- Senhor doutor? Está aqui na receção o senhor Américo. Não é para o consultar, passou pelo centro para tratar de uns assuntos, mas como soube que estava ainda a trabalhar gostava de lhe dar uma palavra. - O senhor Américo está aí? Mande-o entrar. - Agora?!- Sim, mande-o entrar. Estava no intervalo de duas consultas. Ao ouvir o nome do senhor, comecei a recordar muitas conversas agradáveis que tivemos ao longo do tempo e que acabaram por ser afogadas numa doença de mau prognóstico há cerca de três anos. Apesar de estar muito cansado, era final da tarde, um afluxo anormal de energia invadiu-me, substituindo a fadiga pela apreensão. Não me recordo quando comecei a consultá-lo, foi há muitos anos. Homem simples, de bom porte, educado, humilde, conversador nato, dono de um sorriso suave, quase que diria sedutor, conseguia-me contagiar com uma estranha sensação de tranquilidade e bem-estar. Mais velho do que eu, entrava no gabinete a baloiçar-se como se um fosse um pato; as artroses das anc...
"- Olhai para todas vós. Discutis como mulheres livres – sem sequer sonharem que a liberdade está na base das vossas opções. E se fôsseis escravas?"