Uma segunda-feira fresca, sem sol e sem movimento. Caem umas gotas de água como se alguém estivesse a tecer uma delicada cortina. Aguardo a hora da aula. É a ultima que vou dar. Simples. Provavelmente não vão estar mais do que meia dúzia de alunos. O habitual. Tenho a aula, nova, preparada há muito, mas irei comentar apenas a parte inicial. Não a vou terminar, eu é que termino. Estou sozinho. Não vou ter companhia e muito menos a festa do costume a enobrecer e a premiar quem lecionou durante tantos anos, mais de quarenta. Não esperei pela idade da jubilação. Saio agora, no momento certo, durante uma aula normal sem mais nada. Acompanho-me a mim próprio além das memórias de uma vida. Não sinto tristeza, não sinto angústia, não sinto qualquer espécie de alegria, apenas vou viver mais um dia. Vou terminar a minha carreira académica como se a morte fosse a verdadeira razão da vida, sair de cena. Lá fora tudo vai continuar na sua estranha e mais do que previsível rotina. Eu não fujo,...
"- Olhai para todas vós. Discutis como mulheres livres – sem sequer sonharem que a liberdade está na base das vossas opções. E se fôsseis escravas?"