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Emoção!

Emoção. Quem é que nunca a sentiu? O que significa? Para que serve? Como a definir? Curtas questões que merecem alguma reflexão. A morte de Neil Armstrong obrigou-me a saborear o seu significado e a criar uma imagem de forma a retê-la para o futuro. Sem esforço surgiu-me uma bela queda de água entoando sons encantadores impregnando os minúsculos espaços vazios deixados pela miríade de gotas de água com as quais os raios de sol se entretêm a brincar, desenhando coloridos quadros da vida. Emoção, combinação da pureza da água, da alegria da luz, do canto de sons únicos, do calor do sol e do doce sabor que tamanha visão pode proporcionar. Quando surge, desaparece tudo. É o momento em que a verdadeira essência da vida consegue manifestar-se em toda a plenitude, embora numa pequena fração de tempo. A eternidade só teria sentido se se confundisse com este sentimento.
Foram muitas as situações que me provocaram tamanha sensação. Muitas e múltiplas. A visão do corpo sem vida da minha amiga de brincadeira em criança, a de um amigo mais velho enviado de África embrulhado na bandeira nacional na adolescência e a de um amigo que desapareceu depois de me ter ensinado o significado da arte de ouvir na vida adulta. Três mortos que ainda sabem despertar a emoção da vida. A par da morte, a vida também é fonte de emoção. O nascimento de um filho, a recompensa inesperada do nosso trabalho ou a pequenina lembrança oferecida pela criança a quem a vida queria fugir. A emoção surge, também, quando partilhamos a vivência de outros, como o caso da judia que vai à floresta beijar a terra onde os seus familiares foram mortos, o ato heróico de um anónimo que sacrifica a sua vida em nome da vida de outros ou a determinação de quem sabe que vale a pena embriagar-se de altruísmo, mesmo que a humanidade não seja merecedora. A emoção surge em momentos de alegria e de conquista, como na prática desportiva em que o atleta vencedor transporta em si algo de nós ou em momentos coletivos onde as diferenças, sejam quais forem, desaparecem como por artes mágicas. A emoção surge quando a alma necessita de ser refrescada pela bela cascata de água pura, seja perante a beleza de um por de sol, seja perante a visão de uma obra de arte ou um poema mágico. A emoção também terá ocorrido quando vimos pela primeira vez a beleza do nosso ponto azul a partir do espaço ou na noite em a Lua foi acariciada pelo homem.
Existem tantas fontes de beleza capazes de despertar emoções que é pena que as não procuremos, e as outras, aquelas que vêm ao nosso encontro, muitas vezes contra a nossa vontade, temos de as aceitar, no fundo, emoção é aquilo que desejamos sentir, mesmo que não aceitemos ou compreendamos muitas das causas.

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