Lição

Não sei se certas lições têm o efeito esperado, evitar que certos comportamentos menos honestos se perpetuem, contribuindo deste modo para um melhor equilíbrio e ordem social. Não sei se têm, quero confiar que sim, mas no fundo não sei se deva acreditar, talvez seja mais uma forma de projetar a minha identidade e caráter nos outros, esperançado em poder mudar o mundo. Faço-o sempre que posso mas não acredito. E se fosse verdade? Como saberei? 

Tenho tido episódios atrás de episódios de má conduta estudantil. Alguns estudantes comportam-se de forma pouco digna testemunhando a sua forma de ser que no futuro irá continuar com todos os efeitos negativos na saúde e no bem-estar das pessoas. Incomoda-me imenso este tipo de conduta. Faz-me sofrer.

O episódio que vou relatar prende-se com falsificação de assinaturas. Foram detetadas, hoje é muito fácil detetar o que quer que seja, mas mesmo assim teimam nestas condutas. Acontece que a assiduidade contribuía com uma percentagem significativa para a classificação final. Deste modo não foram contabilizadas as "aulas falsificadas". A nota final não dava para concluir o ano. A direção foi incomodada e transferiram para mim a solução. Depois de ponderar entendi dar uma oportunidade com a feitura de um pequeno trabalho sobre a matéria em apreço. A senhora aceitou. Eu tinha ordenado que o trabalho teria de ser entregue pessoalmente a fim de dizer o que pensava da situação, tentando dar algum contributo para mudar a personalidade da autora. No dia e hora aprazados a senhora bate à porta com ar comprometido. Com delicadeza mandei-a sentar-se e aguardei a entrega do trabalho para poder atuar em conformidade. Ao entregar-me tinha os olhos marejados em lágrimas e pediu-me desculpa de uma forma pungente e sentida. Não pude dizer nada, antecipou-se, mostrou arrependimento, não só pelas lágrimas como pelos sinais que não consigo descrever mas que traduziam sinceridade. É fácil não ver. Poupou-me ao sacrifício de uma retórica meio preparada. Olhei par o trabalho e não me foi difícil que estava bem estruturado e que era de interesse. Obviamente que lhe ia dar o ponto que lhe faltava. Dei-lhe a entender isso. Queria terminar com aquele tormento para a senhora e para mim. Ainda me perguntou se tinha de esperar para saber o resultado. Não, não vai ter problemas, pode ir, espero que tudo isto lhe tenha sido útil. Baixou a cabeça e não disse mais nada a não ser obrigada. Saiu e acompanhei o seu andar ao longo do enorme corredor ouvindo mentalmente o que iria a pensar e as sensações que a atormentava. 

Será que deu resultado? Espero bem que sim.