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"Pernas esculturais"

E se de repente uma estátua grega ganhasse vida? Aparecia um ser irreal, algo que nunca a natureza conseguiu produzir. Os escultores que as fizeram sabiam o que faziam, ou seja, criavam figuras perfeitas, as mais parecidas com os seres humanos, mas eram seres irreais. Sabiam encontrar as proporções exatas através das quais estimulavam, e continuam a estimular, os nossos centros cerebrais sensíveis à beleza, à estética. Sabiam de "neurofisiologia da arte", muito tempo antes de cientificamente se verificar a produção de substâncias cerebrais que nos dão prazer. O cérebro humano é sensível a constantes fibonaccianas, ou a outras que tais, e quando se confronta com tais regras, começa a produzir endogenamente substâncias relacionadas com o prazer e a tranquilidade. Esses centros localizam-se no córtex pré-frontal, o nosso mais recente cérebro. O último dos cérebros a desenvolver-se e, frequentemente, o primeiro a envelhecer e a desaparecer. Esta breve reflexão foi motivada por uma notícia segundo a qual cirurgiões plásticos conseguiram definir as regras das pernas esculturais. Achei curioso este interesse que exigiu doze anos de pesquisa. Estudaram estátuas gregas, trabalhos de da Vinci, fotos de modelos, de atletas, e até Barbies. Concluíram que pernas esculturais revelam ao mesmo tempo fragilidade e força. Vejamos as conclusões destes cientistas que andaram à procura de um modelo estético ideal com objetivos de cirurgia plástica. Ossos direitos, uma linha que vai do topo da coxa, passando pelo meio do joelho e meio do tornozelo. Mas não chega, é preciso mais. A parte interna tem de ter uma curva curta, convexa, bem definida, seguida de uma curva côncava à medida que desce para o tornozelo. A parte externa tem de apresentar uma curva convexa longa e suave. Não pode haver simetria entre as curvas da parte interna e externa da perna. Para finalizar, tornozelos altos tornam as pernas mais atraentes porque ao elevá-las aumentam a convexidade dos músculos superiores da barriga da perna, fazendo com que os tornozelos pareçam mais finos e consequentemente mais frágeis e femininos. Eis o resultado de mais de dez anos de investigação. Por mim tudo bem. Só pergunto uma coisa, foram precisos doze anos para chegar a estas conclusões? Hum! Às tantas foi um bom pretexto para andar a ver pernas esculturais. Os seus cérebros foram de tal modo estimulados em termos de neuroaminas, das que provocam prazer, que deverão ter criado uma nova forma de dependência, a "cruramania".

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