Avançar para o conteúdo principal

"À pressa"...


Comi à pressa, estava com pressa, matei a fome e corri à pressa. Sento-me, ainda tenho alguns minutos, não muitos, mas os suficientes para dar ao dedo, libertar a alma e dar descanso ao estômago para que possa trabalhar. Já o adverti, sem pressa, não vá a pressa dar-me cabo da tarde. Não sei se me ouviu ou não, mas quero pensar que sim. Sento-me, ainda tenho alguns minutos, não muitos, mas os suficientes para dar alimento à minha alma, sem pressa. Gostava de permanecer aqui muito tempo, o tempo necessário para matar qualquer pressa, a pressa de viver, a pressa de trabalhar, a pressa de me incomodar, a pressa de me libertar e a pressa de sofrer. Tudo merece ser feito sem pressa. Eu queria mas não consigo. O único sítio em que o tempo passa sem pressa é aqui, ainda não passou muito tempo, não o sinto, nem quero senti-lo, quero apenas ficar sentado na penumbra do espaço e na sombra do tempo, onde o sol não entra, o calor também não, o frio desaparece e a tranquilidade nasce e renasce numa espiral contínua sem princípio nem fim. Escrevo à pressa? Não, escrevo ao sabor da pressa, da pressa da alegria, da pressa da paz, de pressa de um sossego que persigo e não encontro. Curiosa é a pressa, ela conduz-me, eu persigo-a e quando nos encontramos ficamos sem pressa, ela olha-me, eu olho-a e tudo desaparece, até parece que nunca houve pressa.

Comentários

Mensagens populares deste blogue

Fugir

Tenho que fugir à rotina. A que me persegue corrói-me a alma e destrói a vontade de saborear o sol e de me apaixonar pela noite.  Tenho que fugir à vontade de partilhar o que sinto. Não serve para grande coisa, a não ser para avivar as feridas. Tenho que fugir à vontade de contar o que desejava. Não quero incomodar ninguém. Tenho que fugir de mim próprio. Dói ter que viver com o que escrevo.

Nossa Senhora da Tosse

Acabei de almoçar e pensei dar a tradicional volta. Hoje tem de ser mais pequena para compensar a do dia anterior. Destino? Não tracei. O habitual. O melhor destino é quando se anda à deriva falando ao mesmo tempo. Quanto mais interessante for a conversa menos hipótese se tem de desenhar qualquer mapa. Andei por locais mais do que conhecidos e deixei-me embalar por cortadas inesperadas. Para quê? Para esbarrar em coisas desconhecidas. O que é que eu faço com coisas novas e inesperadas? Embebedo-me. Inspiro o ar, a informação, a descoberta, a emoção, tudo o que conseguir ver, ouvir, sentir e especular. Depois fico com interessantes pontos de partida para pensar, falar e criar. Uma espécie de arqueologia ambulatória em que o destino é senhor de tudo, até do meu pensar. Andámos e falámos. Passámos por locais mais do que conhecidos; velhas casas, cada vez mais decrépitas, rochas adormecidas desde o tempo de Adão e Eva, rios enxutos devido à seca e almas vivas espelhadas nos camp...

Guerra da Flandres...

Exmo. Senhor Presidente da Câmara Municipal de Santa Comba Dão. Exmas autoridades. Caros concidadãos e concidadãs. Hoje, Dia de Portugal, vou usar da palavra na dupla qualidade de cidadão e de Presidente da Assembleia Municipal. Palavra. A palavra está associada ao nascer do homem, a palavra vive com o homem, mas a palavra não morre com o homem. A palavra, na sua expressão oral, escrita ou no silêncio do pensamento, representa aquilo que interpreto como sendo a verdadeira essência da alma. A alma existe graças à palavra. A palavra é o seu corpo, é a forma que encontro para lhe dar vida. Hoje, vou utilizá-la para ressuscitar no nosso ideário corpos violentados pela guerra, buscando-os a um passado um pouco longínquo, trazendo-os à nossa presença para que possam conviver connosco, partilhando ideias, valores, dores, sofrimentos e, também, alegrias nunca vividas. Quando somos pequenos vamos lentamente percebendo o sentido das palavras, umas vezes é fácil, mas outr...