Ainda não começaram a cair em força, mas já estão a perder a frescura, dobram-se, não falam, não cantam de alegria e gemem de dor sob o vento que lhes seca as poucas lágrimas que ainda tem. Querem amarelecer e envergonham-se de não poderem viver. Querem fugir para longe nas asas do vento. Ficam livres da vida e presas da morte. Envergonham-se, mas não têm medo. Querem voar e sentir o que nunca sentiram. Como se pode sentir o mundo quando se está preso à vida? São folhas, algumas a avermelharem-se, outras a serem salpicadas de pequenos pontos amarelados e outras a quererem ansiosamente morrer antes do tempo ou marcar o início do novo tempo. Algumas folhas vêm atrás de mim. Correm. Param. Voltam a andar e os seus sons secos de lamúria ou de desencanto chamam-me a atenção. Paro. Olho para trás e elas param, não com medo, mas aflitas por não saberem para onde ir. Sons de brisa, sons de folhas secas a seguirem-me e sons de árvores desejosas de se despirem, sons dentro do meu silêncio. Têm sono. Querem dormir. Eu quero ficar acordado para as ver. Preciso de as sentir e de as acompanhar no belo colorir do seu apagar...
Tenho que fugir à rotina. A que me persegue corrói-me a alma e destrói a vontade de saborear o sol e de me apaixonar pela noite. Tenho que fugir à vontade de partilhar o que sinto. Não serve para grande coisa, a não ser para avivar as feridas. Tenho que fugir à vontade de contar o que desejava. Não quero incomodar ninguém. Tenho que fugir de mim próprio. Dói ter que viver com o que escrevo.
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