Avançar para o conteúdo principal

Silêncio...


Sons humanos e inumanos ameaçaram afogar o meu espaço. Fugi. O sol empurrou-me para a colina solitária, deserta e desnudada de pretensões e de vaidade. Uma colina que dá prazer a quem sabe contemplá-la e desejá-la. Subi e bebi os seus verdes, intensos, sujos, brilhantes, desbotados e alegres. Um belo leque de tonalidades abriu-se em meu redor. Tonalidades que só o verde sabe desenhar numa colina solitária. Colina onde o sol penetra por estreitas e escorregadias frestas do vasto e dançante arvoredo. O seu silêncio repelia todos os sons envolventes da cidade, desviando-os, apagando-os, para se acariciar apenas com o baixo rufar dos seus ramos e folhas e com os cantos harmoniosos de anjos transformados em nervosas aves ciosas do seu espaço. Olharam-me com uma desconfiança avassaladora por ter invadido o seu céu. Olharam-me uma segunda vez e recomeçaram a cantar. Cantaram num silêncio suave, resplandecente de vida e cheio de paz.
Quando é que regressas?
Sorri. 
Deixei, subitamente, de ouvir o silêncio da colina...

Comentários

Mensagens populares deste blogue

Fugir

Tenho que fugir à rotina. A que me persegue corrói-me a alma e destrói a vontade de saborear o sol e de me apaixonar pela noite.  Tenho que fugir à vontade de partilhar o que sinto. Não serve para grande coisa, a não ser para avivar as feridas. Tenho que fugir à vontade de contar o que desejava. Não quero incomodar ninguém. Tenho que fugir de mim próprio. Dói ter que viver com o que escrevo.

Nossa Senhora da Tosse

Acabei de almoçar e pensei dar a tradicional volta. Hoje tem de ser mais pequena para compensar a do dia anterior. Destino? Não tracei. O habitual. O melhor destino é quando se anda à deriva falando ao mesmo tempo. Quanto mais interessante for a conversa menos hipótese se tem de desenhar qualquer mapa. Andei por locais mais do que conhecidos e deixei-me embalar por cortadas inesperadas. Para quê? Para esbarrar em coisas desconhecidas. O que é que eu faço com coisas novas e inesperadas? Embebedo-me. Inspiro o ar, a informação, a descoberta, a emoção, tudo o que conseguir ver, ouvir, sentir e especular. Depois fico com interessantes pontos de partida para pensar, falar e criar. Uma espécie de arqueologia ambulatória em que o destino é senhor de tudo, até do meu pensar. Andámos e falámos. Passámos por locais mais do que conhecidos; velhas casas, cada vez mais decrépitas, rochas adormecidas desde o tempo de Adão e Eva, rios enxutos devido à seca e almas vivas espelhadas nos camp

Guerra da Flandres...

Exmo. Senhor Presidente da Câmara Municipal de Santa Comba Dão. Exmas autoridades. Caros concidadãos e concidadãs. Hoje, Dia de Portugal, vou usar da palavra na dupla qualidade de cidadão e de Presidente da Assembleia Municipal. Palavra. A palavra está associada ao nascer do homem, a palavra vive com o homem, mas a palavra não morre com o homem. A palavra, na sua expressão oral, escrita ou no silêncio do pensamento, representa aquilo que interpreto como sendo a verdadeira essência da alma. A alma existe graças à palavra. A palavra é o seu corpo, é a forma que encontro para lhe dar vida. Hoje, vou utilizá-la para ressuscitar no nosso ideário corpos violentados pela guerra, buscando-os a um passado um pouco longínquo, trazendo-os à nossa presença para que possam conviver connosco, partilhando ideias, valores, dores, sofrimentos e, também, alegrias nunca vividas. Quando somos pequenos vamos lentamente percebendo o sentido das palavras, umas vezes é fácil, mas outr