Desde muito pequeno que me apercebi da forma estranha de falar das pessoas. Escapava à minha pobre razão em germinação. Passavam de conversas altas, livres, soltas e francas para sussurros baixos, inquietos e misteriosos. Um contraste violento mesmo para uma criança. Atento a certos pormenores, depressa compreendi que não se podia falar de certos assuntos e de certas pessoas. Corriam risco de virem a ser incomodados. Presenciei, mais tarde, a alguns episódios. Às vezes era surpreendido pelos adultos. - Estavas a ouvir? - Estava. Mas não percebia patavina. - Nunca digas a ninguém o que estávamos a dizer. Ouviste? - Ouvi. Mas porquê? - Porque, porque... Gaguejavam e terminavam, podem fazer-nos mal. - Mas quem? Perguntava. - Não interessa. Tens é de estar calado. Está bem? - Está. Eu não digo nada. E não dizia. O que é havia de dizer se não percebia grande coisa? Não sei se já tinha alma de túmulo, de qualquer modo adotei esse comportamento. Ainda hoje é a mesma, só o tempo é que ...
"- Olhai para todas vós. Discutis como mulheres livres – sem sequer sonharem que a liberdade está na base das vossas opções. E se fôsseis escravas?"