“Sabor da própria morte”
Certas frases e palavras têm a capacidade de nos agredir, de aliviar, de fazer sofrer, de sentir o que é o amor, o desejo, o ódio e, até, o sabor da própria morte. São poucas as que se podem considerar amorfas ou insípidas, mas há outras que são mais destruidoras do que o Vesúvio quando se lembra de incomodar os humanos. A conflitualidade religiosa ou as decisões tomadas em seu nome são, por vezes, iníquas ao esconderem a malignidade humana sob a pretensa magnanimidade do amor a um deus qualquer. O jovem médico no serviço de urgências do velho hospital, que nunca conseguiu adaptar-se às suas funções, descansava, feito porteiro, na noite fria do inverno. Muitas horas já se tinham passado desde que iniciou o seu turno, quase uma dúzia e meia, e ainda faltava meia dúzia, a mais dolorosa, em que o tempo demora a passar. Aquela hora é, habitualmente, uma hora meia-morta, permitindo um breve relaxar. Eis que a noite é interrompida com a entrada de uma mulher, pequena, arranjada à pressa,