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Cansaço de viver

Há momentos em que sinto o despertar de um velho impulso que há muito me persegue, embora se esconda durante longos períodos de tempo nas profundezas de um cérebro cansado e desejoso de paz. Atormenta-me esse impulso que me convida a não despertar, a não sentir, a não ver, a não amar, a não ser nada, apenas esquecer e ser esquecido. Desperta de tempos a tempos e causa-me estranhas sensações e emoções. É uma sensação acutilante, fria, dolorosa e silenciosa que quer beber o sumo da minha alma. Não a entendo. Não a desejo. Só sei que me invade de uma forma que não consigo compreender. Abandono-me nas mãos do tempo e na ternura da solidão. Dói, mas não sinto a dor. Atormenta, mas não vejo como escapar-lhe. Só sei que me convida ao vazio. Não sei o que dizer. O meu desejo é não sentir nada, mas mesmo nada, nem dor, nem paz, nem sombra, nem calor, nada, apenas queria esvaziar os meus sentidos e apagar de vez a escuridão deste estranho mundo.
Não quero falar, não quero escrever, não quero ouvir, não quero que me recordem, não quero nada.
Não quero escrever e escrevo! Para quê? Para quem? Para nada e para ninguém. Escrevo apenas para mim, não me apetece partilhar o que escrevo, nem hoje nem nunca. Não vale a pena escrever mesmo que o faça. Não passa de uma pobre imagem sem importância. Eu também não passo de uma pobre imagem sem importância. Eu e o que escrevo.

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