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"Néon azul"...

Há muitos anos, ao chegar a Amesterdão, deparo-me na viagem para o hotel com um letreiro de néon azul debaixo de uma janela de um edifício com vários andares: "Deus não existe". Fixei-o durante todo o tempo que levei a passar por aquele local. No meio de tantas luzes, tantos anúncios e tanta confusão, a frase adquiria uma força que se destacava por um belo azul que apagava tudo em redor. Questionei qual teria sido a ideia do autor ao mandar fazer um "anúncio" daqueles na cidade mais estranha que visitei até hoje. Cada maluco com a sua mania. Mas a frase ficou, e continua a martelar os meus pensamentos de quando em vez. Uma frase provocadora para muitos, os que acreditam em Deus, e estimulante para os que não o compreendem e não o aceitam. Seja como for a frase tinha esse condão, provocar, estimular ou recordar. 
Ontem, ao ler uma crónica sobre "Deus está morto", o filósofo citou outros, nomeadamente os que a escreveram, inventaram ou a descobriram. Um texto apologético da fé, que tem de aparecer sempre nestas coisas, como que a querer explicar o inexplicável e reforçar conceitos que andam a ser abalados cada vez mais. Uma forma de contrariar, domesticar e fazer frente a qualquer tipo de intelectualidade suscetível de pôr em causa a "ordem da religião" estabelecida, diminuindo o seu efeito "perverso" no resto da humanidade. Não é preciso tanta preocupação, os crentes nunca irão faltar seja qual for a religião, para bem de "deus" e mal de muitos homens como se pode ver nos nossos dias e sem ter de recorrer ao passado próximo ou longínquo. De qualquer modo sorri quanto a esta análise filosófica sobre se "Deus está morto". Pensei naquele anúncio de néon azul pendurado de uma janela e no seu autor. Para ele, se Deus não existe então nunca nasceu e se não nasceu então não pode morrer. Sendo assim por que razão se fala de "Deus está morto"? Qual o sentido? Qual a finalidade? Qual a mensagem? Qual a intenção de quem quer provar a fé de todas as formas e feitios como se isso fosse a prova de vida de Deus? Para quê? Para nada. 

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