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"Peccatum contra naturam"

A Terra é um belo calhau que não se cansa de girar em torno do Sol. Não conheço outros planetas, vivi sempre neste, embora gostasse de conhecer outras paragens, outros silêncios, outros sóis e outros universos. Para quê? Tenho a certeza de que lá fora as coisas são diferentes, tão diferentes que nem consigo imaginar quais. Nem consigo antever as sensações decorrentes dessas realidades. Sentir a diferença é um doce alimento para uma alma. A ciência ilustra-nos a todo o momento com deliciosos mistérios embrulhados em cores e brilhos impensáveis, resfolgando enigmáticos corpos celestes que se entretêm a jogar às escondidas nas profundezas do abismo. Um abismo libertador.  A Terra está cada vez mais pequena e mais poluída, sobretudo de ideias estranhas e comportamentos não aceitáveis. Será que há ideias a mais neste planeta, a ponto de provocarem aquecimento mental irreversível? Ideias a mais? Mas as ideias não são a expressão máxima da criatividade humana? São, de facto. O pior é qu

Vontade de morrer

Conviver com colegas fora do âmbito profissional é útil, alivia a tensão e permite outras coisas: descobrir novos interesses, recordar episódios de vida, transmitir emoções, partilhar experiências e aprender uns com os outros nas mais diversas áreas. No entanto, acabamos sempre por cair em conversas médicas. Há uma força que nos atrai, e não conseguimos fugir. Bem tentamos, mas é impossível. Foi o que aconteceu num sábado à noite, em redor de uma mesa, um bom jantar acompanhado de razoáveis bons vinhos, razoáveis porque o meu colega, homem do Douro, sabe, e de que maneira, da poda enológica! Um jantar num espaço muito aprazível depois de uma tarde repleta de conferências. Falámos da situação económica e financeira do país, da desgraça do desemprego e do incremento estúpido das depressões, para a maioria das quais não há antidepressivos que valham. - É impossível tratar muitos casos com fármacos, o que eles precisam é de apoio, de suporte social. - Sim, disse. Concordo perfeitamente.

Vinho e surdez

Não sou um enólogo, mas sei apreciar um bom vinho, uma bebida com história, que nos faz sentir, por vezes, deuses ou demónios. O ser humano, com arte e engenho, descobriu há muito a forma de se fazer transportar até ao Olimpo e ao Hades, através da mais fascinante das bebidas. Nunca me apeteceu fazer concorrência aos deuses nem ao diabo, não os considero boas companhias, por isso é melhor deixá-los em paz nos seus universos. Sendo assim, prefiro apreciar um bom vinho na qualidade de simples mortal para que a alma sinta algum prazer e conforto. Acompanho com muito interesse e, por vezes, com preocupação a divulgação de estudos sobre as propriedades terapêuticas do vinho. Considero um exagero e não sei se não será contraproducente a divulgação dos mesmos, porque podem aumentar a sua procura por parte de determinadas pessoas. Este fenómeno não é novo, e não se limita apenas ao vinho, outros produtos e alimentos estão a ser constantemente conotados com efeitos benéficos na saúde. Pode

Acabou...

Acabou. O governo não tem hipótese de sobreviver. Quando as manifestações começam a decorrer com estas características , e a este ritmo, só há duas soluções, ou ficam na toca dos gabinetes, calados que nem uns ratos, ou, então, têm de abandonar o barco. E nós? Nós estamos lixados, porque os que pretendem substituir o atual governo não oferecem quaisquer garantias, até, porque num passado recente fizeram o que fizeram. Enfim, o melhor é deixar o navio à deriva, sempre é mais "seguro" e talvez chegue a algum bom porto. E se não chegar, paciência, o tempo riscar-nos-á do mapa da vida... http://www.jn.pt/PaginaInicial/Politica/Interior.aspx?content_id=3063317

Telefonia

Recordo-me, frequentemente, das noites de criança, das noites de inverno, frias e escuras, em que era obrigado a deitar-me cedo, como se houvesse algum interesse em contrariar a noite. Não havia. Nem podia. Uma terra pobre em que a luz, fraca, era, muitas vezes, incapaz de acender a primitiva e rara televisão que fazia o furor da vizinhança. - Hoje não se consegue ver nada. - Pois não. - Boa-nôte. - Boa- noite, até amanhã, vizinha. O amarelo sujo das lâmpadas não conseguia reverberar as paredes do quarto, apenas a velha telefonia, parca de alimento, conseguia debitar sons musicais intervalados de ruídos e de alguns silêncios, que, mesmo assim, não conseguiam impedir a sequência musical produzidas por bandas que debitavam estranhos sons melodiosos através do espreguiçar de múltiplos instrumentos, como os clarinetes, trompetes e saxofones, sons únicos que deverão ter tido um efeito tipo imprinting, que ainda hoje me perseguem. Curioso. Deitado, ouvia belos acordes musicais que tranq

Maria J.

Sinto uma estranha e preocupante tristeza a inundar de cinzento a atmosfera da vida. Por cada dia que passa sinto o crescer de uma angústia que atinge praticamente qualquer um. Desespero, depressão, desemprego, desconfiança, dor e desilusão. Olho para os jornais e leio que a confusão está instalada em toda parte, no governo, na economia, na banca, na indústria, nos serviços, na saúde e até nalguns refúgios da alma, como é o caso da religião. Cada um dá importância aquilo que lhe mais toca de perto, é natural, é humano, é perfeitamente compreensível. Mesmo os que se sentem um pouco mais desprendidos e almofadados sabem que a crise também lhes toca, a crise de falta de esperança e de valores. Não tarda, assistiremos ao descambar da ordem social, não tarda, iremos ver confusões que há pouco tempo seriam impensáveis. Choca? Sim, claro, quando o nosso futuro ou o dos nossos fica comprometido começamos a sentir a angústia a lamber-nos o corpo e o desespero a corroer a alma. No entanto,

Sonho

Encontrei um velho amigo, que come ç ou, tal como eu, a sentir abruptamente a amea ç a de uma velhice prematura. É certo que algumas maleitas j á come ç am a manifestar-se, mas, mesmo assim, ainda vamos conseguindo control á -las, gra ç as à experi ê ncia e aos nossos conhecimentos m é dicos. Uma vantagem, sem d ú vida, mas que n ã o consegue impedir ou proteger-nos dos efeitos de uma sociedade desestruturada e sem perspetivas. A conversa levou-nos num á pice ao per í odo revolucion á rio de "74" e à estranha mescla de confus ã o e de esperan ç a resultante da mesma. Dissert á mos sobre revolu çõ es, a nossa, a que vivemos, e outras que foram vividas pelos nossos familiares. Conclu í mos, rapidamente, como n ã o poderia deixar de ser, que as revolu çõ es servem um prop ó sito, acabar pela for ç a aquilo que n ã o se consegue pelo bom senso e pela palavra. Foi sempre assim, quando a sociedade n ã o consegue resolver os seus problemas de forma pac í fic