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A mostrar mensagens de julho, 2012

Ora...

A tarde não ia mal, até que surgiu a jovem rechonchuda cheia de tatuagens mal feitas e sem gosto. A certa altura do exame comunicou-me que estava grávida. Na semana passada fui à médica que disse que estava de quinze semanas, então, agora está com dezasseis. Hum, pois, deve ser. Ao levantar-me para a examinar passo pela cadeira onde se tinha sentado e vejo um pequena carteira, um telemóvel e um maço de cigarros preto, John Player Special. Desculpe-me, mas a senhora não fuma, pois não? Fumo. Fuma? Grávida? Mas isso não é aconselhável. Eu sempre fumei, ripostou. Foi então que tive de argumentar, tentando proteger a saúde da criança, explicando-lhe os riscos e a falta de respeito pelo filho. Quanto a si não tenho nada a dizer, fume ou não fume o problema é seu, mas quanto à criança tenho o dever de a proteger. Devo ter ficado com cara de poucos amigos e tinha razão para isso. Fiquei visivelmente incomodado e a jovem não deve ter gostado nada da conversa. Que se lixe, pensei. Saiu e contin

Silêncios

A tarde de domingo já vai a meio. Chega o momento do ritual. Subo a encosta, palmilho velhas calçadas e não me cruzo com ninguém exceto com os meus pensamentos, cada vez mais silenciosos, cada vez mais tristes. Um silêncio debaixo do sol não é habitual, o silêncio só gosta de se manifestar sob o calor da lua, mas há momentos, a meio da tarde de domingo em que a lua e o sol se confundem. Momentos de silêncio. Sento-me a seu lado e só oiço o seu silêncio, um silêncio que perturba quem ouve e sente o estrebuchar de vidas. Hoje, naquele quarto mais pessoas foram visitar os seus, numa obrigação ou devoção, chamem-lhe o que quiserem, porque o rei e o senhor daqueles espaços é o silêncio, silêncio de almas que há muito abandonaram o corpo e o silêncio dos que sabem que ainda têm alma. Calados, todos. Um ou outro bocejo, como se o silêncio de corpos sem alma ainda fossem capazes de contagiar os sobreviventes. Olhar para um ponto distante e imaginário à espera de não sei o quê, algo que quebras

É demais!

Javier Esparza, neurocirurgião infantil, relata num editorial, no El País, a sua experiência de quarenta anos a tratar crianças com graves problemas, nomeadamente malformações do sistema nervoso central. A sua descrição da espinha bífida é dramática para todos, nomeadamente para as crianças, a ponto de perguntar se é ético obrigar um ser humano a sofrer tão violentamente. Esparza conclui que não, que não é ético, não é minimamente aceitável impor a alguém tamanho sofrimento. Ele sabe muito bem o que diz. O seu editorial prende-se com o facto de a corrente governamental pretender alterar a lei de aborto por motivos doutrinários. Nessa mesma edição, pode-se ler o relato de Gloria Muñoz a propósito da morte da sua filha que sofria de atrofia espinhal muscular tipo 1, que, aos setes meses de idade, após um sofrimento terrível, deixou de pertencer à humanidade. Gloria quer ter mais filhos. Sabe que corre riscos de lhe poder acontecer novamente, vinte e cinco por cento de probabilidade, mas

A monja, a ética e o capitalismo.

Corre na comunicação social, e nas redes sociais, notícias e artigos de opinião sobre uma monja catalã, médica e teóloga, que critica de forma muito direta o capitalismo por não ser ético. Ao analisar com detalhe a sua posição não vislumbro nada de novo, de facto não há ética nem no capitalismo, nem no marxismo nem em muitas outras coisas que andam por aí. É por ser monja que merece tanta atenção? É por querer referenciar os princípios éticos como a base primordial de condutas que permitam respeitar a dignidade das pessoas? Seja. A monja atinge seriamente os senhores do Goldman Sachs pelas mortes provocadas por esse mundo fora devido à miséria e à fome que provocam com as suas condutas, condutas a quem alguém chamou "assassínio organizado". Nada de mais verdadeiro. Obviamente que estas organizações fazem recordar outras que tiveram atitudes menos éticas tal como a igreja a que pertence e que ainda hoje é vista com alguma desconfiança face a certos objetivos muito pouco crist

"Sobrevivente"

Começo a ter alguma dificuldade em compreender, e até aceitar, certas designações, como "sobreviventes do cancro", uma nova classe de pessoas que passa a ter "personalidade" grupal. De acordo com os promotores da ideia, ou melhor, da designação, o "sobrevivente do cancro" é todo aquele que ao fim de cinco anos não apresenta manifestações clínicas do dito. Até aqui nada de mal, trata-se de um critério clássico para referenciar os que têm grandes hipóteses de estarem curados do mal. Mas a designação "sobrevivente do cancro" incomoda-me. Ao ouvi-la, penso de imediato nos "sobreviventes do Holocausto", mas quem diz Holocausto diz todas as tragédias em que a maldade humana consegue manifestar-se com todo o esplendor diabólico, sobreviventes de massacres, sobreviventes de guerras, sobreviventes de perseguições políticas e religiosas, sobreviventes dos gulags, enfim, são inúmeras as pessoas que conseguiram e conseguem sobreviver

"Um amigo"

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Confesso que adoro ler Jorge Luís Borges. Seduz-me a sua escrita. Fico embevecido com o seu pensamento, simples, profundo e cheio de beleza. Em dezembro de 2008, há quase quatro anos, li uma notícia sobre a descrição do memorial inaugurado em Lisboa, ao Arco do Cego, a Jorge Luís Borges. Não vinha acompanhado da fotografia do monumento, mas concluí que deveria ser belo. Poeta de pensamento simples, profundo e cheio de beleza. Um poeta cego, mas que via mais do que os que veem e que continua a ensinar-nos a ver a vida. Fiquei feliz por ter um monumento entre nós. Um encantador. Um mágico da alma. Nesse pequeno escrito prometi o seguinte: “Na próxima vez que for a Lisboa tenho que ir dar uma mirada ao monumento do autor do “ Poema aos amigos ”. Prometi que o faria. E o que é que fiz entretanto? Fui inúmeras vezes a Lisboa, dezenas de vezes, e não cumpri a minha promessa. As promessas, dizem na minha terra, têm de ser cumpridas, caso contrário, quando morremos, a nossa

Amo-te Lisboa!

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Amo -te Lisboa. Confesso que estou apaixonado por ti, sempre estive e estarei, é difícil explicar porquê. Há muito que não repouso no teu seio. Vou e regresso num ápice e não consigo desfrutar um encontro amoroso. Amo-te Lisboa. És a mais bela cidade do universo. Não sei como consegues encantar-me desta maneira. Deves ser a única sereia a quem Ulisses não se importa de se deixar enganar. Eu também não. Sabe-me bem. Obrigaste-me, mais uma vez, a vir ter contigo. És obsessiva, dominadora, castigadora, castradora, e eu tenho de obedecer aos teus caprichos centralizadores. Levantei-me de véspera e fui ter contigo. Trabalhei horas seguidas e consegui aquilo que nunca fiz a nenhum automóvel, por o miserável cérebro a aquecer como se fosse um velho motor. Ia gripando e antes que acontecesse fui refrigerá-lo nas tuas ruas e vielas. Amo-te Lisboa. És única. Mas reparo que sofres. Apagastes velhas livrarias que tanto admirava, transformastes vigaristas de antiguidades em humildes pedintes, não l

Tempo....

Sai ladeado do tempo, assusta-me a sua companhia. Ainda bem que me ignora. Prepotente. Insensível aos desejos, surdo aos pedidos, não precisa de esperar ou de adiar o que quer que seja. Não necessita vangloriar-se do seu poder, isso sabe ele muito bem. Mesmo assim deixei que me acompanhasse. Paro. Descanso na subida, ele também para, não para descansar, não precisa, ele é dono de tudo. A brisa suave da tarde obriga-o a esvoaçar mesmo à minha frente e as andorinhas põem-se em cima às cavalitas. Ao fundo, as duas serras embrulhadas em névoa adormecem, escapando aos seus efeitos. Curioso, pensa-se no tempo e ele obedece, fica mais lento, mais dócil, não sei se ele sente isso, mas eu sim. Somos feitos da mesma substância, mas eu penso, ele não, penso nele e na vida. É a mesma coisa, tempo e vida, não os compreendo, mas sinto-os. Eis aqui, a meu lado, uma vida que foi feita de tempo, tempo que não respeita a sua vida. Mas eu obriguei-o a parar. Por momentos? Sim. E agora? Agora libertei-o,

"Tonel das Dainaides"

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Por esta altura, época de exames, recordo ter assumido uma nova responsabilidade acompanhada de angústia incontrolável, própria do momento de definição do futuro de um adolescente. Revisões e mais revisões das matérias. A geografia não me preocupava e a história muito menos. Considerava ambas como formas de viajar, no tempo e no espaço. Nesses momentos surgiram algumas perguntas, por que razões alguns países não tinham fronteiras estáveis. Que chatice, se fossem como os portugueses, que tem fronteiras estáveis há séculos, as coisas seriam mais simples. Ao sobrepor a história de alguns países com os seus territórios, caso da Alemanha, as coisas pareciam-me inexplicáveis. Como é que um povo daqueles só recentemente teve a sua própria limitação geográfica, embora dividida em duas partes? Pensei, ninguém me vai fazer perguntas sobre isto. Perguntam-me as capitais, quais as principais produções, um ou outro rio mais importante e pouco mais. Mas as perguntas ficaram numa gaveta lá ao fundo t

Bernardo Torres

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Na semana passada escrevi um pequeno texto intitulado "Dois loucos" que coloquei no " O Quarto da República ". Um pequeno episódio, um entre muitos que vou colecionando com enorme prazer. Hoje sentei-me no mesmo sítio, um pouco mais cedo do que é habitual. Pensei, o meu colega louco ainda não chegou, às tantas não vai aparecer. Desliguei-me desta ideia e pus-me a ler, gozando a saborosa brisa. Eis que, silenciosamente, ao contrário da semana passada, apareceu o meu colega de escrita, transportando a sua velha pasta de cabedal, boné e uma gravata muito garrida. Entrou no cemitério. Fui atrás dele para ver o que ia fazer. Espirrou alto e em bom som acompanhado de um sonoro porra! estou constipado ou quê? Para em frente de uma campa cheia de flores, testemunha de um funeral recente. Olha, torna a olhar, cheira, torna a cheirar, sai mais um espirro valente e remata, hum, aqui houve funeral, pois houve, sim senhor. Calado, olha com muita atenção e eu não con

Os pinheiros estão a morrer!

Confrange-me ver o estado a que chegaram os nossos pinhais, doentes, moribundos, mortos, sem vigor, sem alegria, sem cor, sem as ramas frondosas de outros tempos, autênticos palitos espetados na terra como se tivessem sido acabados de utilizar por algum alarve monstruoso no final de uma refeição copiosa. Não fazem mal a ninguém, mas são vítimas de maus tratos e abusos, o fogo ou então larvas esfomeadas que se alimentam da sua seiva. Não se queixam, não sentem dor, sempre calados, apenas desejosos de que os deixem absorver os raios do sol, no fundo vivem no Nirvana. Há algo que os corrompe, a doença migra e destrói-os. São muitos? Sim, e vulgares, tão vulgares que poucos olham para eles com olhos de ver. Conhecemos alguns pessoalmente, com os quais estabelecemos laços de amizade, até porque crescemos com eles. Há dias olhei para os condenados e recordo-me de em tempo andarmos à disputa a ver quem crescia mais rapidamente, perdi, como é óbvio, mas agora perdi-os de outra forma, o que não

"E este?"

Quando a vi pela primeira vez senti curiosidade em saber que idade teria, mas não lhe perguntei, porque o programa facultou-me de imediato, 86 anos, idade real que não casava muito bem com a idade aparente. Fugia ao habitual, revelando uma desinibição a recordar uma meia loucura, devidamente controlada, típica de mulheres sensuais. Retirei-lhe as rugas da face, dei um pouco de brilho à pele, pintei-lhe os lábios, penteei-a à maneira, e não foi preciso vidrar-lhe os olhos, porque ainda tinham um fulgor luminoso de outros tempos e malícia quando basta. Queixava-se de muitas maleitas, mas não eram nada de preocupante, exceto aquela coisa do coração. Os exames não revelaram qualquer anomalia e, além de mais, conseguia caracterizar com uma precisão matemática quando tudo começava, sempre que o marido estava em casa, uma matação. Assim que ele sai, fico logo melhor, mas dá-me cabo do juízo, senhor doutor, fico logo a tremer quando ele entra, assim, quer ver, e imitava o quadro, lançando as m

Dois loucos.

Criar hábitos ou rotinas é uma das minhas principais características, é-me tão fácil que chego a pensar se não sofro de qualquer propensão para ser adicto. Por isso o melhor é escolher os mais saudáveis, ou, então, os que não sejam muito perigosos. Ajudam a equilibrar o dia-a-dia e se forem bem aproveitados permitem colher elementos interessantes que nos obrigam a refletir melhor sobre a vida e os seres humanos. Aproveitar a hora de almoço, quando estou fora de casa, para ler ou para escrevinhar é muito agradável. Faço-o frequentemente. Num do locais onde vou regularmente aproprio-me de um banco de madeira à porta de um cemitério, debaixo de uma árvore que faz de excelente guarda-sol. O que já li e o que já escrevi naquele local, e, também, o que já vi! Sabe-me bem. Não me incomoda nada o que está para além do portão. Entram e saem pessoas, eu vejo-as, tentando penetrar nas suas almas, para logo mergulhar na escrita ou na leitura. São muito poucos segundos, não dão para grande coisa. A

O negro vestido de cor de rosa.

Há uma pequena recordação de infância que nunca pude esquecer, pela beleza, pelo toque e, sobretudo, pela sensação que me produziu. Nesta altura do ano, quando me levantava mais cedo, agora é mais do que habitual, passou a ser um castigo, sentia ao alvorecer a ameaça do calor e a frescura matinal. Uma estranha combinação, sensação de calor e de frescura simultaneamente, que ocorre apenas durante um breve período. Está dito, é a combinação mais preciosa que conheço, porque consegue justificar a vida, pelo menos temporariamente. As justificações têm uma duração própria, renováveis caso o interessado assim o manifeste. Hoje, durante a curta viagem, surgiu na minha mente a figura do negro vestido cor de rosa da cabeça aos pés. Chapéu cor de rosa, casaco, camisa, gravata, calças e sapatos cor de rosa a realçar o negro brilhante da cara. Na mão direita um trompete, na esquerda um lenço, por acaso também cor de rosa. Surgiu do nada, no outro lado da rua, em pleno início da manhã. Tinha acab

"Miserável sentir"...

Estou irritado, o sacana de um vírus lembrou-se de que eu era um bom hospedeiro para dar continuidade à sua existência, uma besta qualquer que não pensa, que nem autonomia tem para se reproduzir, um estúpido que nem sabe das vantagens da transmissão sexual, um perfeito palerma que se tivesse consciência da sua existência ainda era capaz de argumentar que estava a fazer bem à minha saúde ao estimular o meu sistema imunológico ou coisa parecida como se isso fosse alguma vantagem para mim, face ao que terei de esperar a curto ou a médio prazo. Sacana, consegue mas é fazer-me sentir miserável e ainda por cima tenho de trabalhar. E a este propósito, trabalho, levantei-me muito cedo para cumprir com as minhas obrigações e respeitar os direitos dos outros. Como já vem sendo habitual não consegui começar a horas devido ao tradicional e lusitano atraso de um colaborador que não sabe ou não lhe apetece chegar a horas. Senti-me miserável. Dei uma volta para espairecer as minhas misérias e vi que

Amélie

Lembro-me ter lido, há três ou quatro anos, uma notícia sobre uma senhora belga de idade que sofria de polipatologia, Amélie, de sua graça, que conseguiu que lhe fosse feita eutanásia, depois de fazer greve de fome. Escrevinhei um pequeno texto sobre o assunto. Procurei-o. Ei-lo! A D. Amélia, com os seus 94 anos e muitas maleitas em cima, tem revelado ultimamente um quadro a que poderei chamar “cansaço de viver”. Atormentada com as dores e com significativas dificuldades na marcha, em ver, em ouvir e com um coração que há mais de vinte anos anda a ameaçar que a vai matar, lamenta-se, dizendo que já não vale a pena viver, que está cansada, que já viveu muito e que não tem nada a esperar do tempo que lhe resta ou que lhe sobra. Acresce a este discurso o muito que a vida já lhe proporcionou, tragédias e sofrimentos, os quais, ao recordar-se, agravam o seu estado de saúde. Ouço-a em silêncio e transmito o máximo de respeitabilidade pelas suas considerações. Quando deteto uma certa acalmia

"O primeiro dia de escola"...

Jorge entrou para a escola primária no dia sete de Outubro de 1957. Um dia radiante, cheio de sol. Nas vésperas andava ansioso com a expectativa da nova experiência. Os preparativos não foram nada de especial. Uma lousa e o respetivo lápis, um caderno sem linhas com umas capas transparentes e finas, com duas imagens, um casal de crianças, ela de tranças, ele de calções e ambos com uma sacola a tiracolo a correr em direção à escola com a bandeira da mocidade no mastro. O que ele gostava mais era da mala. Uma mala de cartão prensado, grená, com uma estreita tira de coro para colocar ao ombro. Orgulhoso da mala, deixaram-no no recreio com os outros meninos, uns tão novatos como ele, os restantes eram verdadeiros veteranos, alguns muito crescidos para andar na escola, pensou. Descalços, a maioria, um ou outro com umas pobre sandálias ou tamancos e quase todos com sacas de pano, quase sempre de serapilheira, onde guardavam a lousa, invariavelmente partida, e um naco seco de boroa. Olhavam p

Sopro de vida...

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Há coisas que não esqueço, porque é impossível olvidar frases ou explicações que esculpiram o pensamento de uma criança de forma lapidar, obrigando a construir misteriosas fantasias. Numa tarde de sol, sentado no chão com a restante canalha, ouvíamos da boca doce e monocórdica do padre a criação do mundo. Era o último dia da Criação. Deus lembrou-se de agarrar num bocado de barro e soprou-o dando vida ao primeiro homem. A forma solene, simples e sincera de uma personagem prestigiada, como era o padre, fez-me acreditar, pelo menos nos primeiros instantes, que a história seria verdadeira. Recordo ter imaginado um pedaço de barro, idêntico ao que os oleiros usam para fazer as cântaras, a rodar, enquanto as "mãos" do Criador lhe davam forma humana. Depois, no final, soprou-lhe na boca e a estátua de barro adquiriu vida e movimento. Não atribui qualquer representação a Deus, por uma simples razão, como não havia ainda homens e mulheres não lhe podia atribu

Cortes de subsídios

O Tribunal Constitucional diz que é inconstitucional o corte de subsídios, mas estes vão continuar atendendo à situação do país!!!! Meu Deus, então para que serve o Tribunal Constitucional? Só me resta uma única palavra que diz o que sinto neste momento: - BARDAMERDA!

O pato de ouro...

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Para a Suzana Toscano... Entrei. Já faço parte da casa. Ao longo dos últimos três anos adquiri-lhe muitos objetos, uns mais valiosos, outros nem tanto e alguns sem valor nenhum, mas mesmo sim indutores de belas histórias e reflexões que me deram muito prazer. Um bom pretexto para estimular a imaginação e dar sentido à vida. - Hoje não tem nada que me interesse? Não tem por aí ao menos alguns papéis velhos? Perguntei-lhe na expectativa de encontrar um bom tema para preencher um belo dia de sol. - Oh, o negócio está muito mau, não vendo, também não posso comprar, não acha? - Pois! Tem razão, mas é pena. Dei uma segunda volta esperançado em encontrar uma velharia qualquer que me preenchesse um vazio, o da criatividade, mas nada. Ao fundo, ouvi-lhe a sua voz de negociante, um timbre visceral a lembrar árabes nos mercados. - Tenho aqui no armário - sempre o velho armário, verdadeiro poço de belas peças de arte - uma coisa que é capaz de lhe interessar, como soub

Carregador do tempo

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Abriu os olhos e sentiu a primeira sensação da vida, milhões de pontos brancos, alguns pareciam ser azulados, a tremelicarem de alegria num fundo vazio de um negro muito transparente. Ficou a olhá-los e aprendeu o que era o movimento, só não sabia se era ele se era o céu que dançava. Deviam ser os dois, um de espanto e o outro de cortesia. Ouviu uma voz, foi a primeira vez que ouviu, a dizer-lhe que tinha sido escolhido para transportar algo de que era feito. O quê, perguntou. Daqui a pouco saberás. Os movimentos dançavam em sentidos opostos, o seu e o céu, e viu nascer à sua frente um círculo belo, inicialmente amarelo laranja, depois branco muito puro, a encher de luz fria o firmamento. Pensou, é a minha mãe. O astro riu-se e não lhe disse nada. A voz quente disse-lhe, daqui a pouco irás sentir algo de novo, muito diferente, uma luz nova, diferente daquela que tu dizes ser a tua mãe. Mas não podes olhá-la de frente e terás de transportar na tua cabeça este cesto f