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Pera

Talvez por ter comido uma suculenta pera, lembrei-me de uma frase de um grande escritor português que considera que, para si, escrever é como uma pereira a dar peras. Mas há quem tenha o condão de pertencer a uma espécie e dar frutos de outra, o que é mais aliciante, porque é entrar no reino da fantasia ou da loucura, tanto faz, sempre é melhor do que enfrentar a realidade do quotidiano. Há, também, os que escrevem, não para dar peras, mas, para fugir, para atemorizar, para amar, para ofender, para criticar, para matar, para salvar, para se entreter, para seduzir, para enganar os outros ou a si próprio e para enlouquecer. Estes últimos não são comuns, talvez porque escondem os seus escritos ou por terem ainda algum resto de consciência de que podem contaminar os outros. Um louco não gosta que o imitem, quer o mundo só para si, o que não é difícil, porque sabe construí-lo à sua maneira. E fazem muito bem, pelo menos não tem que aturar a estupidez dos normais, que é incomodativa, sufocante e perfeitamente estéril.

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Fugir

Tenho que fugir à rotina. A que me persegue corrói-me a alma e destrói a vontade de saborear o sol e de me apaixonar pela noite.  Tenho que fugir à vontade de partilhar o que sinto. Não serve para grande coisa, a não ser para avivar as feridas. Tenho que fugir à vontade de contar o que desejava. Não quero incomodar ninguém. Tenho que fugir de mim próprio. Dói ter que viver com o que escrevo.

Nossa Senhora da Tosse

Acabei de almoçar e pensei dar a tradicional volta. Hoje tem de ser mais pequena para compensar a do dia anterior. Destino? Não tracei. O habitual. O melhor destino é quando se anda à deriva falando ao mesmo tempo. Quanto mais interessante for a conversa menos hipótese se tem de desenhar qualquer mapa. Andei por locais mais do que conhecidos e deixei-me embalar por cortadas inesperadas. Para quê? Para esbarrar em coisas desconhecidas. O que é que eu faço com coisas novas e inesperadas? Embebedo-me. Inspiro o ar, a informação, a descoberta, a emoção, tudo o que conseguir ver, ouvir, sentir e especular. Depois fico com interessantes pontos de partida para pensar, falar e criar. Uma espécie de arqueologia ambulatória em que o destino é senhor de tudo, até do meu pensar. Andámos e falámos. Passámos por locais mais do que conhecidos; velhas casas, cada vez mais decrépitas, rochas adormecidas desde o tempo de Adão e Eva, rios enxutos devido à seca e almas vivas espelhadas nos camp...

"Salvem todos"...

Tenho que confessar, não consigo deixar de pensar nos jovens aprisionados na caverna tailandesa. Estou permanentemente à procura de notícias e evolução dos acontecimentos. Tantas pessoas preocupadas com os jovens. Uma perfeita manifestação de humanidade. O envolvimento e a necessidade de ajudar os nossos semelhantes, independentemente de tudo, constitui a única e gratificante medida da nossa condição humana. Estas atitudes, e exemplos, são uma garantia que me obriga a acreditar na minha espécie. Eu preciso de acreditar. Não invoco Deus por motivos óbvios. Invoco e imploro que os representantes da minha espécie façam o que tenham a fazer para honrar e dignificar a nossa condição. Salvem todos, porque ao salvá-los também ajudam a salvar cada um de nós.