Olhos cinzentos azulados
Acordou sobressaltada. Um frémito doloroso invadia-lhe o corpo. Depressa verificou que um suor viscoso lhe arrefecia a alma, alagando ao mesmo tempo o seu corpo juvenil. Agulhas invisíveis de medo ameaçavam furar-lhe o baixo-ventre, a sua solitária ermida, que, não há muito, foi o altar do culto do amor, um amor físico, intenso, vulcânico. Criada num ambiente de valores artificiais, disciplinados, subjugados a ordens de pureza capazes de escravizar muitas almas, mas não outras, estranhamente castigadas pelo criador a vegetarem neste mundo, depressa interiorizou os locais que lhe estariam reservados, o inferno ou o purgatório, mas nunca o publicitado e desejado céu. O medo controlava-a de forma angustiante, sabia que, um dia, a tentação lhe abriria os braços, ou não fossem os seus olhos a mais perfeita gazua que Deus mandou ao mundo para abrir os corações. Queria saber até que ponto seria capaz de se admirar com a sua obra, sim, porque um Deus solitário tem destas coisas, anseia