"Muros"...
Lembro-me perfeitamente quando começaram a construir o "muro de Berlim". Ouvia falar da cortina de ferro e a minha imaginação infantil teceu a respetiva imagem, uma cortina gigante que em vez ser de renda, para cobrir a janela, era de ferro. Mas como vão colocar a cortina? Que raio de janela é essa que tem uma cortina desse tipo? Como fechar e como abrir a cortina? Para quê? Não percebia a linguagem dos adultos. Era difícil entendê-los. Quando se começou a falar do muro foi um pouco mais fácil. Muros eram coisas que não faltavam. Tantos muros ao longo dos caminhos, à entrada das quintas, fazendas e até havia na escola onde me sentava e fazia exercícios de equilíbrio com risco de cair de uma altura nada pequena. Estava constantemente a ser advertido para não andar em cima de muros, porque podia tombar. Tinha essa mania. Não era único. Os outros também faziam a mesma coisa. Saltávamos para cima de um, abríamos os braços e caminhávamos em silêncio. Presumo que era a única situa