"Psicopatologia ideológica"

Não perco muito tempo com certas discussões de natureza política, por uma simples razão, muitos são intransigentes nas suas convicções, não havendo maneira de as demover ou mostrar que estão erradas. Nalgumas pessoas a situação é mesmo grave, muito grave, são tão "cegas" que continuam a defender o indefensável. Tento compreender estes comportamentos, mas não consigo, por isso o melhor é estar calado e fazer de conta de que não aconteceu nada. Já me interroguei se, por debaixo daquele comportamento estereotipado, não haverá algum substrato biológico capaz de o explicar, mas evito cair nesta simplicidade, até porque poderia ser rotulado de qualquer coisa desagradável.
Em tempos li alguns sociobiólogos a dissertarem sobre esta matéria, queriam dar razão ao darwinismo social com todas as implicações daí decorrentes; perigoso, muito perigoso, ao permitir a legitimação de determinados regimes.
De qualquer maneira, ultimamente, tenho vindo a ler alguns artigos a apontarem para a existência de diferenças neurológicas, e genéticas, entre conservadores e progressistas, entre "esquerda" e "direita". Graças às novas tecnologias de imagem cerebral, e não só, começa a ser relativamente fácil encontrar certas diferenças. Resta saber até que ponto são essenciais e se poderão dar alguma ajuda na compreensão de certos comportamentos políticos redutores e extremistas que, por vezes, se nos deparam e que causam algum transtorno e, até, incompreensão. Há quem diga que o conhecimento deste fenómeno poderá ser útil eliminando ou esbatendo certo tipo de conflitualidade. Não sei, tenho de confessar, mas que a ideia atrai, atrai. Por exemplo, desconhecia que os conservadores têm uma amígdala cerebral direita mais desenvolvida, sendo esta estrutura responsável pelo medo e ameaças. Em contrapartida, os de esquerda têm mais matéria cinzenta a nível do córtex cingulado anterior, uma região que deteta os erros e que permite interromper comportamentos de repetição. Até os fatores genéticos poderão explicar quarenta por cento da variância ideológica! Enfim, apenas alguns e curiosos aspetos que começam a ser alvo de atenção, entre outros que poderia enunciar, havendo quem já começasse a estabelecer tipos "standard" de influências biológicas, "hierárquicos", "individualistas", "comunitários", "igualitários" e da combinação dos mesmos estabelecer algumas tendências ideológicas.
Espero que não seja uma recorrência do fenómeno "Lombroso" que, em tempos, teve como objetivo classificar os criminosos.
O ser humano teve sempre uma tendência para classificar tudo e todos, por isso é natural que se socorra das novas tecnologias para explicar, pelo menos em certas circunstâncias, alguns comportamentos ideológicos que surpreendem muito de nós pela "cegueira" e irredutibilidade dos mesmos. Se ao menos destes estudos pudesse resultar alguma compreensão para atenuar muita agressividade e atitudes fundamentalistas, então, seria benéfico, mas como já estou habituado, o que ainda iriam fazer era utilizar essas mesmas técnicas para recrutarem soldados "fiéis" à ideologia em causa, sem receio da intromissão de estranhos capazes de produzirem estragos. Já agora, seria interessante ver o funcionamento ou quais as singularidades dos cérebros de certos políticos que passam da direita para a esquerda ou da esquerda para a direita.
Não tarda e ainda vai surgir uma nova área de estudo, a "psicopatologia ideológica".

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