"Fome"...
Sinto fome. Não é habitual. Falta pouco tempo para poder ir almoçar. É bom sentir fome, penso menos e menos me preocupo. O estômago vazio tem esse condão. Arrepia-me ter as mesmas conversas, vomitar os mesmos conselhos e advertir os mesmos perigos para receber em troca a mesma indiferença, a mesma desconfiança, a mesma, quase que me apetecia dizer, brutalidade. Lentamente começo a ficar indiferente face aos factos. Mudar comportamentos? Seria bom, mas nem sempre se consegue e sempre que falo, quase sempre sinto um olhar de descrença, e às vezes de náusea, como se estivesse a insultar ou roubar a tranquilidade a uma pessoa. Não suporto alguns olhares, não é que fique intimidado, mas incomodam-me, não escondem o que pensam, mostram o que são, convencidos de que estão protegidos atrás de barreiras intransponíveis. Barreiras de cartão, é o que são. É quase tudo a fingir. Só o sofrimento é que não, esse dói, perturba e rouba a tranquilidade. Nessa altura, a humildade brota lágrimas de dor,