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Emoção!

Emoção. Quem é que nunca a sentiu? O que significa? Para que serve? Como a definir? Curtas questões que merecem alguma reflexão. A morte de Neil Armstrong obrigou-me a saborear o seu significado e a criar uma imagem de forma a retê-la para o futuro. Sem esforço surgiu-me uma bela queda de água entoando sons encantadores impregnando os minúsculos espaços vazios deixados pela miríade de gotas de água com as quais os raios de sol se entretêm a brincar, desenhando coloridos quadros da vida. Emoção, combinação da pureza da água, da alegria da luz, do canto de sons únicos, do calor do sol e do doce sabor que tamanha visão pode proporcionar. Quando surge, desaparece tudo. É o momento em que a verdadeira essência da vida consegue manifestar-se em toda a plenitude, embora numa pequena fração de tempo. A eternidade só teria sentido se se confundisse com este sentimento. Foram muitas as situações que me provocaram tamanha sensação. Muitas e múltiplas. A visão do corpo sem vida da minha amiga de

"Sorriso diabólico"

Levanto-me depois de uma noite de pesadelos, coisa muito pouco habitual. A esta hora ainda consigo lembrar-me de algumas passagens desse filme, um terramoto com edifícios a deslocarem-se por inteiro em betesgas e a tombarem uns sobre outros, enquanto via as pessoas desesperadas a gritar dentro deles, e eu, não sei por que carga de água, conseguia sempre evitar os acidentes e ainda aproveitava a deslocação dos edifícios como se fossem trenós. É o diabo, é o diabo que anda à solta, ouvia perfeitamente por tudo o que era sítio. Não sei se posso considerá-lo como um verdadeiro pesadelo, porque não me recordo de ter tido medo ou manifestações de ansiedade. Agora que penso nisso tenho uma explicação para tão insólito sonho. Quem é que me mandou andar a escrever sobre "o dia em que o diabo anda à solta"? Bem feita, pões-te a dissertar sobre certos temas e depois tens a paga. Paciência, pensei. Abro a televisão e vejo a notícia sobre a condenação de Breivik, o norueguês responsável p

Espermatozoides velhos? Velhos são os trapos!

Diariamente surgem notícias que abalam algumas convicções e promovem uma certa ansiedade quanto ao futuro da nossa espécie. Faz capa de muitos jornais a notícia de um trabalho realizado com base no genoma da única população mundial onde isso é possível, a islandesa, revelando que, "a cada ano que passa, os espermatozoides do pai têm, em média, mais duas mutações novas no seu genoma que transmitem aos filhos". Sendo assim quanto mais velho for o pai maior é o risco de mutações que, neste estudo em concreto, estaria associado a um aumento da esquizofrenia e do autismo. É um facto que estas duas doenças estão em crescendo, havendo quem fale de uma epidemia de autismo. Relativamente a esta última, foi implicado há alguns anos a utilização de um composto mercurial, conservante das vacinas, como sendo o principal responsável originando uma fobia social a vacinas sem precedentes, o que fez com que muitas crianças deixassem de poder usufruir os benefícios da maior conquista da medici

"Santo Soldado"

As lendas não são mais do que lembranças de memórias coletivas embriagadas de desejos e aspirações. Muitos factos são reconhecidos ao acordar, mas, face às imperfeições, exigem sucessivos retoques, qual deles o mais fantasioso e o mais belo. E assim, pincelada sobre pincelada, palavra sobre palavra, som sobre som, constrói-se um final, ou algo parecido, que, ansiosamente, pede para ser perpetuado. As lendas têm esse condão, pedem para que as perpetuemos, precisam do nosso sopro de vida e em troca concede-nos o dom de as recriar, alimentando a nossa imaginação. Não há vila, cidade ou lugarejo que não tenha a sua lenda, que a alimente, que a projete e que a proteja. Andei por várias localidades, casualmente tropecei com algumas lendas que já conhecia, outras não. Sou um amante de lendas, nelas vejo um passado cheio de fantasia, de amor, de sofrimento, de fome, fome de justiça, fome de esperança e fome de felicidade, mas também me cativa fazer as minhas próprias interpretações. Noite de

Noite...

Por mais que viva não consigo conciliar certos acontecimentos que me fazem despertar sentimentos e emoções tão díspares. Além de não conseguir fico com uma estranha sensação de que algo não está bem ou, então, acabo por sentir uma indisposição na alma que não me deixa em paz. Estou em férias e tento descansar no verdadeiro sentido do termo. Mas como é já habitual, acabo por ter de passar por situações menos agradáveis. É uma sina a que não consigo fugir. Eu queria descansar o corpo, mas também a alma. O primeiro ainda vai resfolgando na modorra estival, mas a alma não tem esse direito. Um amigo, a quem foi diagnosticado uma situação grave, muito grave, e com quem tive há poucas semanas a última conversa, tem-me perturbado o meu sossego. Nesta semana, tive de tentar arranjar outros meios, mais sofisticados, para poder aliviar-lhe o seu sofrimento. Contactos, mais contactos e ficou tudo preparado para que na segunda-feira pudesse dar início à última fase da vida, minimizar as excruciante

Que mundo tão estranho!

Há histórias que não sendo originais acabam sempre por nos fazer refletir sobre a condição e a pretensa superioridade dos seres humanos que, segundo alguns, foi definida por interesses divinos, o que é de desconfiar. Descanso na esplanada, junto à ribeira, que chora de tristeza pela forma como a têm tratado ultimamente. Nota-se que perdeu a alegria, já não consegue elevar-se com o seu habitual cheiro de água fresca. Está envergonhada, e eu também. Conseguimos partilhar o mesmo sentimento, vergonha. A minha mulher senta-se a meu lado, depois de ter ido assinar um documento qualquer. Conta-me que encontrou uma pessoa conhecida. Está velho. Sim? É verdade. Disse-me que estava no advogado para tratar uns assuntos nada agradáveis por causa dos irmãos. - Mas vocês, os setes, eram tão amigos, tão juntos. - Pois éramos. Continuei no meu silêncio de espanto para a estimular a contar mais pormenores. - A mãe morreu-lhe e antes de morrer foi um corrupio, doente, esteve em sua casa e depois teve

"Mimi"...

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Tenho muitos hábitos com os quais me dou razoavelmente bem. Um deles é não planear uma saída, vou à deriva, à bolina, esperançado em encontrar algo que me dê prazer, qualquer coisa nova, desconhecida, de preferência ambos. Nem sempre acontece, mas também não me lembro, o que é natural, mas quando encontro sinto uma enorme satisfação, e não me esqueço. O dia, que deveria ser de verão, despertou aborrecido, com saudades de uma boa invernia, acontece quando se inicia os idos de agosto. Mesmo assim embiquei em direção a Viseu, cidade onde vou cumprir ritualmente promessas que nunca prometi. O instinto levou-me à procura de uma pequena peça, fosse o que fosse, desde que me desse satisfação e prazer. Desta feita não encontrei nada que me agradasse. Paciência. Entrei no recinto da Feira Franca, onde vou há dezenas de anos. Apesar de todas as modificações operadas nos últimos anos, continua a mostrar teimosamente uma velhice resistente a quaisquer liftings ou operações plás