importante, talvez um queijo da serra, uma garrafa de whisky....

Pobre país!

Não tardará muito para podermos observar a realização de verdadeiros safaris pelo interior de Portugal, em que pais e mães, acompanhados dos seus rebentos, irão deliciar-se com uma fauna de seres humanos esquisitos a viverem em condições totalmente distintas dos que vegetam nas grandes metrópoles, sobretudo na dita Lisboa, transformada em Babilónia do Império, com direito a tudo e a mais qualquer coisa em detrimento dos direitos mínimos dos que ainda vão ficando pela dita "província". Lentamente estão a fechar o país, cuidados de saúde reduzidos ao mínimo, serviços a fecharem e a serem concentrados em localidades mais "centrais", justiça a distanciar-se em termos geográficos para não falar dos aspetos humanos, tentativas vãs e mais do que hipócritas de pseudo cuidados a ter com as populações envelhecidas, enfim, contributos eficientes para o despovoamento do quintal da capital, que se transformará num enorme parque de lazer para os stressados das grandes cidades. Qu

Discriminação

Mais um caso a despertar a atenção para as consequências das intervenções médicas. Salvar uma vida é um hino de amor, mas por vezes o doente não agradece, não pode agradecer, nem quer agradecer, porque a vida que lhe devolveram não tem nada, rigorosamente nada a ver com as expectativas de quem sofreu um acidente ou doença grave. Um engenheiro inglês, Tony Nicklinson, sofreu há anos um problema grave tendo ficado paralisado, totalmente incapacitado, apenas pode pensar. Não tem autonomia, e só com ajuda consegue comunicar. Desde 2007 que pretende ter o direito a suicidar-se e começou a lutar para isso. Não quer dizer que o faça hoje, ou amanhã, mas quer que lhe concedam esse direito, porque sozinho não consegue. Considera que a lei discrimina os incapacitados físicos ao não permitir fazer algo que qualquer um pode fazer, deixar de viver. O caso foi parar ao tribunal que começou a estudá-lo. Escravo das tecnologias e dos cuidados ultraespecializados, afirma que os "políticos são uns

Domingo

Mais um domingo, mais uma formalidade, mais uma vez cumprimos a rotina criada ao sabor das necessidades alimentares. Antes do almoço, outro ritual foi satisfeito, tomar um café debaixo do sol de inverno. Sentir o sabor de uma boa bebida quente aliado a um certo elanguescer provocado pelo calor coado pelo vidro provoca-me um súbito desejo de querer parar o tempo. Mas não consigo. Olho em redor e as poucas pessoas presentes chamam-me a atenção. Paradas, desinquietas, fácies expressivas de alcoolismo crónico, alguns com cigarros a tremerem em mãos calosas, e outros com sinais evidentes de pelagra, a testemunhar a gravidade da doença, povoam o "meu" pequeno espaço. O dono do café, treinado por visitas anteriores, presenteou-nos com duas chávenas fumegantes. Para não destoar dos restantes, também apresenta estigmas de um bom discípulo de Dionísio, mas sabe atender os clientes, usa sempre uma bandeja e entrega o talão da venda. Curiosamente paga os impostos. Qual será a noção que t

"Piolhos. Castigo de Deus"...

Os meus netos têm sido alvo de ataques constantes de piolhos, apesar de todas as medidas de higiene e de cuidados que esta praga exige, volta e não volta trazem da escola representantes daquilo que em tempos alguém designou por "castigo de Deus". Custa-me aceitar que não sejam tomadas as medidas adequadas para controlar esta "epidemia" escolar. Se não houver cuidados por parte de todos os pais, e dos responsáveis da instituição, muito dificilmente se evitará esta situação recorrente que começa a irritar-me e a causar-me "comichão" por simpatia. Recolhi um pequeno texto escrito há algum tempo a propósito de tão "divina" praga, onde a evolução, os pelos e o catar tiveram papel importante, nomeadamente o último. Catar foi uma forma de socialização, mas hoje em dia existem outros meios, mais eficientes, entretanto, apetece-me dizer aos dignos responsáveis pela praga que está a atacar os miúdos, entre os quais os meus netitos: "vão-se catar"

Rejuvenescimento da águia!

Apanhei um taxi e, fazendo inveja aos gaiteiros, cheguei à estação com tempo para tudo e mais qualquer coisa. Nunca gostei de brincar com o tempo, temo que me pregue uma partida, mortinho está ele, e sabe que vai conseguir, afinal é apenas uma questão de "tempo". Entrei no bar e escolhi uma sandes, que me pareceu simpática, feita com pão de sementes, negro. Muito apropriado, vai ser o meu almoço, pensei. Ao reentrar na gare, com o saco da merenda, senti um forte cheiro a urina, cheiro que não tinha detetado à entrada. Olho para ver donde poderia provir odor tão desagradável, mas não consegui. Comecei a caminhar ao longo da plataforma e o cheiro, em vez de desaparecer, acentuava-se cada vez mais. Intrigado, pus-me novamente a escrutinar a fonte e nada; eis que, ao olhar para cerca de duas dezenas de metros à minha frente, vislumbro uma mulher esfarrapada, de pele encardida, pernas e pés vigorosamente sujos, saia negra com bainha descida e rasgada. Estava identificado o chafari

Taça de Prata

“O melhor sono da nossa vida, em que na nossa alma, docemente, penetra Deus” (José Oliveira Ferreira) Viseu. Depois do jantar fui dar uma volta pela cidade. Há muito que não passeava nesta localidade à noite. Tinha acabado de chover. Estava tudo impregnado por finas camadas de água que brilhavam sob os olhares dos candeeiros e dos faróis dos automóveis. Andei sem rumo e desfrutei a tranquilidade do silêncio noturno, ao mesmo tempo que me embrenhava em recordações que só a noite e a ausência de pessoas permitem. Conheço esta cidade desde sempre. É uma referência importante na minha vida. Foi aqui que fiz todos os meus exames. Foi aqui que me trouxeram vezes sem conta em criança devido a doenças que me atormentavam. Nessas andanças dolorosas, o esforço dos meus pais era evidente. Tinham que pagar os tratamentos e aos médicos. As posses não eram por ai além e a obrigação de pagar os honorários era um ponto de honra. Chegou mais um dia em que tiveram que saldar as dívidas da dor de uma cri