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"TERRAS VAZIAS"...

Andei à procura de sentimentos, de emoções, de pessoas, de odores e principalmente de cores. Seduzem-me as cores, as que se vestem de verde são as mais misteriosas. São tantas as tonalidades que não consigo compreender o seu significado. São fábricas de vida que copulam constantemente com o deus sol. Talvez seja por isso que combinam tão bem, o amarelo dourado e os verdes amados. Passei pelos mesmos locais. Já os conheço, não são sempre iguais. Mexem-se ao sabor do vento e murmuram encantos aos olhos de quem os vê. Gosto de os ver, mesmo que o azul do céu, amuado como se fosse uma criança, não tivesse aparecido. O azul é mesmo assim, alegre, divertido, mas também trombudo e que gosta de ficar esquecido. Um rabugento que depressa aparece sedento dos olhares de todos os seres mortais ou se esconde sem razão. É belo por isso mesmo, instável como qualquer ser humano. Hoje não apareceu, espreitou, julgando que ninguém o via. Uma perfeita criança que vagueia no céu e nas lágrimas capazes de matar a sede que correm com as suas canções em vales dourados, orlados de múltiplas cores e de velhas pedras guardadoras do passado, que não temem nada, nem o presente e nem o futuro. Gosto delas. Andei, vi, pensei e orei à minha maneira, tentando esconjurar as maldições da vida. Senti medo. Um medo que emergiu da terra como se fosse um poderoso raio de gelo frio vindo de tantas terras vazias. O vazio assusta-me. Não vi muitas pessoas. As poucas que encontrei pareciam sofrer de uma estranha doença, morrinha da vida, uma forma de lepra que se esgota a cada dia que passa. Compensou-me o bafo gentil e sensual da deusa Maia que, ao despertar com beleza das entranhas da terra, ainda pensa que tem devotos. Ter tem, mas são cada vez menos e muito mais tristes...

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Fugir

Tenho que fugir à rotina. A que me persegue corrói-me a alma e destrói a vontade de saborear o sol e de me apaixonar pela noite.  Tenho que fugir à vontade de partilhar o que sinto. Não serve para grande coisa, a não ser para avivar as feridas. Tenho que fugir à vontade de contar o que desejava. Não quero incomodar ninguém. Tenho que fugir de mim próprio. Dói ter que viver com o que escrevo.

Nossa Senhora da Tosse

Acabei de almoçar e pensei dar a tradicional volta. Hoje tem de ser mais pequena para compensar a do dia anterior. Destino? Não tracei. O habitual. O melhor destino é quando se anda à deriva falando ao mesmo tempo. Quanto mais interessante for a conversa menos hipótese se tem de desenhar qualquer mapa. Andei por locais mais do que conhecidos e deixei-me embalar por cortadas inesperadas. Para quê? Para esbarrar em coisas desconhecidas. O que é que eu faço com coisas novas e inesperadas? Embebedo-me. Inspiro o ar, a informação, a descoberta, a emoção, tudo o que conseguir ver, ouvir, sentir e especular. Depois fico com interessantes pontos de partida para pensar, falar e criar. Uma espécie de arqueologia ambulatória em que o destino é senhor de tudo, até do meu pensar. Andámos e falámos. Passámos por locais mais do que conhecidos; velhas casas, cada vez mais decrépitas, rochas adormecidas desde o tempo de Adão e Eva, rios enxutos devido à seca e almas vivas espelhadas nos camp...

Guerra da Flandres...

Exmo. Senhor Presidente da Câmara Municipal de Santa Comba Dão. Exmas autoridades. Caros concidadãos e concidadãs. Hoje, Dia de Portugal, vou usar da palavra na dupla qualidade de cidadão e de Presidente da Assembleia Municipal. Palavra. A palavra está associada ao nascer do homem, a palavra vive com o homem, mas a palavra não morre com o homem. A palavra, na sua expressão oral, escrita ou no silêncio do pensamento, representa aquilo que interpreto como sendo a verdadeira essência da alma. A alma existe graças à palavra. A palavra é o seu corpo, é a forma que encontro para lhe dar vida. Hoje, vou utilizá-la para ressuscitar no nosso ideário corpos violentados pela guerra, buscando-os a um passado um pouco longínquo, trazendo-os à nossa presença para que possam conviver connosco, partilhando ideias, valores, dores, sofrimentos e, também, alegrias nunca vividas. Quando somos pequenos vamos lentamente percebendo o sentido das palavras, umas vezes é fácil, mas outr...