Gosto de procurar aquilo que não sei. Gosto de passar o tempo sem o sentir. Gosto do inesperado e do belo como se fossem dádivas de deuses desconhecidos. Gosto de inventar deuses. Não por uma questão de fé ou para lhes pedir favores a troco de meias atordoadas ou promessas sem sentido que se esvaem a qualquer momento. Não gosto disso. Prefiro inventar os deuses para poder ir onde não consigo e conseguir pensar para além deste mundo perdido. Imagino-os iguais a mim, tal como convém a quem quer viver sem saber qual vai ser o seu fim. Gosto dos deuses humanizados. É mais fácil compreendê-los. Não assustam. Talvez seja por isso que sou atraído pelas velhas mitologias e cosmologias, em que a poesia e a fantasia enchem a minha alma vazia. Assim, consigo fugir do mundo real e posso vadiar à vontade entre emoções e sentimentos nunca sentidos, não como prémio de qualquer conduta ou de fidelidade religiosa, mas como sinal de respeito e vontade de viver a realidade do que deveria ser a vida, a mais bela das fantasias.
Tenho que fugir à rotina. A que me persegue corrói-me a alma e destrói a vontade de saborear o sol e de me apaixonar pela noite. Tenho que fugir à vontade de partilhar o que sinto. Não serve para grande coisa, a não ser para avivar as feridas. Tenho que fugir à vontade de contar o que desejava. Não quero incomodar ninguém. Tenho que fugir de mim próprio. Dói ter que viver com o que escrevo.
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