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"Deixem-me viver"...

Deixem-me viver. Eu só quero viver para poder sentir o calor de um novo dia e a frescura tranquilizadora de uma noite escura. Deixem-me viver. Eu só quero viver para poder inebriar-me com um gesto de beleza e retribuir com amor e gentileza. Deixem-me viver. Eu só quero saborear a paz de uma sombra e recordar as alegrias de outrora. Deixem-me viver. Eu só quero sentir o prazer de uma gentil atenção e agradecer com a ternura do meu coração. Deixem-me viver. Eu só quero saborear o silêncio da multidão e não ser reconhecido na solidão. Deixem-me viver. Eu só quero ver as folhas a adormecer e encantar-me com tanto prazer. Deixem-me viver. Eu só quero viver para que todos me possam esquecer. Deixem-me viver. Deixem-me viver. Deixem-me viver que eu um dia saberei como agradecer. Eu só quero viver... Santa Comba Dão, tarde de domingo, 22.09.2013

"Reencontro"...

Reencontrar pessoas permite saborear a juventude do passado na mente atormentada do presente. Reencontrar pessoas permite saborear doces explosões de sentimentos e de lembranças que o tempo quis matar. Reencontrar pessoas permite conhecer os frutos de velhas sementes adormecidas. Reencontrar pessoas permite que as almas se libertem inebriando-se de amor e de saudade. Reencontrar pessoas permite acreditar que a vida tem significado, mesmo que a vida seja um mero parêntesis condenado ao esquecimento. Viver é reencontrar o passado no presente. Viver é semear os reencontros do futuro. Lisboa, sexta-feira, 20.09.2013

"Ditado"...

Entrou revelando alguma dificuldade na visão, mas, mesmo assim, o olhar embaciado pelo tempo não conseguia esconder que ainda mantinha alguma vitalidade física e uma sabedoria interessante. A pele, encarquilhada pela idade e curtida pelo sol, dava-lhe um ar típico de uma figura retirada de um quadro a óleo de cenas agrícolas. Queixava-se de dores nas costas. Tudo aconteceu depois de andar a carregar baldes. - Mas andava a transportar baldes de água? - De água? Não! De milho, milho seco da eira para as arcas. Milho para o inverno. Não me foi difícil saber o que poderia estar por detrás. Mais algumas perguntas, e outras tantas respostas, às quais juntou esclarecimentos sobre o seu pequeno calvário, levou a que o rural, de olho baço mas vivo de sabedoria, começasse a mudar de entoação. Baixou de tom, começou a querer engasgar-se de propósito, denunciando que pretendia dizer algo que não devia. Apercebi-me da sua vontade, logo, utilizei uma estratégia de desinibição, permaneci calado e c

"Fazer horas"...

Pressiono o tempo para ter tempo para fazer horas. Consegui algum tempo e agora estou a saboreá-lo como se fosse um delicioso café. Escolhi a sombra ao ar livre e sinto a frescura do mar que está ali perto sem se preocupar com o tempo. Eu faço horas e o mar faz saudades. Cada um faz o que pode. Ai se  o mar me desse horas, se me desse horas eu enchia-o de saudades. Afinal, o que é que eu quero? Apenas fazer horas para não ter saudades. Que saudades! Figueira da Foz, 19.09.2013

"Pálpebras pesadas"...

Todos os dias conheço novas pessoas, pessoas que me permitem identificar formas diferentes de pensar, de estar, pessoas que me desafiam com os seus olhares, pessoas que se entretém a decifrar o que vou dizer, pessoas que não sabem quem sou, pessoas que eu desejo conquistar, para informar, para debater, para seduzir os seus intelectos e para poder partilhar a minha vida que se arrasta e se encarniça com tantas coisas, coisas que me detestam e que eu detesto, coisas que me desprezam e que eu pretendo ignorar, coisas sem significado, coisas sem sentido e sem fim, apenas coisas à espera de se volatilizarem no esquecimento que tarda, e invejosas de não poderem mergulhar numa esperança adiada que desespera, coisas que só sabem provocar sofrimento e angústia. Tudo passa, pois passa, porque tudo, afinal, não passa de um equívoco. Coisas da vida. Olho e falo com muitas vidas, e vou bebendo e compreendendo o significado da vida. Uma pequena conversa, um pequeno detalhe, um pequeno comentário,

"Recompensa"...

Um professor que gosta de ensinar e de aprender necessita de ser recompensado. É humano, é natural. Qual é o tipo de recompensa que procura? Ser considerado? Ser respeitado? Obviamente que ser-se alvo destes tipos de apreciação é agradável. Mas o que eu gosto mesmo é saber que certos conceitos foram ou são apreendidos pelos alunos e ter a certeza de que os mesmos irão mudar e ajudar as suas formas de pensar e, consequentemente, influenciar os seus mundos, profissional, social e familiar. Caso consiga esse desiderato, então, dou por bem empregue o meu esforço e a minha dedicação ao ensino e à investigação. Mas como posso ter a certeza que influenciei ou influencio os meus alunos? Imaginando que sim? Especulando sobre isso? Desejando ardentemente ter sido útil? Não sei. O que eu sei é que de quando em vez, inesperadamente, sou confrontado com situações deveras recompensadoras do meu esforço. Quando tal acontece sinto que vale a pena ter a atividade que tenho. É um belo momento de glóri

"Fantasia"...

Preciso de criar espaços de fantasia. Preciso de subir aos montes da vida. Preciso de saborear a tranquilidade de um silêncio que me recorde o absoluto. Preciso de viver uma vida que não existe. Preciso de inventar fantasias de vida. Preciso de encontrar o que nunca encontrei. Preciso de fugir de tudo o que me rodeia e que não me alegra. Preciso de respirar a tristeza pura do espaço pintado de penumbra. Preciso de espaço, preciso de roubar ao tempo pequenas fatias de minutos, minutos que ele não precisa, mas sem os quais não consigo equilibrar-me entre o mundo real e o mundo da minha fantasia. O mundo real até parece que precisa de mim, rouba-me, mas não me cativa, atormenta-me, mas não me recompensa, obriga-me a fugir como se fosse uma criança para o mundo da fantasia e eu fujo assim que posso. Eu sei que o mundo da fantasia existe. Eu sei onde está, em locais simples, onde a paz está à minha espera, onde a beleza se enerva com a minha falta, onde a reconstrução do mundo espera que l