Lembro-me de ouvir há muitos anos, na abertura de um simpósio, o discurso de uma autoridade. O senhor era vaidoso e, sobretudo, pretensioso. Não foi difícil fazer o diagnóstico ao fim de algum tempo. Ainda não tinham passado cinco minutos e já tinha bombardeado a audiência com mais de uma dezena de citações. Abri a boca de espanto porque calculei que àquele ritmo iria sofrer a maior saraivada de "eloquência" da minha vida. E assim foi. Nunca vi até hoje algo semelhante. Não fiz grandes comentários nos intervalos, mas mesmo assim larguei uma ou outra frase a testemunhar um certo grau de indignação, recordando um comentário que tinha ouvido há algum tempo, mas sem conseguir citar o autor. Esqueci-me do seu nome, felizmente! Nunca mais larguei uma frase cheia de sabedoria, "a eloquência de um orador é inversamente proporcional ao número de citações". Se houver necessidade de as usar, por motivos de continuidade de um discurso ou realce de um conceito, então, podemos socorrer de uma ou, no máximo, duas. É o que costumo fazer, mas é raro, evito-as quase sempre, até porque a minha memória, apesar de ser boa em termos de conceitos, é péssima quando se trata de nomes e incapaz de recordar as citações com precisão. Fico com a boca "semiaberta" quando ouço ou leio tamanha eloquência. A única vez que fiquei mesmo com a boca escancarada foi a que referi no começo deste texto.
Recordo este episódio, e lembranças associadas, depois de ler que muitas citações, que são usadas a torto e a direito, sofrem de falsa paternidade. Sorri quando acabei de ler o artigo. Uma delas, "Eppur si muove" (e contudo ela move-se), atribuída a Galileu Galilei quando foi obrigado a abjurar os seus achados perante a inquisição para salvar a pele, nunca a considerei como viável. Se Galileu a tivesse dito estaria feito ao bife. É o dizias! Aquele pessoal pintado de hipocrisia purpúrea tinham-no assado. Quem inventou a frase foi um escritor italiano, Giuseppe Baretti, mais de um século depois, ao escrever sobre a vida do homem que podemos considerar como o pai da revolução científica. Digam o que disserem a frase assenta-lhe que nem uma luva e reforça o conceito do valor da verdade quando estamos perante quem a não queira aceitar. Se não a disse, deverá tê-la pensado.
Outra frase, que ouço com frequência, e que sempre aceitei como tendo sido produzida por Abel Salazar, "o médico que só sabe medicina, nem medicina sabe", é da autoria do médico, filósofo, músico, escritor e poeta espanhol José de Letamendi (1828-1897). Qual a importância deste último comentário? "Dar o seu ao seu dono" seria uma razão suficiente, mas não posso deixar de afirmar que esta citação assenta que nem uma luva ao grande artista, professor e médico que foi Abel Salazar.
Estou convicto de que muitas citações atribuídas a certas individualidades não foram produtos dos seus pensamentos e dizeres mas sim inventadas ou criadas por outros e que lhes ficam não só bem como reforçam certos conceitos que nos ajudam no dia-a-dia.
Recordo este episódio, e lembranças associadas, depois de ler que muitas citações, que são usadas a torto e a direito, sofrem de falsa paternidade. Sorri quando acabei de ler o artigo. Uma delas, "Eppur si muove" (e contudo ela move-se), atribuída a Galileu Galilei quando foi obrigado a abjurar os seus achados perante a inquisição para salvar a pele, nunca a considerei como viável. Se Galileu a tivesse dito estaria feito ao bife. É o dizias! Aquele pessoal pintado de hipocrisia purpúrea tinham-no assado. Quem inventou a frase foi um escritor italiano, Giuseppe Baretti, mais de um século depois, ao escrever sobre a vida do homem que podemos considerar como o pai da revolução científica. Digam o que disserem a frase assenta-lhe que nem uma luva e reforça o conceito do valor da verdade quando estamos perante quem a não queira aceitar. Se não a disse, deverá tê-la pensado.
Outra frase, que ouço com frequência, e que sempre aceitei como tendo sido produzida por Abel Salazar, "o médico que só sabe medicina, nem medicina sabe", é da autoria do médico, filósofo, músico, escritor e poeta espanhol José de Letamendi (1828-1897). Qual a importância deste último comentário? "Dar o seu ao seu dono" seria uma razão suficiente, mas não posso deixar de afirmar que esta citação assenta que nem uma luva ao grande artista, professor e médico que foi Abel Salazar.
Estou convicto de que muitas citações atribuídas a certas individualidades não foram produtos dos seus pensamentos e dizeres mas sim inventadas ou criadas por outros e que lhes ficam não só bem como reforçam certos conceitos que nos ajudam no dia-a-dia.
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