Discriminação


Mais um caso a despertar a atenção para as consequências das intervenções médicas. Salvar uma vida é um hino de amor, mas por vezes o doente não agradece, não pode agradecer, nem quer agradecer, porque a vida que lhe devolveram não tem nada, rigorosamente nada a ver com as expectativas de quem sofreu um acidente ou doença grave.
Um engenheiro inglês, Tony Nicklinson, sofreu há anos um problema grave tendo ficado paralisado, totalmente incapacitado, apenas pode pensar. Não tem autonomia, e só com ajuda consegue comunicar.
Desde 2007 que pretende ter o direito a suicidar-se e começou a lutar para isso. Não quer dizer que o faça hoje, ou amanhã, mas quer que lhe concedam esse direito, porque sozinho não consegue. Considera que a lei discrimina os incapacitados físicos ao não permitir fazer algo que qualquer um pode fazer, deixar de viver.
O caso foi parar ao tribunal que começou a estudá-lo. Escravo das tecnologias e dos cuidados ultraespecializados, afirma que os "políticos são uns cobardes". A lei britânica proíbe ajuda ao suicídio. O inglês não tem dez mil libras para ir à Suíça resolver o seu problema, e, também, não tem vontade de suicidar-se numa cooperativa ou unidade industrial criada para o efeito, caso da Dignitas. Se lhe apetecer suicidar-se, o que só poderá fazer com ajuda, quer fazê-lo na sua terra. Também já lhe passou pela cabeça morrer à fome, mas é muito chocante, e, além disso, tem o direito de fazer algo menos traumatizante e mais rápido.
Esta luta, não é só de Tony Nicklinson, há tempos o galego Ramon Sampedro, tetraplégico, conseguiu almejar a liberdade com a ajuda de terceiros.
É preciso coragem política para casos como estes, que são, muitas vezes, frutos de um encarniçamento terapêutico que ofende a vida e protela a liberdade pela morte.
Os opositores a estas medidas dispõem de argumentos próprios, invocando conceitos e princípios religiosos para explicar o "sofrimento" dos seres humanos, como se fosse um desejo oculto e não explicável de um deus que se "entretém", através da medicina, a criar situações que noutros tempos nunca se equacionaria.
Nicklinson deseja apenas que lhe seja reconhecido o direito a poder suicidar-se com a ajuda de terceiros. Para quê? Para poder libertar-se da prisão em que o colocaram.

Comentários

  1. Existe maior pena do que colocar termo à sua vida!! Creio que não e para factos semelhantes a liberdade de escolha terá que ser preservada. Eu próprio acredito em outras vidas para além da actual...quem sabe, se não será uma porta para uma verdadeira liberdade para o Sr. Nicklinson!! Será que nesta fase, a Morte, aos olhos do Sr. Nicklison, terá a mesma interpretação do que em relação ao que as outras pessoas olham?
    Creio que o Sr. Nicklison está a muitos degraus acima do que é racional. O seu estado de espirito encontra-se muito elevado, a sua auto-estima, autoconfiança e acima de tudo o valor que atribui à sua própria dignidade humana!!

    ResponderEliminar

Enviar um comentário

Mensagens populares deste blogue

Fugir

Nossa Senhora da Tosse

Coletânea II