Em termos biológicos quanto maior for a diversidade de uma espécie maior é a garantia da sua perpetuação. Uma regra observada por tudo quanto é sítio; regra a que os seres humanos também estão sujeitos. Em termos culturais e ideológicos, características intrínsecas à nossa espécie, também somos muito diferentes uns dos outros, e ainda bem, porque, teoricamente, do confronto das ideias e rumos a propor podem surgir novos paradigmas e serem encontradas soluções para muitos dos nossos males, isto se o confronto se realizar com base em certos princípios, nomeadamente respeito e tolerância. Não é o que vislumbro, o que não é de admirar, basta para o efeito olhar para o passado e verificar que os fenómenos de intolerância e de agressividade são das mais poderosas constantes da humanidade, a fazer inveja a outras que são utilizadas, à falta de melhor, para explicar o funcionamento do universo. Olhamos para as notícias e o que é que vemos? Decisões tomadas num determinado sentido começam, ao fim de algum tempo, a ser contestadas para que tudo regresse à primeira forma, porque as mesmas não são percecionadas com o mesmo valor por todas as pessoas. Devido à forma como as lutas ideológicas, ou melhor, doutrinais se processam na nossa sociedade é fácil de verificar uma agressividade exagerada, um autêntico proselitismo e uma intolerância a raiar a patologia que me leva a pensar se é benéfico para todos nós, isto porque dos debates a que tenho assistido, os protagonistas dos mesmos são totalmente insensíveis a qualquer mudança, "entram" com uma ideia e emergem com a mesma, mas reforçada. Não convencem e nem querem ser convencidos, quanto aos outros, os que assistem ou leem, a maioria procura apenas o grupo que lhe poderá ser mais útil para satisfazer as suas necessidades, facilitar a progressão social e alcançar o poder, seja qual for o tipo de poder, que é sempre bem-vindo, porque isto de viver é muito complicado e custa muito. Sendo assim, poderemos, por analogia, afirmar que a espécie humana, em termos biológicos, caracteriza-se por uma franca e respeitável biodiversidade, permitindo o cruzamento entre os seus representantes, que é a base da definição de uma espécie, mas, sob o ponto de vista cultural, ou melhor, doutrinário, os humanos comportam-se como se pertencessem a espécies diferentes e, deste modo, nunca conseguirão "miscigenar-se", pelo que farão tudo para imporem as suas vontades de forma mais ou menos violenta sobre os opositores. O que estamos a observar no momento presente, de grave crise económica, social e de valores, é precisamente o ressurgir de velhas/novas ideologias com o objetivo de tomarem conta dos "outros", os "desencaminhados" de uma qualquer ordem, através do cerceamento da liberdade de pensar e a imposição de regras e normas próprias da sua "espécie". Irão conseguir? Temo que sim, embora haja sempre pequenas bolsas de resistência que, mais uma vez, terão oportunidade para repor alguma normalidade neste estranho planeta.
Mas começa a cansar, e muito.
Comentários
Enviar um comentário