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Viver...

Viver é correr. Viver é fugir para a antecâmara do sofrimento anunciado e não esperado. Viver atormenta qualquer ser. Viver é tentar esquecer. Viver nem sempre faz sofrer. Viver é um faz de conta para ninguém ver.

Silêncio...

Sons humanos e inumanos ameaçaram afogar o meu espaço. Fugi. O sol empurrou-me para a colina solitária, deserta e desnudada de pretensões e de vaidade. Uma colina que dá prazer a quem sabe contemplá-la e desejá-la. Subi e bebi os seus verdes, intensos, sujos, brilhantes, desbotados e alegres. Um belo leque de tonalidades abriu-se em meu redor. Tonalidades que só o verde sabe desenhar numa colina solitária. Colina onde o sol penetra por estreitas e escorregadias frestas do vasto e dançante arvoredo. O seu silêncio repelia todos os sons envolventes da cidade, desviando-os, apagando-os, para se acariciar apenas com o baixo rufar dos seus ramos e folhas e com os cantos harmoniosos de anjos transformados em nervosas aves ciosas do seu espaço. Olharam-me com uma desconfiança avassaladora por ter invadido o seu céu. Olharam-me uma segunda vez e recomeçaram a cantar. Cantaram num silêncio suave, resplandecente de vida e cheio de paz. Quando é que regressas? Sorri.  Deixei, subitamente,

Nada...

Nada vejo, Nada sinto, Nada desejo. Apenas ouço, Ouço sons do nada. O nada que me espera. O nada que me deseja. Como é bom ser nada...

Vou em frente...

Passo à sua frente E vejo um olhar dormente. Sinto um doce calor A sair da sua alma quente. Não paro. Vou em frente...

Arte...

Olho. Vejo quadros. Olho. Vejo estatuetas. Olho. Vejo jarras. Olho. Vejo objetos. Olho. Vejo arte. Arte silenciosa. Arte doce. Arte balsâmica. Arte do amor. Amor. Sente-se no ar. Amor. Sente-se no pintar. Amor. Sente-se no moldar. Moldar a vida. Moldar o futuro. Futuro é arte. Arte do amor. O amor vive na arte...

Segundos...

Conto-os. Um a um. Simples. Batem um atrás do outro numa cadência sonolenta. Fazem sono. Apetece-me dormir. Os segundos dão tranquilidade. Ouço-os, mas não os conto. Ouço-os. Já os ouvi. Vezes sem conta. Às escuras. Ao luar. Ao acordar e ao deitar. Ouço-os. Sinto-os. Lembro-me ou quero lembrar-me da primeira vez que os ouvi. Foi na barriga da minha mãe. Era o pêndulo do seu coração. Ouço-os. São os mesmos segundos, iguais aos primeiros que ouvi. Ouço-os. Quero sentir os primeiros que ouvi. Não os ouço...

Depressa...

Despacha-te. Come depressa. Anda. Não vês que eu estou à tua espera? Corre, corre depressa se não o tempo desaparece tamanha é a sua pressa.  Eu corro, e fujo à pressa. Não há força que a meça. Sabe-me tão bem comer à pressa, para que o tempo corra sem pressa.  Depressa.  Já estou aqui, e aqui fico sem pressa, apenas à espera de que algo aconteça.  Que belo odor inunda o único espaço sem pressa. Odor de um sorriso vindo de anjos sem pressa. Depressa, mas sem pressa. Era tão bom que o mundo acabasse depressa.  Não, tens que esperar, e sem pressa. Está bem. Eu espero. Já não sinto pressa...