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Mar amado

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O mundo sombreado De um mar amado. Lado a lado,  Cheio de passado.

Montanha

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Lembrança de um dia de outono. Recordação triste. Pensamento de gelo. O sol fez o resto. Pintou com cores belas a minha alma. Levantei-me cedo no meio de sussurros vindos de todos os lados da montanha. O ar muito fresco empurrou-me para um pequeno passeio. Era cedo. Desci acompanhado da brisa que cantarolava de felicidade. Vi as encostas atapetadas de dourado, enquanto belas e avermelhadas folhas se despegavam sem pena do seu mundo. Morte feliz. As cores vivas surgiam de todos os lados, azuis, verdes, vermelhos, amarelos, dourados, brancos, cinzentos, numa estranha amálgama; o ideal para afogar a solidão. Nessa manhã, um velho amigo transformou-se numa daquelas belas folhas secas e acastanhadas, com laivos de dourado, que caíam suavemente como se fossem dançarinas a fugir cheias de alegria para o seu novo mundo. A brisa fresca estimulava cada vez mais a imaginação. A par da vida que se esfumava, recordei momentos deliciosos, cheios de silêncio humano, onde apenas o cantar do vento

O morro

A fotografia apareceu sem dar conta. Um morro suave, uma árvore cheia de fé e uma capela a olhar para o velho caminho orlado de ervas secas e douradas, pintavam um belo quadro numa tarde perdida do tempo. A pequena capela, ao refugiar-se em silêncio sob a sombra da única árvore, dominava o espaço sagrado com a humildade moldada ao longo dos séculos.  Nasci e vivi perto do morro. No, então, denominado "cimo de vila". Comecei a ouvir falar do santo desde muito pequeno. Diziam-me para não ir para o morro, porque do outro lado a encosta era quase a pique e cheia de pedras. Fingia que ouvia, mas sempre que podia fugia até àquele local. O que mais me impressionava era a capela, pequena demais para um santo que também tinha de ser minúsculo. Dava uma ou duas voltas e depois aproximava-me da outra encosta para ver se conseguia apanhar uma boa mimosa de base curva a imitar um "stick" de hóquei. Na altura gostava de jogar ao hóquei, neste caso, versão hóquei em campo, com

Lágrimas de sino

Não ouço o sino. Falta pouco.  Por onde passo registo os sons dos sinos. Gosto de os ouvir, desde o dar as horas, as meias, os quartos, até aos mais tristes ou alegres repiques. Cada um tem a sua própria assinatura. Escrevem de maneira diferente o que lhes vai na alma de bronze. Os seus sons surgem por vezes com voz rouca, dura, seca, cristalina, alegre ou fina. Gosto de os ouvir, mas também gosto de os sentir. Atrás do som vem a vibração como se fosse uma mão capaz de acariciar ou acalmar o que vai no coração.  Gosto de ouvir sinos.  Quando ouço pela primeira vez um novo sino desligo-me de tudo. Fico desperto. Saboreio a sua voz e imagino o que ele já viu, cantou, escondeu, alertou, chorou e alegrou. Sinto as suas emoções, que correm atrás dos sons. Quero guardá-las, mas não consigo, esfumam-se como a neblina da manhã ao nascer do majestoso e ardente sol.  Toques diversos, rápidos, lentos, alegres, tristes, formais ou informais, os sons dos sinos conseguem produzir as mais be

"Fonte dos cães"

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Uma preciosidade perdida no meio do nada....

Procurar

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Nossa Senhora do Pranto Procurar é uma forma de estar e de acalmar a vida. Quando descubro o que não espero sinto uma varredura fresca na minha cabeça. Uma sensação única que ajuda a compreender e a ver outros mundos que baloiçam em círculos loucos e quase invisíveis. Nesta altura do ano somam-se as romarias e festividades religiosas. No círculo onde cresci, julgo não haver nenhuma que me tenha escapado. Nem podia. A vida fazia-se em função das festividades religiosas. Um bom pretexto para o importante acessório, a festa pagã, mais interessante, ruidosa, cheia de alegria, de comida, de bebida e de música popular. Ia-se à procissão ou à missa, mas o que interessava era o que vinha a seguir. Um pequeno sacrifício silencioso que antecedia a desejada algazarra dos romeiros esfomeados e sedentos de vinho. Havia as bancas onde se vendia de tudo. Na mais perfeita desorganização misturavam-se tendeiros e taberneiros, cujas carroças, cheias de pipos de vinho e de comida, atraíam com ma

Cidadania

Saber que podemos contribuir para o crescimento e modernidade de uma instituição provoca sensação de bem-estar. O mundo gira em redor de muitas coisas que passam despercebidas. Admiro gente desconhecida desejosa de vencer as dificuldades da vida. É curioso verificar que é assim que o mundo evolui; pessoas que labutam sem serem conhecidas, admiradas ou apreciadas. O somatório dos seus contributos é extraordinário e recompensa as amarguras que nos atolam constantemente. A soberba dos protagonistas que se arvoram como sendo os cérebros e decisores da vida pública faz-me rir. Convencem-se de que são os verdadeiros responsáveis pelo desenvolvimento. Não são. Frequentemente não passam de meros pretensiosos com vontade de serem reconhecidos e admirados. A cidadania anónima é a mais poderosa força para desenvolver qualquer área de atividade humana. A noite convida a adormecer na tranquilidade do dever cumprido, semeado em terras férteis da compreensão e da colaboração, a todos os que dão o