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Circuncisão

A epidemia da Sida/VIH tem vindo a sofrer modificações apreciáveis para as quais têm contribuído a investigação epidemiológica, clínica, molecular e terapêutica. Nalguns países a situação ainda não está controlada, embora se note uma diminuição da incidência e da prevalência que, nalgumas comunidades, tiveram, e ainda continuam a ter, expressões mais do que dramáticas. De qualquer modo, deixou de ser um símbolo da morte passando a ser considerada como doença crónica a par de tantas outras. As medidas de prevenção e de tratamento têm tido sucesso, sobretudo este último ao diminuir de forma acentuada a capacidade de transmissão do vírus. Quanto à prevenção, o conhecimento da realidade próxima, íntima mesma, de muitos, sobretudo em África, onde dificilmente haverá alguém que não tenha tido um familiar atingido pela doença deverá ter sido determinante para a mudança de hábitos e comportamentos, à qual se associa a proteção devida ao uso de preservativos, tão contestados e "de

Mau-olhado...

Nunca tinha nascido ninguém na terra com aqueles poderes, assustava, enojava, seduzia, confortava e matava, como se tivesse encarnado deus e o diabo no mesmo corpo. Um daqueles casos raros em que as divindades se esbarram ao escolherem determinadas almas. O universo pode ser grande, mas por vezes não evita certos encontros, despropositados ou não sempre são uma forma de fugir à rotina da santidade e do diabólico. Aquela alma lembrou-se de lhes fugir naquela noite quente em que os sentidos, despertados pelo solstício do verão, fazem das suas, a noite que desperta desejos. O diabo sabe atiçá-los como ninguém. Nasceu precisamente no dia da Anunciação, um dia santo, um dia em que não deveria ter nascido. Fê-lo para irritar o diabo e incomodar deus. Riu-se. Sabia que adquiriria poderes, os seus olhos seriam capazes de matar, de causar infortúnio aos que se atrevessem cruzar com ela e não obedecessem à sua vontade. Depois, cresceu irritando e assustando os demais. O medo era mais d

Chá de urtigas

Gosto de ficção científica por várias razões, mas a principal é, sem dúvida, o facto de se ajustar melhor às necessidades e aspirações dos homens do que a triste e frequentemente estúpida realidade que incomoda e chateia a todo o momento. Ao pensar nisso consegui subitamente associar a série Star Trek (O Caminho das Estrelas), um destacado prémio Nobel da medicina e o chá de urtigas. Que estranha combinação, dirão. Talvez não. Comecemos pelo nobelizado em 2008, o francês Luc Montagnier, pela descoberta do vírus que provoca a SIDA. Ultimamente tem enveredado por áreas que estão a provocar muito desconforto e "admiração" na comunidade científica. Uma delas tem a ver com um trabalho, que ainda não foi publicado em nenhuma revista, em que afirma ter achado que o ADN, a tão famosa molécula da vida, base da estrutura dos genes, consegue teletransportar-se à distância para uma solução onde não existia qualquer molécula. Os cientistas estão incrédulos perante este "fenómeno"

Balão de São João

Lembro-me muito bem quando aprendi as estações dos anos. Ninguém me ensinou. Não foi muito difícil, apenas uma questão de tempo. Recordo de nunca ter gostado dos dias curtos e sem sol, porque atalhavam as minhas brincadeiras roubando o meu tempo, tempo de que fui e sou muito cioso. Ainda por cima, muitas vezes, a chuva e o frio doentio aprisionavam-me em casa, desfrutando apenas a liberdade através de um janela fechada e embaciada. Quando me sentia preso, sabia que a culpa era do tempo, tempo que gozava comigo, massacrando-me com particular violência, obrigando-me a beber o fel do tempo que parecia nunca mais querer passar. Passei a odiá-lo. Esquecia essa raiva apenas quando os dias começavam a ganhar tempo em calor e em luz, porque me permitiam brincar até mais tarde, tendo sempre como justificação que ainda se via o sol ou o seu bocejar avermelhado, momento que me encantava particularmente. Nessa altura as pessoas mudavam de cara, riam-se, tornavam-se mais reinadias e passavam

"Pathos, Logos, Ethos"

Todos os que comunicam e queiram que os seus argumentos, análises, comentários e observações sejam aceites ou respeitados pelos outros deverão cumprir com um conjunto de regras, regras essas mais acentuadas e mais exigentes nas atividades em que, por força das circunstâncias, assim as exigem, nomeadamente no ensino, na arte criativa e no discurso argumentativo.Devemos centrá-las em três grupos, as que dizem respeito ao orador, ao assunto a abordar e às pessoas a quem nos dirigimos.Comecemos pelo orador. Este tem de se apresentar como uma pessoa credível e honesta. Para isso, o seu passado, no que respeita à intervenção cívica, social, política, académica ou profissional, deverá ser minimamente rico e idóneo. Demora a construir. Adquirir competências e conhecimentos leva o seu tempo e exige muito esforço. No fundo constitui o seu Ethos. É bom saber que à partida se goza de algum respeito e admiração. Mas não chega, é necessário avaliar a qualidade do texto ou da exposição, apresentando-

"Amar e ser amado"...

Certas notícias parecem ser escandalosas, mas por vezes até nem são. Li com muita atenção o artigo sobre o bispo argentino, monsenhor Fernando Maria Bargalllo, que foi apanhado num ato de recreio, numa bela praia, acompanhado de uma mulher em biquíni. As posições do par, reveladas pelas fotografias, traduzem uma certa intimidade e calor interessantes. Escândalo! Disseram. O caso já subiu para o Vaticano do qual se espera um castigo proporcional à força divina com que se arvora neste vale de lágrimas, às vezes temperado com algum e breve resquício edénico como foi o presente caso. Tenho dificuldade em compreender as limitações e as proibições quanto à sexualidade inerente à nossa espécie, impulso fundamental da existência. Até o Livro reproduz uma expressão contra esse entendimento, "crescei e multiplicai-vos". Nunca vi citada alguma exceção. Presumo que não estava no horizonte do "Criador" qualquer apelo à abstinência. Se fosse essa a sua intenção, decerto ter

"Certificado de estupidez"

Quando comecei a ter algumas gramas de consci ê ncia sobre a minha exist ê ncia, sem grandes explica çõ es para o efeito, porque as que ouvia cedo come ç aram a ser postas em d ú vida, verifiquei que os seres humanos eram diferentes uns dos outros, mas havia muitos que faziam gala dessa caracter í stica usando argumentos para se destrin ç arem, por cima, sempre que podiam. Mesmo os mais pequenos, os da minha idade, arvoravam a sua superioridade invocando a condi çã o profissional do pai, a pretensiosa aristocracia de um passado mais ou menos remoto, os bens herdados, e, inclusive, lembro-me bem desse epis ó dio, ter uma av ó ou bisav ó espanhola, como se isso fosse uma forma de exotismo, raro naqueles meios, o que me confundia, j á que tinha iniciado a minha forma çã o pessoal no ataque aos "sacanas" dos espanh ó is, gra ç as à "eloqu ê ncia" do meu professor. A par deste epis ó dio, lembro-me da arrog â ncia que alguns mostravam sobre os seus semelhant