Avançar para o conteúdo principal

Afinal "estão ali", ou estavam!



Em miúdo comecei a ouvir que havia ovnis. Pedi algumas explicações sobre o tema; disseram-me que eram seres de outros planetas que vinham até nós em discos voadoras. Que aspeto é que têm, como falam e onde é que vivem foram algumas perguntas que não deixei de formular. Apontavam para a Lua e diziam-me que viviam lá seres muito estranhos. Eu acreditei, e comecei a passar horas, sobretudo durante a lua cheia, para ver se via algum. Depois foi Marte e até Vénus como sendo os locais de onde eles provinham. Eu lia banda desenhada e muitas das aventuras tinham a ver com seres muito esquisitos daqueles planetas. Eu acreditei. Um pouco mais tarde, não muito, ficava de ouvido atento ao rádio à espera de comunicados de outros mundos. Como tinha ouvido falar nisso, aproveitei as ondas curtas para ver se seria o primeiro humano a entrar em contacto com outros seres. Nada, só aqueles estranhos ruídos próprios das ondas curtas. Desisti. No entanto, continuei a alimentar esperança de que um dia seria capaz de ver e ouvir outras formas de vida. Desisti. Desisti porque ouvi pessoas credenciadas a explicar que seria muito improvável a possibilidade de alguém viajar mecanicamente mesmo que não vivessem muito longe de nós. Mas nunca deixei de alimentar a ideia de que algures deverá haver vida, apesar do ceticismo de Fermi quando desceu as escadas do seu escritório em Los Angeles e perguntou aos colegas: - "Onde estão eles? Onde estão eles?" Esta pergunta ficou famosa já que se referia aos extraterrestres. Fermi estava muito irritado por se sentir sozinho no universo.
As descobertas científicas, que têm revelado sistemas solares e planetas que nunca mais acabam, não deixam de apontar para a existência, em alguns deles, de condições que possam permitir outras formas de vida. 
Estas descobertas enchem-me as medidas. O investimento na procura de sinais extraterrestres, sempre à procura de vida, alicia-me e conforta-me, porque constitui um sinal de esperança. Em Marte, o Curiosity, que anda a fazer das suas, deve ter descoberto algo interessante, criando expectativas, porque, segundo um cientista, irá ser revelado em breve algo que fará história. Não se sabe o que é, nada que tenha a ver com vida propriamente dita de acordo com alguns estudiosos da matéria. Seja o que for, necessitamos com urgência que se descubra algo que prove a existência de vida extraterrestre, por muitas razões, mas há duas que me tocam particularmente, satisfazer um desejo de infância, quando acreditava em seres de outros planetas, e tentar desviar a minha atenção para fora deste estranho planeta. Por mais voltas que dê não consigo encontrar soluções para velhos e novos problemas que afligem a humanidade de forma continuada. Apesar de alguns momentos agradáveis, o homem não é de confiar, quer com religião, quer sem religião, quer com normas e condutas ou mesmo sem elas. O planeta atrofia-se a olhos vistos. Uns sentem um aperto na garganta, outros na barriga, outros no coração e a maioria na alma. Nada a fazer. Se encontrassem fosse o que fosse sempre seria um sinal de que não estaríamos sozinhos e que poderíamos aprender a ser menos humanos e mais extraterrestres, porque não acredito que tenham aqueles aspetos diabólicos e comportamentos hediondos que muitos descrevem nos livros e filmes. Quem os descreve desta forma fazem-no porque estão a colocar nos seus perfis o pior da nossa espécie, mas não deverão ter comportamentos tão indignos, porque à escala universal já chega o que se passa neste calhau de loucos.
Era tão bom, seria uma verdadeira fonte de esperança se daqui a uns dias dissessem algo que tivesse a ver direta ou indiretamente com a vida. 
Nada seria como antes. Afinal "estão ali", ou estavam!

Comentários

Mensagens populares deste blogue

Fugir

Tenho que fugir à rotina. A que me persegue corrói-me a alma e destrói a vontade de saborear o sol e de me apaixonar pela noite.  Tenho que fugir à vontade de partilhar o que sinto. Não serve para grande coisa, a não ser para avivar as feridas. Tenho que fugir à vontade de contar o que desejava. Não quero incomodar ninguém. Tenho que fugir de mim próprio. Dói ter que viver com o que escrevo.

Nossa Senhora da Tosse

Acabei de almoçar e pensei dar a tradicional volta. Hoje tem de ser mais pequena para compensar a do dia anterior. Destino? Não tracei. O habitual. O melhor destino é quando se anda à deriva falando ao mesmo tempo. Quanto mais interessante for a conversa menos hipótese se tem de desenhar qualquer mapa. Andei por locais mais do que conhecidos e deixei-me embalar por cortadas inesperadas. Para quê? Para esbarrar em coisas desconhecidas. O que é que eu faço com coisas novas e inesperadas? Embebedo-me. Inspiro o ar, a informação, a descoberta, a emoção, tudo o que conseguir ver, ouvir, sentir e especular. Depois fico com interessantes pontos de partida para pensar, falar e criar. Uma espécie de arqueologia ambulatória em que o destino é senhor de tudo, até do meu pensar. Andámos e falámos. Passámos por locais mais do que conhecidos; velhas casas, cada vez mais decrépitas, rochas adormecidas desde o tempo de Adão e Eva, rios enxutos devido à seca e almas vivas espelhadas nos camp...

Guerra da Flandres...

Exmo. Senhor Presidente da Câmara Municipal de Santa Comba Dão. Exmas autoridades. Caros concidadãos e concidadãs. Hoje, Dia de Portugal, vou usar da palavra na dupla qualidade de cidadão e de Presidente da Assembleia Municipal. Palavra. A palavra está associada ao nascer do homem, a palavra vive com o homem, mas a palavra não morre com o homem. A palavra, na sua expressão oral, escrita ou no silêncio do pensamento, representa aquilo que interpreto como sendo a verdadeira essência da alma. A alma existe graças à palavra. A palavra é o seu corpo, é a forma que encontro para lhe dar vida. Hoje, vou utilizá-la para ressuscitar no nosso ideário corpos violentados pela guerra, buscando-os a um passado um pouco longínquo, trazendo-os à nossa presença para que possam conviver connosco, partilhando ideias, valores, dores, sofrimentos e, também, alegrias nunca vividas. Quando somos pequenos vamos lentamente percebendo o sentido das palavras, umas vezes é fácil, mas outr...