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Cauteleiro

Fui até Viseu depois de almoçar. O habitual, o sol empurrou-me até à "minha" cidade. Bebi o meu terceiro café. Ando a abusar, mas não faz mal, sempre "respeito" as últimas novidades sobre os efeitos na saúde. Chamo a isto "abuso científico"? Não. Estou-me borrifando para as novidades e efeitos benéficos na saúde, porque o que eu quero mesmo é descobrir locais onde possa beber um bom café. Chamo a isto "abuso hedonista". Depois, a meio da tarde ainda acabei por chegar ao quarto, e já tinha passado das quinze horas. Só espero conseguir dormir. Voltando a Viseu, fui até à "minha" esplanada, Faces. Começo a ser "dono" de muita coisa. Bom sinal, sinal de que me sinto bem em locais onde sou bem tratado, eu e o meu cão, que sabe que vai ter tratamento VIP com duas valentes fatias de fiambre e poder olhar para os transeuntes sentado ao meu colo. Nem se mexe. A cidade também é dele. 
A Rua Direita é uma inquietação. Sempre foi, sobretudo quando era muito movimentada. Tinha muito dificuldade em encontrar espaço para poder caminhar. Quando ando por ela lembro-me de muitas histórias. Tantas, meu Deus! Hoje até tem direito a um (d) maiúsculo.
O meu Pipoca é atrevido e meio louco, corre, puxa-me e acaba por tossir devido à pressão da trela nas suas goelas, mas a culpa não é minha é dele. Mete-se com toda a gente. Um descarado do caraças. Na descida da rua vi a subir o Carlos. Viu-nos. Começou a sorrir cheio de felicidade. Empunhava o maço de cautelas. Fez a continência dos cauteleiros, lembrando o tique do Bértinho da minha terra. - Já, já..tiiinha saudades vossssas. - Como vai Carlos? - Mais ou menos. Eeeeee os senhores? - Também mais ou menos. Antes que a conversa continuasse, pedi-lhe uma cautela. - Vem do almoço? - Sim. - E o que é comeu? - Batataaassss gui..gui..zadas com...com... - Carne? - Sim. - Ui. Eu também gosto muito. - E eu também. Disse a minha mulher. O cauteleiro tartamudo, que já nos conhece, agradeceu a gentileza e disse que estava muito feliz por nos ver. - Não tem aparecido aos sábados. - Temos. O Carlos a essa hora é que deve ir almoçar. - Gosto muito, mas muito, dos senhores e..e..e.. do cãozinho. Apareçaaaaam sempre. - Adeus Carlos. - Adeuuuuus. É... É... É... pá...nacional!
Vamos a ver o que acontece com a 18163. Não interessa, sempre é um pretexto para comprar outra e meter no meio duas “cautelas” de conversa.

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