Mensagens

Medicina caseira

Sentou-se. Foi a primeira vez que nos vimos. Obeso, calvície evidente e muito envelhecido para a idade, o que foi fácil de verificar através da ficha onde constava a data de nascimento. Atitude defensiva, olhar perscrutador de quem está a ser obrigado a um exame não solicitado, esperando a abertura do interrogatório. Iniciei com as perguntas usuais, onde trabalhava, o que fazia, às quais respondia secamente. De repente, antes de lhe perguntar algo nesse sentido, ou seja, se sofria de algum problema de saúde, adiantou-se dizendo que sofria de doença renal crónica, enquanto empunhava as análises a comprovar. Estudei os resultados e o historial histórico das determinações anteriores. Foi fácil de verificar que era verdade. Mas como tinha havido melhorias substanciais face aos últimos resultados, aproveitei a ocasião para realçar e gratificar o senhor de que estava muito bem compensado. Parabéns! Foi então que me respondeu com um certo ar de superioridade, para não dizer de inesperada arro

Praxinoa

Já perdi o conto às tentativas de criar um blog só para mim, não por uma questão de diletantismo, mas como forma de me refugiar em mim próprio partilhando as minhas reflexões e angústias com quem tiver a pachorra de me ler, evitando ser alvo de ataques, por vezes desproporcionados, injustos e muitas vezes tradutores de comportamentos difíceis de entender; evito classificá-los. Procurei um título, mas acabo sempre por cair no mesmo, Praxinoa. Porquê "Praxinoa"? Por uma razão muito simples, que vou tentar explicar em breves linhas. De vez em quando há um ou outro livro que nos marca mais. Foi o que me aconteceu há muitos anos, quase dez, quando li "Amores de Safo" de Erica Young. Uma obra romanceada sobre a cantora do amor. No livro de Young há uma passagem que me cativou, Safo, a cantora-poeta, ao arribar a uma ilha, acompanhada da sua escrava Praxinoa, na sequência de um naufrágio, deparam-se com três mulheres a dançar na praia. Debatiam sobre a razão do viver. Hele

"Café pingado"!

Quando começamos a frequentar certos lugares desconhecidos torna-se indispensável criar rotinas de toda a espécie, onde ir tomar o café da manhã, onde almoçar, onde repousar durante alguns minutos antes de reiniciar o trabalho, o que fazer durante este período e como adaptá-lo ao sabor das estações, ou seja, somos obrigados a criar mecanismos de ajustamento à nova realidade. Não é fácil, leva algum tempo, mas depois torna-se tudo mais aligeirado e, sobretudo, menos angustiante. A manhã tinha despertado sob um frio intenso agravado pelo correr da brisa. Ainda faltavam alguns minutos para começar a trabalhar o que me deu tempo mais do que suficiente para ir a um café próximo, que está na mira de se tornar um ponto de atração. Já lá tinha ido algumas vezes, não muitas, pequeno, familiar e com padaria associada. Vi que o senhor que me atendeu se tinha apercebido de ter lá ido outras vezes àquela hora e, sorrindo, perguntou se queria um café. Disse que sim. Enquanto