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"À pressa"...


Comi à pressa, estava com pressa, matei a fome e corri à pressa. Sento-me, ainda tenho alguns minutos, não muitos, mas os suficientes para dar ao dedo, libertar a alma e dar descanso ao estômago para que possa trabalhar. Já o adverti, sem pressa, não vá a pressa dar-me cabo da tarde. Não sei se me ouviu ou não, mas quero pensar que sim. Sento-me, ainda tenho alguns minutos, não muitos, mas os suficientes para dar alimento à minha alma, sem pressa. Gostava de permanecer aqui muito tempo, o tempo necessário para matar qualquer pressa, a pressa de viver, a pressa de trabalhar, a pressa de me incomodar, a pressa de me libertar e a pressa de sofrer. Tudo merece ser feito sem pressa. Eu queria mas não consigo. O único sítio em que o tempo passa sem pressa é aqui, ainda não passou muito tempo, não o sinto, nem quero senti-lo, quero apenas ficar sentado na penumbra do espaço e na sombra do tempo, onde o sol não entra, o calor também não, o frio desaparece e a tranquilidade nasce e renasce numa espiral contínua sem princípio nem fim. Escrevo à pressa? Não, escrevo ao sabor da pressa, da pressa da alegria, da pressa da paz, de pressa de um sossego que persigo e não encontro. Curiosa é a pressa, ela conduz-me, eu persigo-a e quando nos encontramos ficamos sem pressa, ela olha-me, eu olho-a e tudo desaparece, até parece que nunca houve pressa.

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