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A mostrar mensagens de novembro, 2012

Mentiras, verdades e publicidade.

Em 1999 foi desencadeado um inquérito sobre uma eventual conspiração entre as tabaqueiras para esconderem do público os efeitos nocivos do tabaco. Durante mais de cinquenta anos as tabaqueiras fizeram um cambalacho notável de modo a promover os seus produtos utilizando inclusive aditivos com o objetivo de provocar maior dependência. Agora, finalmente, foram condenadas a admitir publicamente o que fizeram nesse sentido. O Supremo Tribunal norte-americano foi contundente obrigando à retratação pública focando cinco pontos, efeitos adversos para a saúde, as consequências para os fumadores passivos, o poder aditivo da nicotina, a mentira sobre os produtos light e os erros publicitários sobre estas mentiras. Durante dois anos terão de comunicar as suas atividades através da comunicação social e dos próprios maços de cigarro. Vai ser muito interessante ler as novas frases. A reação das tabaqueiras foi curiosa, pediram escusa às medidas de correção, porque consideram que estas decisões têm

Mulher de vermelho

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Vou a correr, não posso atrasar-me. Uma figura de vermelho saltou do lado esquerdo. Parei. Tratava-se de um cartão recortado em forma de mulher preso a um poste. Fiquei curioso. Tinha uns dizeres. Li-os. Tratava-se de uma iniciativa relativamente ao “Dia internacional para a eliminação da violência contra as mulheres”. Passei a ter tempo, deixei de ter pressa. O cartaz dizia o seguinte: “Foi espancada durante 12 anos... Entre as sequelas com que ficou, conta-se a parcial deficiência de uma das mãos. A sua relação com o marido, quando começaram a viver juntos era normal: “Ele era atencioso, moderado, não imaginava o que se iria passar mais tarde...” Considerei a denúncia forte e impressionante. Por isso pus-me a refletir sobre o assunto enquanto via passar as pessoas. Duas senhoras, que iam a atravessar a estrada, embicaram diretamente para a figura de vermelho. Começaram a ler mas puseram-se logo a andar. Que raio! Porque é que não leram a pequena história? Continuei parado jun

Afinal "estão ali", ou estavam!

Em miúdo comecei a ouvir que havia ovnis. Pedi algumas explicações sobre o tema; disseram-me que eram seres de outros planetas que vinham até nós em discos voadoras. Que aspeto é que têm, como falam e onde é que vivem foram algumas perguntas que não deixei de formular. Apontavam para a Lua e diziam-me que viviam lá seres muito estranhos. Eu acreditei, e comecei a passar horas, sobretudo durante a lua cheia, para ver se via algum. Depois foi Marte e até Vénus como sendo os locais de onde eles provinham. Eu lia banda desenhada e muitas das aventuras tinham a ver com seres muito esquisitos daqueles planetas. Eu acreditei. Um pouco mais tarde, não muito, ficava de ouvido atento ao rádio à espera de comunicados de outros mundos. Como tinha ouvido falar nisso, aproveitei as ondas curtas para ver se seria o primeiro humano a entrar em contacto com outros seres. Nada, só aqueles estranhos ruídos próprios das ondas curtas. Desisti. No entanto, continuei a alimentar esperança de que um dia s

Saúde, negócio e turismo

Há uma tendência global para nivelar os comportamentos dos seres humanos, não em função de princípios éticos ou regras morais, mas sob a alçada de interesses pessoais e económicos. Mesmo que as leis de alguns países sejam elaboradas com base em princípios éticos ou ditadas pelas regras morais, outros conseguem não ter legislação ou, então, quando a produzem, vão de encontro a desejos óbvios. Quando surge esta discrepância é fácil de prever o que irá acontecer, os que vivem em países com legislação "superior" vão a esses paraísos e conseguem realizar os seus sonhos. No fundo, os paraísos não são só fiscais, há também paraísos na área da saúde.  A saúde tornou-se um dos maiores negócios da humanidade. O turismo da saúde constitui uma realidade em alguns países e, agora, face à tal discrepância legal, muitos deles sabem como abrir as portas para esse negócio. O turismo da saúde atrai, sempre atraiu e vai continuar a atrair.  Temos consciência da deslocalização de muitas in

Paz

É um sítio mágico, só pode. Sempre que vou à localidade entro naquele espaço. A alvura das paredes e o silêncio entrecortado por agradável música de fundo faz sentir a alegria e o renascer da paz. Há qualquer coisa de misterioso que convida à reflexão, ao abandono dos sentidos e ao adormecimento dos problemas. Mesmo o frio é diferente, enquanto lá for agride o pescoço, aqui não, um calor natural que arrefece a inquietação e alumia a mente. Há qualquer coisa de misterioso que me impele, mesmo que seja por breves minutos, a entrar neste espaço. Faço-o com prazer e até por necessidade, porque há algo de misterioso que não consigo explicar. Entrei, estava vazio, exceto na capela lateral. Uma senhora vestida de casaco vermelho rezava com empenho à Senhora. Uma pessoa de fé, naturalmente. Não sei o que lhe disse ou o que pediu, mas fosse o que fosse decerto terá sentido tranquilidade, porque o ambiente está repleto de partículas de paz que se respira e que se sente. Olhei para aquele qua

Meninos roubados

Certos acontecimentos causam-me estranheza e incompreensão. Dou voltas e mais voltas, mas não consigo encontrar justificação para os ditos. É certo que os seres humanos são todos diferentes uns dos outros, física e intelectualmente, isso é bom, mesmo desejável, desde que não implique a adoção de atitudes que possam provocar dano nos seus semelhantes. Em Espanha o fenómeno dos meninos roubados à nascença é uma das maiores obscenidades que pode atingir uma sociedade, e que merece algumas reflexões. Cerca de 300.000 pessoas terão sido atingidas por um processo de falsas adoções e compra de bebés. Tudo começou com a guerra civil em que eram retiradas às combatentes republicanas presas os seus filhos para serem entregues às famílias franquistas. Uma estratégia maligna, castigar as republicanas e “nacionalizar e cristianizar” os pequenos. Lentamente o sistema “aperfeiçoou-se” com a retirada das crianças aos pais sempre que estes necessitassem de socorrer das instituiç

"Pois, pois!"

Há dias numa consulta de rotina de medicina do trabalho tive a oportunidade de observar um trabalhador, obeso, de 45 anos de idade, que referenciou um historial de quatro enfartes. - Quatro enfartes? É obra! Exclamei. A sua resposta, acompanhada de um sorriso tipo “pois, pois”, foi a seguinte: - Os médicos dizem que eu tenho um coração muito forte para aguentar quatro enfartes! O exame continuou e perguntei-lhe se tinha sido fumador. Olhou-me, relançando novamente o sorriso “pois, pois”, e, abanando a cabeça, disse que continuava a fumar. Fiquei perplexo e sem palavras. - Mas assim corre riscos muito graves! – Oh senhor doutor já tentei tudo, fui a consultas de desabituação mas não consigo. Da última vez que tive um enfarte foi a própria médica que disse que não valia a pena deixar de fumar, porque senão entrava em stress e era pior. - !?!. Calei-me. No entanto, a reação do trabalhador à minha conduta foi interessante. - O senhor doutor parece que ficou preocupado! – Oh homem estou me

Praxe, crime, estado.

Eu acompanhei o caso na altura. Fiquei chocado porque não consigo imaginar o mau uso da praxe, uma forma de iniciação que deve respeitar sempre os direitos dos envolvidos de modo a facilitar a integração num meio novo e criar bases para longas e inesquecíveis amizades. O jovem universitário em causa foi objeto de práticas que lhe provocaram a morte. Nestas circunstâncias mandam as regras que se investigue o caso e que sejam punidos os autores.  Praticamente tudo o que acontece em nosso redor é rapidamente esquecido e, em certa medida, substituído por outros com prazo de validade muito curto, foi o que aconteceu com este caso. Hoje li uma notícia sobre este assunto. Fiquei um pouco perplexo, não porque o tribunal de relação do Porto tenha confirmado a decisão do tribunal de primeira instância, obrigando a universidade a indemnizar os pais pela morte do filho, mas por causa do crime em si mesmo. Curioso. O jovem morreu em consequência de práticas violentas cometidas pelos praxistas

Ninfas

Cheguei cedo. O sol devia estar a sonhar. Brilhava intensamente mas não aquecia. Senti um agradável frio embrulhado em feixes de luz. Um contraste que aprecio imenso. Pensei, deve ser um sonho do sol, só pode. Quando acordou, tarde, redimiu-se, permitindo que pudesse desfrutar uma inesperada vivência, ver nascer um rio. Não é a primeira vez que vejo o local de nascimento de uma artéria da vida. Há algo de misterioso, ver como tudo acontece, ver a vida sair das entranhas das montanhas, de enormes úteros, prontos a lançar os seus frutos. A atmosfera, silenciosa e límpida, acariciava as águas puras, uma pureza singular, num maravilhoso acasalamento indiferente ao olhar humano. Subi mais um pouco, a água desapareceu, mas a calçada, bem desenhada, povoada de pedras vestidas de veludo verde, indicava para a vaginal entrada da montanha. Estava misteriosamente fechada, aguardando o momento voluptuoso de um orgasmo da natureza, em que ninfas sedutoras emergem para correr alegremente saltando d

Dia de São Martinho

Um dia suave. O sol acordou hoje com vontade de querer mitigar as dores da alma. É a sua obrigação, Deus obriga-o, neste dia, a reconhecer a bondade dos humanos. E faz muito bem, pelo menos, uma vez por ano, afasta o frio do tempo e o frio da tristeza da vida. São poucos dias, mas são suficientes para manter a esperança em melhores tempos. De manhã, ao longe, no silêncio crescente da desertificação do interior, alguém se lembrou de lançar uns foguetes. É dia de São Martinho. Nas redondezas há uma igreja dedicada ao santo, e os parcos habitantes dessa pequena aldeia ainda conseguem ser generosos, lembrando-se do santo e da sua lenda.  O dia de São Martinho relembra um dia frio, a pobreza humana e uma capa cortada em duas para aquecer dois corpos. O dia de São Martinho constitui um sinal de solidariedade humana, manifestando-se numa lenda em que a recompensa divina se manifesta de forma interessante; o sol, nesta altura do ano, aquece os corpos dos necessitados. Deus, por vezes, tem

Despedida da vida

O dia amanheceu coberto de nuvens que lançavam pesadas gotas, frias e cinzentas. O chão esfriou, o calor da terra desapareceu. O dia estava traçado, permitindo adivinhar uma invasão de tristeza.  Os primeiros que entraram no consultório queixavam-se da vida, mais do que do corpo, queriam falar, queriam curar as maleitas das suas almas. Pequenas tragédias, pequenos desentendimentos, incompreensões acumuladas ao longo do tempo, choques de personalidades, enfim, o trivial da existência, magoa, pesa e angustia qualquer um. Avisaram-me que uma senhora de idade, acompanhada pela nora e neta, estava à espera da consulta. - Sabe, a filha morreu subitamente este fim de semana em França. Antevi o que se iria passar. Entrou. Depois de descrever o seu historial, e o problema que a vinha afligindo há algum tempo, rompe num choro, passando a contar o drama que estava a viver. Morreu-lhe a filha. Morte súbita. Morte solitária. É difícil desenhar em palavras a experiência da morte de um filho, a

Terror

É horrível ter que abrir o jornal e mergulhar nas notícias, um ato de tentativa de suicídio social. A natureza humana é inequivocamente marcada pelo terror, um gosto aflitivo de aplicar o sofrimento ao próximo. Um jovem, à saída da escola, na Venezuela,  foi regado com gasolina e transformado numa tocha humana. Motivo? Houve alguém que não admite homossexuais! Como interpretar esta conduta? Uma forma de terrorismo homofóbico. Logo a seguir, uma notícia sobre atitudes coercivas aplicadas a quem não tem possibilidades de cumprir com as suas obrigações. Telefonemas e ameaças feitas sobre os próprios ou familiares provocando desespero e angústia nos devedores, para os quais contribuíram muitas dessas empresas que souberam "emprestar" dinheiro fácil. Uma forma de terrorismo do crédito fácil. Mas há outras formas, como as decorrentes de velhas e perigosas ideologias, caso dos neonazis alemães que nos últimos anos foram responsáveis pela morte de turcos. Uma forma de terrorismo ra

"Pernas esculturais"

E se de repente uma estátua grega ganhasse vida? Aparecia um ser irreal, algo que nunca a natureza conseguiu produzir. Os escultores que as fizeram sabiam o que faziam, ou seja, criavam figuras perfeitas, as mais parecidas com os seres humanos, mas eram seres irreais. Sabiam encontrar as proporções exatas através das quais estimulavam, e continuam a estimular, os nossos centros cerebrais sensíveis à beleza, à estética. Sabiam de "neurofisiologia da arte", muito tempo antes de cientificamente se verificar a produção de substâncias cerebrais que nos dão prazer. O cérebro humano é sensível a constantes fibonaccianas, ou a outras que tais, e quando se confronta com tais regras, começa a produzir endogenamente substâncias relacionadas com o prazer e a tranquilidade. Esses centros localizam-se no córtex pré-frontal, o nosso mais recente cérebro. O último dos cérebros a desenvolver-se e, frequentemente, o primeiro a envelhecer e a desaparecer. Esta breve reflexão foi motivada por u

Romãs

Dia de finados. Aproveitei para descansar. Fiquei na terra, saboreei o ar, respirei o frio e lembrei-me dos conhecidos e dos partidos. Uma deliciosa sensação de paz inundou o meu espaço, quase que diria que a lembrança da morte despertou um agradável sabor de vida. Os contrastes surgem em determinadas ocasiões, só é preciso estar atento. Eu estive. Hoje, a simpatia pairava em todos os locais por onde passei. Hoje, uma estranha, enigmática e discreta alegria brotava generosamente de todas as pessoas com quem me cruzei. Nada de ansiedade, nada de temor e nada de dor, apenas tranquilidade e uma serenidade que há muito não via, nem sei se alguma vez vi tal coisa, mas hoje vi e senti. Que estranho! O ar, a água da ribeira e as folhas das árvores estavam felizes. Que estranho! As pessoas sorriam e diziam coisas bonitas, inesperadas e cheias de ternura. Paravam, cumprimentavam-se e brincavam. Não vi um ar carrancudo, não deslumbrei ansiedade, nem ar de tristeza, até mesmo aqueles em que a do

Pânico

O comportamento dos seres humanos modifica-se muito em grupo, a ponto de serem capazes de gestos brutais e irracionais, nomeadamente em caso de pânico ou de cobardia. Em caso de cobardia conseguem libertar os instintos mais primários escondendo-se ou justificando os seu atos com o efeito de grupo, uma forma de se esconderem estando visíveis. É o que acontece durante algumas manifestações. Vemos alguns celerados a apelar à violência, ao desacato, ao confronto e à destruição como se fossem a solução do que quer que seja. Incapazes, quando a sós, de fazerem o melhor para si e para os outros; cobardes a solo que se transformam em "heróis" em grupo. Este fenómeno é por demais conhecido, e não é só no decurso das manifestações, mas também aquando da formação de quadrilhas em que o bandoleirismo é rei. Nas guerras o fenómeno é ainda mais evidente. Outro efeito de grupo é em caso de pânico. Quando muitas pessoas partilham o mesmo espaço, sobretudo se for fechado, então, qualquer es

Justiça

Justiça declara a prescrição do caso Bragaparques - Especiais - DN Ponham a justiça a funcionar, antes que um dia destes passe a ser substituída pelas mãos do povo. Por causa deste caso? Não! Por todos os casos que vou lendo e ouvindo. É demais. O maior cancro da sociedade portuguesa está perfeitamente identificado, a justiça.

Embaixador de Israel

De acordo com o que me foi dado ler , o embaixador de Israel em Lisboa foi muito duro numa conferência realizada em Lisboa, afirmando que fomos "o único país que colocou a sua bandeira a meia haste durante três dias" pela morte de Hitler, uma nódoa que os judeus associam a Portugal. Quando li o título, "Embaixador de Israel diz que Portugal tem "uma nódoa" que os judeus não esquecem", pensei que estaria a referir-se ao Pogrom de Lisboa de 1506, mas não, o que os judeus não esquecem foi o "luto" de três dias determinado por Salazar. Quanto à matança de Lisboa, às tantas deve ser coisa "menor" que os judeus já se esqueceram ou não sabem, pelo menos a grande maioria. Na minha opinião, as palavras do embaixador são uma ofensa ao povo português, porque não pode ser responsabilizado pela decisão de um governante. Além do mais, o senhor embaixador deve desconhecer - não obviamente o papel dos dois "justos" portugueses -, inúmeros