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A mostrar mensagens de 2013

Coletânea...

Tive preguiça. Não publiquei na altura. Agora apeteceu-me. Aqui vai uma pequena coletânea de textos. Almoço Almocei. Almocei bem. Soube-me tão bem! Descanso um pouco, porque daqui a pouco vou trabalhar, e ainda bem. Não há bem maior do que ter trabalho, trabalho que me faz sentir bem. O meu trabalho é diferente de muitos outros, ajudo e aprendo a fazer o bem. Não sei o que me espera, não interessa, porque se estiver atento vou descobrir tanta coisa que me vai fazer sentir bem. Não é só um bom almoço que me faz sentir bem, uma conversa, uma história também me faz sentir bem. O que eu quero é sentir-me bem. Não tarda e vou a correr. Para quê? Para descobrir onde para o meu bem, um bem que justifica o meu desejo de ser um homem de bem. Eu quero ser um homem de bem. Mensageiro Não a via há muito tempo, desde o dia em que lhe fiz o diagnóstico de um mal. Sei o que lhe andaram a fazer. Nunca mais apareceu, também não tinha de aparecer, andava e anda no sítio apropriado para

"Poesia e figos"...

Recordo que num dia de sol, deveria estar em férias, ao entrar na sala de comer da minha avó, onde estavam guardados tabuleiros com figos secos, sacos de feijão de diferentes cores, e duas ou três abóboras à espera de serem sacrificadas, vi, ao canto, um livro de capa esverdeada com aspeto de ter sido queimado. Aproximei-me e li que era da autoria de Luís de Camões. Já sabia que tinha escrito os Lusíadas. Pensei que seria o tal famoso livro de que ouvia falar com tanto entusiasmo. Senti uma estranha curiosidade em ler o livro, que deveria ser muito belo. Mas o título não era os Lusíadas. Via-se mal, muito mal, porque tinha a capa muito queimada, nalguns sítios mesmo negra, como se o tivessem retirado do lume. Abri-o e vi que tinha muitos versos, quadras e sonetos. Eu já sabia o que era um soneto, o professor de português já tinha falado sobre isso, e ouvia com frequência a expressão "é pior a emenda do que o soneto". Aprendi o significado embora sem perceber muito bem o que

"Tempestade"...

Adoro as montanhas. Adoro ver as mudanças de humor, calma, suave umas vezes, agreste e bruta outras. Adoro ouvir as montanhas, adoro ouvir os seus sons, gritos de dor, urros de raiva, murmúrios de ternura, cantares de alegria e mudez de espanto. Adoro ver as montanhas. Têm vida, estão em constante movimento e são como os humanos, imprevisíveis, amorosos, violentos. Adoro as montanhas. Hoje, a montanha assustou-me. Chorou de raiva e gritou de dor. Os meus ouvidos tremiam sempre que a ouvia. As nuvens esbarravam nas encostas. Fugiam com medo dos violentos ruídos. Hoje, a montanha encantou-me. Vi nuvens atarantadas sem saberem por onde ir. Vi pássaros suspensos no ar lutando pateticamente contra o vento. Hoje, a montanha seduziu-me. Se pudesse, ficava ali até desaparecer o seu mau humor e ver novamente a beleza da tranquilidade das folhas douradas, dos verdes da vida e o encanto do vermelho de bagas. Hoje, a montanha acalmou-me. Regressei. Assim que cheguei pus-me a saborear as emoções

"Desenho"...

Há tempos, uma colega mostrou-me a fotografia de um quadro que retratava a igreja de uma aldeia. Obra de um parente seu. As cores eram vivas, quentes, cheias de alegria, como se o sol estivesse em todo o lugar, na torre, na cruz, no sino, nas paredes, nos muros, nas árvores envolventes, num casario indefinido e em carreiros tortuosos. Um quadro em que a realidade se tinha transformado numa visão que só um artista consegue colher. Neste caso, o quadro era quente, quente no tempo, quente na fé, quente no calor humano, quente para os não crentes, apenas quente, cheio de todos os tipos de calor. Nunca mais o esqueci. É uma daquelas obras que fica registada para sempre. Um dia cheguei a passar pela localidade em questão. Vi a igreja, as paredes, os muros, o arvoredo, o velho casario e os tortuosos carreiros. Vi. Gostei. No entanto, gosto mais da lembrança do quadro. Muito mais, porque apesar de ter feito a visita num dia de calor, procurei os outros calores, mas não os encontrei, apenas me

"Purgatório"...

Sinto-me numa espécie de purgatório, um local que sempre imaginei ser confuso, indefinido, triste, doloroso, cinzento, uma espécie de corredor da morte à espera da aplicação da sentença ou de uma inesperada mas pouco provável absolvição. Em pequeno ouvia aterrorizado os três patamares do outro mundo, a promessa do inferno era mais do que certa. O cinismo, o sorriso amarelo e frio recaíam sobre mim de forma violenta. Tremia sempre que o ouvia falar para onde iria caso não cumprisse com a ditadura e a norma da religião. Ir para o céu estava fora de questão, tamanhas eram as exigências e condições. Como não era destituído de razão não me foi difícil perceber que nunca lá poderia entrar. Restava o purgatório, um espaço confuso, indefinido, triste, doloroso e cinzento, no qual, na melhor das hipóteses teria de ficar quase uma eternidade a não ser que rezassem por mim ou metessem cunhas e mais cunhas para ir para cima. Nunca acreditei que tivesse tal ajuda para alcançar o céu. Vendo como

"A tela"...

O pintor pegou no pincel, deitou-o ligeiramente de lado sobre o montículo da cor, rodopiou-o com gentileza, embebendo-o de emoção, e começou a beijar a tela. A tela, pálida de ansiedade e ávida de vida, estremeceu ao primeiro contacto. Tentou perceber de onde vinha o calor da carícia. Uma breve carícia que desapareceu imediatamente, deixando-lhe uma sensação amarga e uma delicada dor a querer rasgar-lhe o peito. Não demorou muito esta inquietação, porque de seguida começou a sentir novas carícias, que lhe iam aliviando as dores e a ansiedade, enchendo-a de emoções, despertando-lhe prazeres nunca sentidos e embriagando-a de sensações voluptuosas. Fechou os olhos, cheia de curiosidade, tentando adivinhar quem lhe dava vida, e esperançosa em ter uma alma. Sempre desejou ter uma alma. Ouviu vezes sem conta conversas sobre a arte, a beleza, a emoção, o sentimento e sobre ter alma. Sonhava em receber no seu peito a arte, a beleza, a emoção, o sentimento e, sobretudo, ter alma. Quando olhava

"Meio-dia"...

A manhã passou depressa e o dia começou a enriquecer-se sem ter necessidade de fazer qualquer esforço. Ouço, comento, e depois deixo correr as almas dos meus interlocutores como se fossem bolas coloridas nas mãos de crianças. Mas não são crianças, longe disso, às tantas já têm dificuldade em recordar esses momentos, porque as doenças, os desencantos e as vicissitudes da vida, espelhados em olhos tristes e nos corpos doloridos, começam a fazer das suas. Sinto que têm vontade de voltarem a ser crianças. Sorrio. Empurro-as, e elas deixam, não se importam, até me agradecem. Contam tudo, falam de tudo, desnudam os seus pensamentos, dúvidas, temores e incertezas, quase que se esquecem das dores e dos tormentos do corpo. Às vezes esquecem-se mesmo. Reparo que têm necessidade de alguém que os possa ouvir, que os deixe falar, lamentar e purgar muita coisa que lhes vai na alma. Eu ouço-os. Não me canso, pelo contrário, fico com a sensação de que descanso. Os dias vão passando, e eu acabo por ir

"Novo dia"...

Começa um novo dia, um dia que vai gerar histórias, um dia que me vai surpreender com palavras, gestos, angústias, alegrias, tristezas, dúvidas, um pouco de chuva, com toda a certeza, e com algum cansaço que, a esta hora, hora em que começa o novo dia, já se faz sentir. Cansaço do corpo? Cansaço da alma? Cansaço da vida? Cansaço das desilusões? Talvez, um cansaço estranho e mais estranho fica no começo de um novo dia. Todos os dias têm um começo, mas há alguns que são a mera continuação ou uma péssima reprodução de outros que ficam na memória pelo desencanto. Há dias que começam com uma sensação de cansaço. Há dias que começam com ar fresco, frescura que não acalma, não adoça e nem embeleza o novo dia. Há dias, em que o começo do dia é velho, feio, pesado como muitos outros dias. Dia sem interesse, dia sem valor, um dia para passar como tantos outros dias. Talvez não, talvez não seja assim, tão mau, tão cinzento, tão desesperançado. Quem sabe se não terei arte e engenho para transforma

"Nomes"...

Nomes. Tudo tem um nome, se não tiver deixa de existir. É o nome que identifica o objeto, a ideia, a pessoa ou a montanha. Tem nome? Tem. Então existe. São tantos os nomes de pessoas que até custa a crer. Podiam ser todos diferentes mas não, algumas partilham os mesmos, sonoros, fechados, alegres, sorridentes, macambúzios, irritantes, disparatados, há para todos os gostos e para quem não tem gosto. Gosto de os pronunciar em voz alta ao mesmo tempo que olho para a face do dono. Gosto de misturar a musicalidade ou o ruído do nome com a expressão facial. Gosto de perguntar o nome dos filhos, gosto, porque sinto que o nome não é uma mera indicação de singularidade de uma pessoa, é muito mais do que isso, por vezes é o nome que molda a personalidade de um indivíduo. Há cada nome, há cada razão sem razão, há muita confusão e quem se lixa muitas vezes é o pequenino mexilhão. Eu nem me atrevo a dizer qual a minha opinião. Mas digo, agora estou a recordar. Quando o nome é suave, quando o nome t

"Natureza humana"...

Nasceu mal. Cresceu mal. Vive mal consigo e com os outros. Não presta. Não há solução. Há laivos episódicos de esperança? Sim, há. Há momentos dourados capazes de a enobrecer? Sim, há. Só que rapidamente se esfumam na memória. Há momentos de grandiosidade? Sim, há. Só que morrem rapidamente às mãos dos desonestos. Há garantia de uma melhor vida? Sim, há. Relegada para quando descer ao fundo de uma fria cova, porta de entrada no paraíso prometido. Há sinais de solidariedade? Sim, há. Quando a consciência se esconde atrás de gestos de vergonha de uma nudeza existencial. Há sinais de que a natureza humana irá um dia transformar-se em algo de belo, de poético, intemporal e universal? Não, não há. Nunca houve e nunca haverá. A natureza humana é tudo aquilo que não se vê, é tudo o que não se encontra. A natureza humana é má, má pela sua própria natureza, falsa pela vontade de a modificar, virtual, algo sem igual e sempre à espera de fazer mal. Nada pode a igualar. Há momentos que fazem esque

"Preso"...

Sinto-me preso. Preso ao relógio, preso à espera de outros, preso à vontade de quem desconheço, preso na solidão de um final de manhã, preso às mãos de poderes, preso sem liberdade de sonhar, preso sem poder fugir para os meus recantos, preso à vida, uma vida que não me satisfaz, uma vida que não me dá paz, uma vida que me aprisiona em redes de caprichos e de misérias. Ouço o toque de um sino preso na torre distante. Toca com tristeza. Sente-se preso. Toca de forma pausada como se cada toque não fosse mais do que a lamúria de uma chicotada. É diferente do meu sino, que é mais alegre, livre, espontâneo e que me prende como só ele sabe. Eu não me importo que me prenda, porque o seu som e intimidade são deliciosas formas de me libertar da vida. Aqui estou, ainda estou, preso à vontade dos outros, preso e ansioso por me libertar. Tenho fome, mas troco a fome do meu estômago pela fome de um momento de liberdade onde possa sentir o futuro, ver a esperança, admirar a beleza de um recanto e de

"Fim do dia"...

Aproxima-se o fim de mais um dia. Dei aulas, trabalhei, falei, comentei, passeei, acabei de ler o que me faltava, fui à baixa, cortei o cabelo, vi pessoas, olhei para as ruas, vi o que nunca tinha visto, passeei por locais onde me esqueci de passar, senti o cheiro a urina, ia inebriando-me com o álcool embutido nas vielas e ruelas da alta, fui quase atropelado por dois estudantes cegos de cerveja que se equilibravam agarrados um ao outro, apreciei arte esculpida nas paredes e espalhada nas ruas, revoltei-me contra os graffiti que desfeiam o património mundial, resolvi problemas do dia-a-dia e, agora, sentei-me a pensar no que deveria fazer. Eu sei, mas não me está a apetecer, o que eu queria era escrever e transmitir mil e um sentimentos, desenhar traços de alegria, pintar aguarelas coloridas da vida e terminar com um soluço da alma, um soluço de esperança, um soluço de paz, um soluço de vida. Talvez amanhã, longe, noutros ares, consiga ouvir a voz da inspiração. Talvez amanhã, ou ter

"Hébil"...

O Natal aproximava-se a passos vistos. As noites na baixa eram verdadeiros convites para saborear o frio, ver as montras e sentir o calor das luzes coloridas. O roncar metálico dos elétricos a saltitarem nos carris não incomodava, pelo contrário, conseguia dar um toque de vida forte ao belo espaço que era a baixa coimbrã. Fui de propósito à Galeria do Primeiro de Janeiro ver uma exposição de pintura. Entrei. Estava apenas um senhor de alguma idade, cabelo a cair sobre os ombros e que vestia uma gabardina que já deveria ter conhecido melhores dias. Pensei, deve ser alguma espécie de porteiro a vigiar o espaço vazio. Vi todos os quadros com detalhe até que parei em frente de um. Era o mais pequeno de todos e fugia à temática dos demais, nitidamente. Olhava, olhava mais uma vez e não conseguia sair dali. O senhor aproximou-se por detrás, sem que eu desse conta, e perguntou-me se eu gostava do quadro. -Sim. Gosto. Muito interessante. Tem qualquer coisa que me seduz. Riu-se e comentou: -

"Raiva e ódio"...

A raiva e o ódio são os gumes de punhais venenosos e mortais. Os seus autores não conseguem escondê-los durante muito tempo. As suas almas, bons berçários, não são o melhor pasto. A raiva e o ódio vivem à custa de almas inocentes. Explodem ao mínimo sinal. Entram nas pobres almas, e, rapidamente, começam a corroer as entranhas. Tamanha é a fome da destruição, tamanha é a dor da destruição e tamanha é a felicidade dos seus autores. Resta a morte da incompreensão, morte adiada, morte certa, morte esperada. Que morra, que mate, que desapareça. Maldito seja o turbilhão da raiva e do ódio que corrói sem compaixão um pobre coração. Santa Comba Dão, 21.09.2013

"Repouso"...

Procuro o repouso, procuro e não o encontro. Procuro o repouso, o repouso de uma noite calma, sem frio, sem angústia e sem medo. Procuro o repouso para um corpo macerado pelo tempo e para uma alma desiludida que se sente meio perdida no dia-a-dia. Mais um dia, um dia que parte e uma noite que rejuvenesce. Procuro o repouso nas entranhas da noite e na escuridão do silêncio. O corpo agradece e a alma enobrece. Procuro repouso em todos os cantos, mesmo que não ouça cantos de esperança. Procuro o repouso no espelho de água da noite, espelho que sabe melhor do que eu o que é o repouso. Invejo o seu repouso. Procuro o repouso nas palavras que penso e nas frases que escrevo. Procuro mas não encontro. Fogem-me as palavras e escondem-se as frases. Apenas a lua se mostra, imponente, vaidosa, brincando com a sua imagem no espelho de água da noite. A lua escreve, vejo bem que escreve, desenha letras, inventa palavras e pinta belas frases no espelho de água da noite. Eu olho para o espelho de água

"Deixem-me viver"...

Deixem-me viver. Eu só quero viver para poder sentir o calor de um novo dia e a frescura tranquilizadora de uma noite escura. Deixem-me viver. Eu só quero viver para poder inebriar-me com um gesto de beleza e retribuir com amor e gentileza. Deixem-me viver. Eu só quero saborear a paz de uma sombra e recordar as alegrias de outrora. Deixem-me viver. Eu só quero sentir o prazer de uma gentil atenção e agradecer com a ternura do meu coração. Deixem-me viver. Eu só quero saborear o silêncio da multidão e não ser reconhecido na solidão. Deixem-me viver. Eu só quero ver as folhas a adormecer e encantar-me com tanto prazer. Deixem-me viver. Eu só quero viver para que todos me possam esquecer. Deixem-me viver. Deixem-me viver. Deixem-me viver que eu um dia saberei como agradecer. Eu só quero viver... Santa Comba Dão, tarde de domingo, 22.09.2013

"Reencontro"...

Reencontrar pessoas permite saborear a juventude do passado na mente atormentada do presente. Reencontrar pessoas permite saborear doces explosões de sentimentos e de lembranças que o tempo quis matar. Reencontrar pessoas permite conhecer os frutos de velhas sementes adormecidas. Reencontrar pessoas permite que as almas se libertem inebriando-se de amor e de saudade. Reencontrar pessoas permite acreditar que a vida tem significado, mesmo que a vida seja um mero parêntesis condenado ao esquecimento. Viver é reencontrar o passado no presente. Viver é semear os reencontros do futuro. Lisboa, sexta-feira, 20.09.2013

"Ditado"...

Entrou revelando alguma dificuldade na visão, mas, mesmo assim, o olhar embaciado pelo tempo não conseguia esconder que ainda mantinha alguma vitalidade física e uma sabedoria interessante. A pele, encarquilhada pela idade e curtida pelo sol, dava-lhe um ar típico de uma figura retirada de um quadro a óleo de cenas agrícolas. Queixava-se de dores nas costas. Tudo aconteceu depois de andar a carregar baldes. - Mas andava a transportar baldes de água? - De água? Não! De milho, milho seco da eira para as arcas. Milho para o inverno. Não me foi difícil saber o que poderia estar por detrás. Mais algumas perguntas, e outras tantas respostas, às quais juntou esclarecimentos sobre o seu pequeno calvário, levou a que o rural, de olho baço mas vivo de sabedoria, começasse a mudar de entoação. Baixou de tom, começou a querer engasgar-se de propósito, denunciando que pretendia dizer algo que não devia. Apercebi-me da sua vontade, logo, utilizei uma estratégia de desinibição, permaneci calado e c

"Fazer horas"...

Pressiono o tempo para ter tempo para fazer horas. Consegui algum tempo e agora estou a saboreá-lo como se fosse um delicioso café. Escolhi a sombra ao ar livre e sinto a frescura do mar que está ali perto sem se preocupar com o tempo. Eu faço horas e o mar faz saudades. Cada um faz o que pode. Ai se  o mar me desse horas, se me desse horas eu enchia-o de saudades. Afinal, o que é que eu quero? Apenas fazer horas para não ter saudades. Que saudades! Figueira da Foz, 19.09.2013

"Pálpebras pesadas"...

Todos os dias conheço novas pessoas, pessoas que me permitem identificar formas diferentes de pensar, de estar, pessoas que me desafiam com os seus olhares, pessoas que se entretém a decifrar o que vou dizer, pessoas que não sabem quem sou, pessoas que eu desejo conquistar, para informar, para debater, para seduzir os seus intelectos e para poder partilhar a minha vida que se arrasta e se encarniça com tantas coisas, coisas que me detestam e que eu detesto, coisas que me desprezam e que eu pretendo ignorar, coisas sem significado, coisas sem sentido e sem fim, apenas coisas à espera de se volatilizarem no esquecimento que tarda, e invejosas de não poderem mergulhar numa esperança adiada que desespera, coisas que só sabem provocar sofrimento e angústia. Tudo passa, pois passa, porque tudo, afinal, não passa de um equívoco. Coisas da vida. Olho e falo com muitas vidas, e vou bebendo e compreendendo o significado da vida. Uma pequena conversa, um pequeno detalhe, um pequeno comentário,

"Recompensa"...

Um professor que gosta de ensinar e de aprender necessita de ser recompensado. É humano, é natural. Qual é o tipo de recompensa que procura? Ser considerado? Ser respeitado? Obviamente que ser-se alvo destes tipos de apreciação é agradável. Mas o que eu gosto mesmo é saber que certos conceitos foram ou são apreendidos pelos alunos e ter a certeza de que os mesmos irão mudar e ajudar as suas formas de pensar e, consequentemente, influenciar os seus mundos, profissional, social e familiar. Caso consiga esse desiderato, então, dou por bem empregue o meu esforço e a minha dedicação ao ensino e à investigação. Mas como posso ter a certeza que influenciei ou influencio os meus alunos? Imaginando que sim? Especulando sobre isso? Desejando ardentemente ter sido útil? Não sei. O que eu sei é que de quando em vez, inesperadamente, sou confrontado com situações deveras recompensadoras do meu esforço. Quando tal acontece sinto que vale a pena ter a atividade que tenho. É um belo momento de glóri