Avançar para o conteúdo principal

Convite

Quando recebi o convite para participar na cerimónia engendrei de imediato um conjunto de medidas de forma a não faltar, inclusive abdicar de projetos já desenhados.
Fui de véspera, não fosse o diabo tecê-las. Levantei-me cedo e aprimorei a aparência. O fato, bonito, encantou-me pelo facto de não refilar minimamente às constantes alterações das fronteiras do corpo. Mas também me fez recordar que há momentos solenes que exigem respeito por um protocolo que pode valer o que vale, mas, simbolicamente, é precioso e dá a entender, sem palavras, a importância de um ato.
Assisti como um cidadão normal. Recordei o passado, a mesma data, em anos diferentes, e muitos significados associados ao evento.
O ritualismo é estranho porque fala em voz alta mesmo quando estamos em silêncio. É possível comunicar uns com os outros e criar um espaço em que cada um, com as suas características e idiossincrasias, pode, e deve, contribuir para a identidade comunitária. Sem essa identidade não há criação de valores e transmissão de princípios.
Com base neste pressuposto, e devido ao facto de ter representado durante alguns anos os munícipes do meu concelho, participei com satisfação e, sobretudo, manifestei o meu mais profundo respeito pelo cargo em que fui investido por vontade popular.
Durante a cerimónia de homenagem aos cidadãos que iniciaram o processo de como saber viver em liberdade estive atento a muitos pormenores e a pequenos detalhes. Pessoas que muitos dos presentes desconheciam, ou já não se recordavam, torcidas pelo efeito do tempo ou revividos pela frescura dos seus descendentes, revelavam não só orgulho mas a satisfação de serem recompensados. A simples enunciação dos seus nomes somada ao brilho no olhar, quando analisavam a medalha comemorativa, traduzem, a meu ver, que o ser humano é sensível a pequenos gestos e atenções. O respeito e o reconhecimento por parte da sociedade enobrece quem é homenageado e quem homenageia, contribuindo para uma sociedade mais justa, mais equilibrada e mais humana.
Afinal de contas é muito simples lidar com os nossos concidadãos, basta respeitá-los e não os esquecer. Uma palavra, um abraço, uma simples medalha, conseguem aquecer e fazer brilhar a alma do mais simples ser humano.
Agradeço o convite institucional e, também, as palavras amáveis por parte do responsável da sessão que, em privado, agradeceu a minha presença.
- Não podia deixar de estar presente. É uma honra e um privilégio.

Mensagens populares deste blogue

Fugir

Tenho que fugir à rotina. A que me persegue corrói-me a alma e destrói a vontade de saborear o sol e de me apaixonar pela noite.  Tenho que fugir à vontade de partilhar o que sinto. Não serve para grande coisa, a não ser para avivar as feridas. Tenho que fugir à vontade de contar o que desejava. Não quero incomodar ninguém. Tenho que fugir de mim próprio. Dói ter que viver com o que escrevo.

Nossa Senhora da Tosse

Acabei de almoçar e pensei dar a tradicional volta. Hoje tem de ser mais pequena para compensar a do dia anterior. Destino? Não tracei. O habitual. O melhor destino é quando se anda à deriva falando ao mesmo tempo. Quanto mais interessante for a conversa menos hipótese se tem de desenhar qualquer mapa. Andei por locais mais do que conhecidos e deixei-me embalar por cortadas inesperadas. Para quê? Para esbarrar em coisas desconhecidas. O que é que eu faço com coisas novas e inesperadas? Embebedo-me. Inspiro o ar, a informação, a descoberta, a emoção, tudo o que conseguir ver, ouvir, sentir e especular. Depois fico com interessantes pontos de partida para pensar, falar e criar. Uma espécie de arqueologia ambulatória em que o destino é senhor de tudo, até do meu pensar. Andámos e falámos. Passámos por locais mais do que conhecidos; velhas casas, cada vez mais decrépitas, rochas adormecidas desde o tempo de Adão e Eva, rios enxutos devido à seca e almas vivas espelhadas nos camp...

"Salvem todos"...

Tenho que confessar, não consigo deixar de pensar nos jovens aprisionados na caverna tailandesa. Estou permanentemente à procura de notícias e evolução dos acontecimentos. Tantas pessoas preocupadas com os jovens. Uma perfeita manifestação de humanidade. O envolvimento e a necessidade de ajudar os nossos semelhantes, independentemente de tudo, constitui a única e gratificante medida da nossa condição humana. Estas atitudes, e exemplos, são uma garantia que me obriga a acreditar na minha espécie. Eu preciso de acreditar. Não invoco Deus por motivos óbvios. Invoco e imploro que os representantes da minha espécie façam o que tenham a fazer para honrar e dignificar a nossa condição. Salvem todos, porque ao salvá-los também ajudam a salvar cada um de nós.